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Atendimento médico

Como foram as primeiras horas no Hospital da Restinga

O Diário Gaúcho acompanhou os primeiros atendimentos no novo hospital de Porto Alegre

02/07/2014 - 08h05min

Atualizada em: 02/07/2014 - 08h05min


Mateus Bruxel / Agencia RBS
O vigia desempregado AdãoOliveira Costa, 70 anos, chegou ao hospital com dores, de carona na carroça do vizinho

Aguardado pela comunidade da Zona Sul da Capital há décadas, o Hospital da Restinga e Extremo-Sul, finalmente, abriu suas portas. Os atendimentos tiveram início às 23h de segunda-feira. A reportagem do Diário Gaúcho passou oito horas dentro do hospital, entre a noite de segunda e a manhã de terça, e mostra como, mesmo em tão pouco tempo, a instituição já está fazendo a diferença na vida de muitos porto-alegrenses.

Pouco depois da 0h de ontem, de carona na carroça de um vizinho, puxada pelo cavalo Guri, chegava ao Hospital da Restinga e Extremo-Sul um de seus primeiros pacientes. Morador da Vila Castelo, o vigia desempregado Adão de Oliveira Costa, 56 anos, sentia dores pelo corpo todo.
- Escutei no rádio que o hospital ia abrir hoje e resolvi vir. Tenho gota e problemas vasculares - contou o paciente que, até então, tinha que deslocar-se até o Hospital Vila Nova, a pelo menos 12km de casa.
Pela manhã, algumas horas depois, o Diário Gaúcho flagrou Adão alimentando-se em um dos leitos de observação da sala amarela, destinada a pacientes cujo estado de saúde não configura um caso de emergência. Até o final da tarde, ele permanecia internado e seu estado era estável.

Primeiros atendimentos

Assim como Adão, pelo menos outras 170 pessoas, sendo 119 adultos e 51 crianças, procuraram o hospital recém-inaugurado em suas 17 primeiras horas de funcionamento. Inicialmente, a instituição oferece 25 leitos de emergência e 62 leitos de internação, 100% Sus.
Ainda durante a madrugada, para dar fim ao mal-estar da filha Melissa, dois anos, que estava com uma crise de bronquite, o casal Queila Rutsatz, 24 anos, e Fabiano da Silva Morais, 32 anos, da Restinga Nova, também procurou a emergência.
- Com o hospital, vai melhorar bastante para a gente. Esperamos que o atendimento seja mais rápido que no posto - observou Fabiano.
Melissa passou pela triagem, pelo médico e saiu com a receita de um remédio para solucionar o problema.

Os curiosos

Um grupo de moradores foi até o hospital, mas não sofria por nenhuma enfermidade: vizinhos da instituição, eles ignoraram a noite fria e úmida e foram dar fim à curiosidade. Pelo vidro, espiavam o movimento dos primeiros atendimentos.
- Terminou a novela e então decidi vir para verificar se era verdade que estava abrindo o nosso hospital e fui chamando a vizinhança. O sentimento é de alegria! É muito bom ver a Restinga crescer - comentou a dona de casa Maria Elisa Rodrigues, 49 anos.
Durante a noite, além do atendimento aos pacientes que chegaram espontaneamente na emergência também foi feita a transferência de seis adultos e uma criança que estavam internados no Pronto-Atendimento (PA) da Rua Álvaro Difini, que deve ser desativado gradativamente. A recomendação a quem procurar a unidade é deslocar-se até o Hospital da Restinga e Extremo-Sul.

Sistema lento

O vigia Vinícius Batista, 23 anos, foi com a esposa Idiane Barbosa, 19 anos, levar o filho Rhaynan, de um ano e 11 meses para tratar um problema na pele e reclamou a demora no atendimento na chegada à emergência.
- Não estão entendendo como operar o sistema - queixou-se.
A gerente assistencial do hospital, Andrea Volkmer, explicou que a equipe passou por treinamento, mas ainda está em adaptação ao novo sistema. Em dois ou três dias, as dificuldades de adaptação serão sanadas.

