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Meio ambiente

Lixo é ouro na maior usina de reciclagem de Porto Alegre

Saiba como é a rotina de trabalho na Associação de Triagem de Resíduos Sólidos e Domiciliares da Lomba do Pinheiro

12/08/2014 - 07h02min

Atualizada em: 12/08/2014 - 07h02min


Mateus Bruxel
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Única especializada em compostagem na Capital, a Associação de Triagem de Resíduos Sólidos e Domiciliares da Lomba do Pinheiro, no bairro de mesmo nome, na Zona Leste, é também a maior entre as 17 unidades de triagem (UT) conveniadas com o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Dmlu). São cem associados atuando na seleção, preparação e reaproveitamento das mais de cem toneladas de lixos seco e orgânico despejadas diariamente nas duas esteiras.

Há 14 anos, a rotina dos recicladores da UTC não muda: de segunda a sábado, das 7h às 15h, são os responsáveis por meterem as mãos onde boa parte da população evita se aproximar. Para eles, lixo é como ouro. Afinal, os resíduos separados pela população transformam-se em renda para centenas de famílias. E o melhor, ajudam na preservação do meio ambiente.
O Diário Gaúcho acompanhou um dia de trabalho na Associação para mostrar quem são estes mestres na reciclagem.

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Hora do café

A partir das 5h30min, um ônibus alugado pela associação fica encarregado de buscar os funcionários nas vilas espalhadas pelo Bairro Lomba do Pinheiro. São cerca de 10km de trajeto. Diariamente, a cem metros da entrada da UTC, os homens descem num mercado para comprar os pães que serão degustados antes do início da jornada.
Ainda é noite quando os dez  as mulheres desembarcam direto no refeitório e são recebidas pelos cerca de dez vira-latas moradores do terreno. Entre elas, a coordenadora da cozinha, Maria Helena da Silva, 52 anos, responsável por aquecer os cinco litros de leite e outros cinco de café.

- Fiquei na esteira por dois anos. Mas mudei de função quando descobriram que eu cozinhava bem. Já são 12 anos e adoro trabalhar aqui - conta Maria Helena, enquanto coloca o feijão no fogo para o almoço.

O mais experiente

Ferreiro aposentado, Juarez Franco de Carvalho, 65 anos, decidiu trabalhar com reciclagem para aumentar a renda. É o mais antigo funcionário da UTC, está desde o início, e também o mais pontual. Nunca faltou ao trabalho. Todos os dias, acorda por volta das 4h30min e antes das 5h40min já está na parada aguardando o ônibus.
Hoje, é o responsável pela equipe das prensas. Mas não é difícil encontrá-lo circulando pela área da esteira à procura de material para completar o que está sendo prensado.

- Este é um trabalho como qualquer outro. Por isso, tento fazer o melhor possível - conta.

Mensagem de estímulo

O quadro pendurado na área das prensas serve como motivador diário de quem atua na função. A cada manhã, uma nova mensagem é escrita pelo ex-ambulante Jackson da Silva, 30 anos, que atua no transporte interno do material. E se ele não a escreve, recebe bronca dos colegas.

- Queria fazer algo para ficar, para fazer bem aos outros. Problemas todos têm, mas não podem ser obstáculo para trabalharmos com alegria. As frases ajudam no nosso trabalho - acredita, orgulhoso.

"Malão" não dá moleza

Ele não para um segundo, circula por todas as áreas o tempo inteiro. E por esta rotina, o coordenador Luis Fernando Oliveira da Silva, 36 anos, ganhou um curioso apelido de "Malão".
- Sou o mala, o que cobra, o que organiza. Mas levo na brincadeira e já me apresento pelo apelido - conta aos risos.

Apesar de ser responsável apenas pela orientação nas áreas, Malão também pega no ancinho para arrastar os resíduos quando a esteira para de funcionar.
- Adoro trabalhar aqui e não me vejo em outro lugar - reforça.

Sorriso na esteira

Enquanto os homens lidam na prensa, onde um fardo de plástico pode pesar 300 quilos, as mulheres da UTC são as responsáveis pelas duas esteiras, pelas quais passam diariamente cem toneladas diárias de resíduos orgânico e seco.
De cada lado, quatro pessoas são responsáveis por rasgar os sacos. Outras 36 ficam divididas na seleção. Um rádio, sintonizado nos ritmos sertanejo, rock, samba e pagode, dita o ritmo que movimenta os trabalhadores durante o turno de oito horas. Cabelos bem penteados e sorrisos largos destacam as vaidosas recicladoras.

