Vila Dique
Famílias da Vila Dique em Porto Alegre pedem melhorias no local
Desde a última transferência de moradores da Dique para loteamento do Bairro Rubem Berta, há dois anos, famílias que ficaram na área reivindicam melhorias nos serviços públicos. Remoção ocorrerá na metade de 2015.
Quase dois anos depois da última transferência de famílias da Vila Dique para o Conjunto Habitacional Porto Novo, no Bairro Rubem Berta, mais de 550 famílias cadastradas pelo Demhab ainda vivem na avenida de mesmo nome. E se dizem esquecidas pelo poder público. Principalmente no que diz respeito à saúde, pela falta de um posto na comunidade, entre outras necessidades. Por conta disso, foi realizado um protesto no dia 18 de julho e algumas queixas já estão sendo atendidas.
A necessidade de uma nova licitação para a obra da Quadra E (da Avenida Bernardino Silveira Amorim, 1915) atrasou o início da construção, que só ocorreu em outubro de 2013. Com isso, as famílias que passarão a morar nas 554 casas deverão fazer a mudança só na metade de 2015. Até lá, querem melhores condições na Dique.
- Aqui, à noite, é uma escuridão. Não tem uma lâmpada nos postes - reclama o comerciante Valdenir Macedo da Silva, 51 anos, o Vavá, membro da comissão de moradores formada recentemente.
A recicladora Scheila Motta da Silva, 43 anos, faz parte da comissão e lembra a principal necessidade: um posto de saúde.
- São 700 famílias sem saúde. Minha mãe tem 80 anos e não tem como ir ao posto. Antes, tinha agentes que visitavam as casas - conta Scheila.
A comerciante Vera Lúcia Fernandes, 43 anos, membro da comissão, explica:
- Tínhamos o nosso posto, o Santíssima Trindade, que foi lá para o Porto Novo. Quem é cadastrado tem que ir até lá e pegar dois ônibus - conta.
Segundo ela, há opções de postos nas vilas Floresta e Nazareth, mas nem sempre dão conta de todas as famílias da Dique. Vavá e outros vizinhos que têm carro diversas vezes já socorreram moradores que precisaram ir ao posto de saúde do Porto Novo.
A pavimentação é outra queixa recorrente - a buraqueira e o barro, que toma conta da avenida sempre que chove. Conforme a vizinhança, foi feita a colocação de saibro recentemente.
A Smov realizou a vistoria de uma equipe da Divisão de Iluminação Pública (Dip). Todas as lâmpadas queimadas ou que apresentavam problemas estavam previstas para substituição.
Faixa foi repintada
Em agosto do ano passado, o Diário Gaúcho mostrou o pedido de uma faixa de segurança no entroncamento da Avenida Dique com a Avenida das Indústrias. Em maio deste ano, o assunto foi retomado em reportagem e a EPTC prometeu pintar a faixa até o final de maio. A faixa foi pintada mas, conforme a vizinhança, apagou-se dias depois.
- Acho que foi pintada com cal - reclamou Vera.
A EPTC informou que havia pintado a faixa com a mesma tinta utilizada em toda a cidade. Mas a pintura não resistiu aos problemas de infraestrutura do entorno (como o barro acumulado pelo excesso de chuvas e o tráfego de veículos pesados). A faixa foi repintada na semana passada.
Saúde e trabalho
Quando a filha Léia das Chagas Alves, 12 anos, não está se sentindo bem, a dona de casa Nedi das Chagas Alves, 46 anos, e o esposo precisam deslocar-se com a menina no colo até a entrada da vila e, depois, pegar dois ônibus para levá-la ao posto que foi transferido para o Conjunto Habitacional Porto Novo.
Foto: Mateus Bruxel
- Minha filha não fala, não caminha, não se alimenta, depende de nós. Quando tinha o posto eu não ficava tão preocupada. Agora, se ela não está bem, temos que ir até lá - diz a dona de casa, que também tem problemas de saúde, como diabetes e hipertensão.
A gerente distrital da Região Noroeste, Humaitá, Navegantes e Ilhas, Ana Lúcia Dagord afirma que a comunidade foi informada em reunião que os postos próximos estão orientados a atender os moradores da Dique.
Desde o início do ano, está em tratativas a instalação de um contêiner que abrigará uma unidade de saúde. Mas a negociação com o dono do terreno onde seria instalado o equipamento foi encerrada por desistência do proprietário. A comunidade indicou outros três terrenos, que serão avaliados por engenheiros (o local deve ser plano, com água e luz).
O contêiner, alugado pela prefeitura, terá a estrutura necessária para abertura de um consultório médico. Com o posto montado, será possível retomar as atividades da equipe de saúde da família. Não há previsão para instalação do contêiner.
E as famílias recém-formadas?
A demora pela remoção - as famílias deveriam ter saído na última transferência, em agosto de 2012 - trouxe outras inseguranças. Filhos de cadastrados que já formaram suas próprias famílias, por exemplo, temem não ser contemplados na transferência.
Outra apreensão diz respeito ao trabalho.
Fernando Silva de Oliveira, 29 anos, por exemplo, comercializa caixas de madeira para frutas e verduras. Com a saída, sabe que não poderá continuar com a atividade pela falta de espaço.
- Não sei o que vai ser. Agora está nas mãos deles.
Grande parte dos remanescentes trabalha com reciclagem. A comissão questiona a estrutura da unidade de triagem do Porto Novo que, segundo eles, não seria suficiente para empregar as famílias que estão por chegar.
Reuniões mensais
O diretor-adjunto do Demhab, Marcos Botelho contesta a fala dos moradores da Dique. Segundo ele, são realizadas reuniões mensais para informar sobre o andamento da obra e outros detalhes.
Marcos explica que as famílias cadastradas deverão ir para as novas moradias até a metade de 2015. Até 90 casas serão reservadas aos filhos dos cadastrados originais que constituíram famílias (durante a espera pela remoção). A decisão sobre quais dessas famílias serão contempladas será tomada entre a comunidade e o Demhab. Quanto às famílias não cadastradas excedentes, terão que reivindicar a moradia por meio do Orçamento Participativo.
Sobre a unidade de triagem instalada no loteamento foi construída para abranger toda a comunidade que trabalha com reciclagem.
Números
* Já foram transferidas 922 famílias da Vila Dique para o Porto Novo entre outubro de 2009 a agosto de 2012.
* Em 21 de janeiro de 2011, o município entregou, oficialmente, ao governo do Estado, a área destinada à ampliação da pista do aeroporto. No mesmo ato, o governo do Estado repassou-a à Infraero.