Queda no Dilúvio
Morte em arroio reabre debate sobre guard-rail na Avenida Ipiranga
Uso de proteções na via divide opiniões entre especialistas e EPTC
A morte de um jovem de 23 anos após o carro que ele dirigia cair no Arroio Dilúvio, que corta a Avenida Ipiranga, na Capital, reabriu o debate em torno da segurança da via. Na média dos últimos cinco anos, um veículo a cada seis semanas cai no riacho, mas esta é a segunda vez que a queda termina em morte nesse período.
Na manhã deste domingo, o Celta com placa de Canoas tombou enquanto descia a Avenida Salvador França em direção ao Centro. O motorista Heurid Teixeira Silveira, 23 anos, que era sargento do Exército em Nova Santa Rita, foi levado para o Hospital de Pronto Socorro, mas não resistiu aos ferimentos. Outros dois homens estavam no veículo e não se feriram.
- Temos de aguardar a perícia para tomar uma medida, se for identificada alguma causa externa ao comportamento do motorista - afirma o diretor-presidente Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari.
O perito Clovis Xerxenevsky, que atuou no Instituto Geral de Perícias (IGP), insiste que guard-rails evitariam mortes.
- Pode ter elementos de imprudência, mas, com as defensas metálicas, seria um caso apenas de danos materias - opina.
Professor de trânsito no curso de Engenharia Civil da Unisinos, João Hermes Junqueira, discorda. Para ele, todo o aparato de segurança é pouco se o motorista age com imprudência.
- O uso de guard-rails em toda a via me parece exagerado. Temos de agir de maneira mais educativa - defende.
O perito de trânsito Walter Kauffmann Neto, da ONG Alerta, ressalta que a imprudência não é a única razão para as quedas no arroio, as quais poderiam ser evitadas com barreiras metálicas.
- O asfalto da Ipiranga tem uma inclinação, que, a qualquer perda de direção, a tendência é o carro cair no riacho - observa.
A EPTC tem sido resistente à instalação de guard-rails em toda a extensão da Ipiranga, optando por fazê-lo nos locais considerados de maior perigo, como curvas e cruzamentos. A implantação de caetanos (controladores de velocidade) em cinco principais cruzamentos da avenida é vista como possível solução. A licitação dos equipamentos teve início em 2013, mas foi interrompida após uma empresa obter liminar na Justiça para ser incluída no certame. A EPTC recorreu, e aguarda decisão do Tribunal de Justiça para dar andamento ao processo.
Segundo a EPTC, de 2012 para cá, foram registradas 17 quedas de veículos no Arroio Dilúvio, sendo esta a única morte no período. Levantamento de ZH registrou 28 quedas de 2009 a 2011, com uma vítima: Airton Gomes Júnior, 20 anos, passageiro de um Fiat Uno que capotou nas proximidades da Rua Antônio Carvalho em dezembro de 2011. Em maio do mesmo ano, o motorista Luiz Carlos Correa dos Santos, 64 anos, morreu no Arroio Dilúvio perto do cruzamento das Avenidas Ipiranga e Praia de Belas, mas a suspeita é que ele tenha tido um mal súbito antes do acidente.
Três propostas
EPTC e especialistas ouvidos por ZH sinalizam para três proprostas que poderiam evitar a queda de veículos no Arroio Dilúvio.
1. Proteções metálicas
Os peritos Clovis Xerxenevsky e Walter Kauffmann Neto defendem que a instalação de guard-rails em toda a extensão da Avenida Ipiranga, a exemplo de marginais em São Paulo e Goiânia, é a melhor solução para evitar a queda de veículos no arroio, pois funcionariam como elementos de retenção.
2. Temporizadores em semáforos
Xerxenevsky acredita que o uso de temporizadores em semáforos ajudaria a controlar o excesso de velocidade nos cruzamentos com mais segurança. Diante da contagem regressiva, o motorista iria diminuindo a velocidade ao chegar perto do sinal, evitando freadas bruscas que, muitas vezes, resultam em colisões.
3. Instalação de caetanos
A EPTC pretende implantar caetanos em cinco principais cruzamentos da Ipiranga, inclusive no local onde ocorreu a morte do jovem na manhã deste domingo. A estratégia de usar controladores foi definida pelo órgão após identificar que o excesso de velocidade é a principal causa de quedas de veículos no arroio.