Com cara de emergência

O movimento nas primeiras horas da manhã começou calmo, depois se intensificou, como em todas as emergências de hospitais públicos da Capital. Mas com uma diferença: pela primeira vez, pacientes que durante anos cruzaram a cidade em busca de atendimento, agora eram acolhidos praticamente na porta de casa. No lado de fora, operários se apressavam para concluir a pavimentação antes da visita da presidente Dilma Rousseff, prevista inicialmente para amanhã. A data, porém, depende de sua agenda no Estado.  
O dia frio e a curiosidade dos moradores mantiveram ocupadas quase todas as cadeiras da recepção da Emergência. Teve gente que se queixou, como ocorre em qualquer órgão público, e outros que permaneceram resignados à espera da chamada para triagem e atendimento. Mas todos, sem exceção, exaltaram o serviço de qualidade à disposição de quem nunca teve nada sequer parecido na Restinga e nos bairros do Extremo-Sul (Lami, Chapéu do Sol, Belém Novo, Ponta Grossa e Lageado).

Mais perto de todos

O tratador de animais, Carlos Riegel, 52 anos, e a dona de casa, Jubira Riegel, 56 anos, levaram a tia dela, Maria Silveira de Castro, 95 anos. A idosa, que caminhava com a ajuda de uma bengala, teria passado mal e, repentinamente, parado de falar. Enquanto aguardava a chamada do médico, Carlos elogiou a nova alternativa do Sus para moradores da região.
- Precisávamos de um hospital assim há muito tempo. Antes, a gente tinha de percorrer 20km ou 30km até um hospital correndo o risco de não ter vaga. Com este aqui, acho que vai ser bem melhor - afirmou o morador do Bairro Aberta dos Morros.

Distância menor é elogiada

Residente na Lomba do Pinheiro, a comerciante Angela Borba, 39 anos, não pensou duas vezes. Quando o filho João Vitor, sete anos, começou a se queixar de forte dor abdominal, ela chamou o marido, embarcaram no carro e seguiram em direção ao novo hospital.
- A Emergência aqui é ótima e muito mais perto. Antes, levávamos ele para o São Lucas da Puc - explicou a mãe.

Um técnico em cada quarto

O superintendente executivo do Moinhos de Vento, que administrará o Hospital da Restinga, Fernando Andreatta Torelly, afirmou que um dos diferenciais do complexo hospitalar é que cada quarto contará com um técnico de enfermagem 24 horas.
- São cinco leitos em cada quarto, que terá um profissional de plantão dentro do espaço. Isso garante um atendimento rápido e evita quedas de pacientes - exemplifica.
 
Classificação de risco

A triagem dos pacientes é feita com base em cinco níveis de gravidade do estado de saúde. Cada modelo é identificado por uma cor. A escala vai da cor azul (não urgente) à vermelha (emergência, que necessita atendimento imediato).

Serviço
O hospital fica na Estrada João Antônio da Silveira, 3330, na Restinga.

É servido por três linhas de ônibus: Restinga/PUC e Linha Restinga/PUC/Cairú, das empresas STS e Unibus e, Linha A14, da empresa STS.

Primeira etapa

Nesta primeira fase, entrou em funcionamento o Pronto Atendimento adulto e pediátrico com capacidade para atender até 13 mil pessoas por mês. São 25 leitos de observação e 62 de internação. Cerca de 280 profissionais estão trabalhando. 

Estrutura completa

Quando o hospital estiver em pleno funcionamento, contará também com Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Unidade de Terapia Intensiva, Serviço de Reabilitação, Unidade de Diagnóstico, Centro de Especialidades para consultas ambulatoriais e, para a formação de recursos humanos, uma Escola de Gestão em Saúde. O Hospital terá 121 leitos de internação e 49 leitos de passagem, totalizando 170 leitos à disposição da comunidade. Ao todo serão cerca de 800 colaboradores que, preferencialmente, serão moradores da região.


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