Hospital da Criança Conceição
Alpinistas vestidos de super-heróis fizeram a alegria das crianças no Hospital Conceição
Cerca de 50 crianças receberam visitas superpoderosas na última quinta-feira para combater a dor e o abatimento
Eles lutam contra o mal. E o inimigo, neste caso, são diversas doenças que tiram o sorriso do rosto das crianças e fazem com que elas precisem ficar internadas no Hospital da Criança Conceição (HCC), na Capital. Na última quinta, dois super-heróis foram chamados para combater a dor, o abatimento, e dar superpoderes para cerca de 50 crianças. O soro virou a "fórmula dos superpoderes" e a mamadeira foi transformada na "supervitamina".
Pelas janelas, os pacientes que tiveram condições acompanharam cheios de expectativa a chegada do Homem-Aranha e do Homem de Ferro (encarnados pelo alpinista e empresário Américo Jacy, 33 anos, e pelo bombeiro Mauro Carvalho, 33 anos, respectivamente) num acesso por corda, em plena fachada do hospital. Para entrar no clima de aventura, todas as crianças vestiam capas vermelhas.
- Ele está descendo! É o Homem de Ferro! - disse Mariana Robaina Soares, 13 anos.
Entre as constantes internações, esta, que já dura dois meses, será lembrada com alegria. A menina é de Cachoeira do Sul e trata de uma doença inflamatória no intestino. Quando o Homem de Ferro desceu pela corda na altura da janela, Mariana ganhou um aperto de mão e ouviu o herói de pertinho.
- Oi, crianças! Tudo bem? - disse o Homem de Ferro.
Dupla distribuiu presentes
Depois da descida, a dupla superpoderosa passou pelos quartos e distribuiu presentes, livros e lápis de cor.
De acordo com o psicopedagogo do HCC, Sérgio Dório, este tipo de atividade, inédita no hospital, é um instrumento terapêutico de enfrentamento da internação.
- A internação é sempre um marco na vida da criança. Ela sai do núcleo familiar, da escola, dos amigos e vem para um lugar com regras, com alimentação diferente. E tem o medo e a mística que envolvem o hospital. O herói é o cara que vem de fora para ajudar - explica.
A ação faz parte do projeto Liga da Esperança HCC e foi organizada pelo Coletivo Centésimo, com a participação da ong Viver de Rir (que atua no hospital há cinco anos) e a empresa Solution Altura (que realiza trabalhos em altura).
- A ideia é fazer ações em que a gente consiga espalhar a ideia de fazer o bem e chamar empresas para se envolverem - explica Tomás Susin dos Santos, um dos idealizadores da Centésimo.
Uma ajuda poderosa
Foto: Mauro Vieira, Agência RBS
Desde o início do ano, o pequeno João Victor Soares da Rosa, quatro anos, enfrenta o tratamento contra uma leucemia. Valente, o menino encarou inúmeras internações no HCC e está prestes a voltar para casa, em Rio Grande. Para alegria da família, não será necessário transplante.
- Até agora, não teve nada que fizesse o meu filho se abater. Nem as feridas na boca, por causa da quimioterapia - disse a mãe, a dona de casa Leila Maria Garcia Soares, 45 anos.
Quando o Homem-Aranha entrou no quarto da ala da oncologia, o menino quase não acreditou. Estava diante do herói cujo desenho vive pedindo para pintar.
- Vocês vêm do céu? - disparou o pequeno, surpreso com a ilustre visita.
Logo, o paciente perdeu a timidez. Subiu na cama, estufou o peito e disse que ia voar.
- Eu tirei foto com eles! Acho que vêm de perto da minha casa. Eles voam e pegam os bichos.
A estreia dos super-heróis
O cinto paraquedista não era novidade para Américo, que é alpinista há 13 anos. Mas a fantasia de Homem-Aranha, sim. Foi a estreia dele e do amigo Mauro numa atividade voluntária com crianças. Superado o desconforto com o peso de carregar a imagem de um super-herói, a vontade é de realizar outras ações.
- Onde liberarem nossa entrada, nós iremos. Faz um bem danado. A reação das crianças foi empolgante e o primeiro contato, muito emocionante - resumiu Américo, depois da experiência.
Saiba mais
- A Centésimo é um coletivo que cria projetos de impacto social, chamando empresas para oferecer apoio e patrocínio. No Grupo Hospitalar Conceição, além do projeto Liga da Esperança HCC, no ano passado realizou uma ação na maternidade, fazendo um book fotográfico com seis mães e seus bebês.
- O nome do coletivo é inspirado na Teoria do Centésimo Macaco, que fala sobre uma ilha habitada por 10 mil macacos, que se alimentavam de cocos. Quando a ilha foi atingida por ondas de radioatividade, os cocos não podiam mais ser consumidos. Um cientista ensinou um dos macacos a lavar os cocos antes de comer. O animal começou, aos poucos, a ensinar outros macacos. Ao passar dos anos, o conhecimento foi se espalhando, até que, quando o centésimo macaco (número simbólico) aprendeu a lavar os cocos, a técnica se difundiu para todos, até os que não tinham contato com os macacos. O conhecimento se incorporou à espécie.
- Para saber mais: www.centesimo.cc