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ERS-118 é uma via repleta de armadilhas

Três mortes em dois acidentes ocorridos nos últimos dias aumentam a sensação de insegurança em trecho esburaco e mal sinalizado. Duplicação arrasta-se a passos de tartaruga

23/07/2014 - 07h03min

Atualizada em: 23/07/2014 - 07h03min


Jeniffer Gularte
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Marcelo Oliveira / Agencia RBS

O excesso de buracos e defeitos no asfalto e a falta de sinalização adequada tornam a ERS-118 uma ameaça aos motoristas que utilizam a rodovia que liga Sapucaia do Sul a Viamão. Nos últimos dias, dois acidentes na via, que tiraram a vida de três pessoas - um ciclista, um idoso e um bebê - em menos de 24 horas são uma prova triste desta insegurança. O primeiro ocorreu na tarde de domingo e o último, na manhã de segunda-feira. Se já não bastasse, os usuários da via ainda convivem com a obra de duplicação de 22 quilômetros, entre as BR-116 e BR-290, que avança a passos lentos desde 2006.

O DG percorreu a maior parte do trajeto entre Sapucaia e Viamão, um dos mais importantes e movimentados da Região Metropolitana, e constatou as armadilhas do percurso. São calombos e desníveis da pista, crateras do tamanho da roda de um caminhão, falta de acostamento em alguns trechos e até de uma sinalização básica. Em muitos trechos, não há sequer pintura no asfalto para dividir as pistas de sentido oposto. 

Transtornos diários para motorista de ônibus

Motorista da linha TM3 - Porto Alegre/São Leopoldo - a mesma que teve um ônibus atingido por um Peugeot matando dois passageiros e deixando ao menos 17 feridos no domingo - Claudio Gomes, 46 anos, faz três viagens por dia com a linha pela ERS-118. Para ele, que até já decorou os pontos mais críticos, a rodovia está em péssimo o estado. Ele diz que "desde que se conhece por gente" a estrada está nesta situação.

Em cada sentido, a viagem com o ônibus da Viamão Transporte leva de  2h15 a 2h30. Ele conta que nunca teve problemas com a linha no trajeto, mas enumera os transtornos diários:

- O acostamento é ruim, não tem parada adequada para os passageiros e é sempre preciso reduzir a velocidade. Mas em dia de chuva é pior, porque tu não sabe o que é poça de água e o que é buraco.

Dados do Detran revelam que no ano passado, ocorreram 18 acidentes com morte no trecho Sapucaia do Sul-Viamão que passa também por Cachoeirinha, Alvorada e Gravataí. De janeiro a maio de 2013, foram 11 mortes. Neste ano, a estrada já tem pelo menos cinco vítimas de quatro acidentes. Informações do Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) aposentam que nos últimos doze meses, ocorreram 365 acidentes com danos materais, lesões corporais e morte. Só no primeiro semestre de 2014 foram 154, mais do que os 150 do mesmo período do ano passado.

Nota zero para a pista

Para o caminhoneiro Ozi Borges, 57 anos, que trafega diariamente pela ERS-118, não é possível avaliá-la de outra forma:

- Essa rodovia é nota zero. Tenho que ir devagar se não quebra todo caminhão. Ouço falar dessa duplicação há 18 anos.

Responsável pelo transporte de argamassa entre Gravataí, Viamão e Novo Hamburgo, usando a 118, contabiliza vários prejuízos no seu caminhão truck.

- Pneu e mola é o que mais arrebenta.

Devido a buraqueira e os desníveis da pista, conta que fura, em média, um pneu por semana e estoura um por mês. Neste caso, gasta R$ 1 mil cada vez que é necessário trocar. Além da perda econômica, confessa que teme acidentes mais graves.

- Medo a gente tem, mas tenho que trabalhar.

Números de 2014

154 acidentes no primeiro semestre

4 acidentes com morte

5 vítimas fatais

Como está a obra, segundo o Daer

O Daer argumenta que a duplicação dos 22 quilômetros da ERS-118 é uma obra complexa, que demanda a construção de ruas laterais e diversas obras de arte, como viadutos, galerias e passarelas. A conclusão dos viadutos Itacolomi, ERS-020/Arroio Barnabé, Rondon e Ritter dependem do término das ruas laterais ou de desvios, assim como de processos judiciais de reintegração e desapropriações.

O gerente das obras da 118, José Thadeu de Almeida, afirma que em setembro serão liberados mais 6 quilômetros de duplicação e que, até o fim de setembro, mais cinco devem ser concluídos. Também prometeu início do restauro da pista atual. Para o Daer, há sinalização de obra em todo trecho.

Famílias rejeitam aluguel social

Nas margens da ERS-118, em Sapucaia do Sul, mais de 900 famílias do Bairro Capão da Cruz precisam deixar suas casas para continuidade das obras de duplicação. Segundo o secretário de Habitação de Sapucaia, Tita Nunes, 725 já foram encaminhadas para o aluguel social. Muitas, no entanto, ainda desconfiam do benefício e se negam a sair sem ser indenizadas.

É o caso da dona de casa Terezinha Klaus, 63 anos, que há três décadas tem a rodovia como endereço.

- Se me derem uma casa, saio na mesma hora. Nunca dependi de aluguel. Não tenho da onde tirar fiador.

O filho, o pedreiro Paulo Francisco Klaus, 42 anos, vizinho da mãe, conta que a família sempre viveu com a ameaça de que um dia teria que sair em função da ampliação da pista. Agora, no entanto, percebe que não terá outro jeito, já que boa parte da vizinhança já saiu para morar com ajuda do aluguel social.

Depois de investir, terá que sair

A babá Nilva do Rosário de Freitas, 47 anos, está na mesma situação. Ela mora com a filha de 14 anos em uma casa de madeira de três peças que comprou por R$ 8 mil há três anos. Desde então, investiu construindo uma área e uma cozinha. Por isso, não se conforma em ter que deixar a casa que ampliou.

- Podem chegar e jogar uma máquina por cima da nossa casa?

Para ela, mesmo com a ajuda do aluguel social de R$ 500 teria dificuldade de encontrar fiador e pagar a calção.

Situação é provisória, garante Prefeitura

O secretário de Habitação de Sapucaia, Tita Nunes, garante que o aluguel social será provisório até que esteja concluído o loteamento para abrigar as famílias que precisaram ser removidas das margens da ERS-118. O complexo habitacional será construído na Avenida Justino Camboim, no Bairro Lomba da Palmeira. Serão 900 casas em uma área que terá posto de saúde e creche. A área, segundo ele, já foi comprada e o projeto está em fase de licenciamento. A obra será financiada com recursos tripartite, oriundos da Prefeitura, Estado e União, e deve ser concluída, de acordo com a previsão de Tita, em um ano e meio.


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