- Isso aqui não é um lixão, somos responsáveis e temos consciência de que o nosso trabalho é importante para o meio ambiente. Por isso, trabalho feliz - justifica Letícia Regina Alves Braga, 31 anos, há oito na função.

Dinheiro no lixo

Brincos, correntes e aneis brilhantes são marcas registradas da segunda coordenadora-geral Zuleika da Silva, 49 anos, a mais comunicativa entre os associados. Distribuindo sorrisos no escritório do galpão, Zuleika é quem mais recebe presente dos colegas. Os mimos são tirados das próprias esteiras.
O maior presente de Zuleika veio de uma delas, e foi encontrado por um dos filhos: R$ 42 mil, embalados num saco plástico. Foi em 2009.

- Ele enlouqueceu de felicidade. Com o dinheiro, me deu uma casa de presente. Eu não quis sair do emprego porque sou feliz no meu trabalho - afirma.

Lixo é ouro

Pelas esteiras passam perfumes, maquiagens, ventiladores, computadores, celulares, roupas e calçados em ótimo estado. Conforme a primeira coordenadora-geral Lidiane de Jesus, 31 anos, que trabalhou na esteira por quatro anos, é comum os trabalhadores enfeitarem as casas com o que é tirado do lixo. A procura por emprego na UTC é grande. Hoje, há 200 nomes na lista de espera por uma vaga. Lidiane, orgulhosa da função, revela que todas as conquistas dela vieram da reciclagem.

- Não tenho vergonha de trabalhar aqui. Pelo contrário, construí minha casa, crio os meus filhos e comprei um carrinho com o dinheiro daqui. O lixo é uma mina de ouro. Quem não sabe é uma mina de ouro. E o que vai de lixo fora, né?

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A coleta em Porto Alegre

Coleta Automatizada (lixo orgânico)
É realizada, desde julho de 2011, com contêineres em cinco bairros inteiros (Centro Histórco, Bom Fim, Cidade Baixa, Independência e Farroupilha) e em partes de outros oito bairros (Praia de Belas, Menino Deus, Azenha, Santana, Rio Branco, Santa Cecília, Moinhos de Vento e Floresta). Resíduos que devem ser colocados nos contêineres: cascas e restos de frutas e legumes, sobras de comida, papel higiênico e fraldas descartáveis usados, guardanapo e toalha de papel sujos, plantas, restos de podas e varrição, pó de café e erva-mate.

Coleta Domiciliar (lixo orgânico)
Três vezes por semana no restante da cidade (fora da área de contêineres). Só nas principais avenidas ela ocorre de segunda a sábado. Devem ser encaminhados à coleta domiciliar resíduos basicamente orgânicos como cascas e restos de frutas e legumes, sobras de comida, papel higiênico e fraldas descartáveis usados, guardanapo e toalha de papel sujos, plantas, restos de podas e varrição, pó de café e erva-mate.

Coleta Seletiva   (lixo seco, reciclável)
Três vezes por semana no Centro Histórico e duas vezes por semana no restante da cidade. Recolhe resíduos recicláveis e reaproveitáveis como papéis (sem gordura), papelão, latas de alumínio, isopor,  plásticos, metais, vidros e embalagens longa vida. E distribui tudo isso entre as unidades de triagem conveniadas com o DMLU.

Unidades de Triagem

Os caminhões coletam os resíduos recicláveis em 100% dos bairros e os encaminham para as  unidades de triagem (UT) conveniadas.

Os trabalhadores fazem a separação (plásticos, papel, embalagens longa vida, vidro, isopor, garrafas plásticas), prensam, agrupam em fardos e negociam a venda desses materiais para a indústria de reciclagem e/ou reaproveitamento.

A prefeitura fornece toda a infraestrutura para as UTs e garante o custeio de manutenção com R$ 2.500 por mês.

O resultado da comercialização dos resíduos é dividido entre os integrantes das associações ou cooperativas que gerem cada UT.


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