Transporte público
Da tabela superada ao tacógrafo defasado: o que faz motoristas acelerarem os ônibus em Porto Alegre
Palestra organizada pela EPTC para melhorar a circulação nos corredores terminou em reivindicações
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Tabelas apertadas, cobranças por atraso, 23% de motoristas afastados por problemas de saúde - a maioria, por estresse. Problemas de quem dirige os ônibus da Capital, mas que afetam diretamente a população - como visto no episódio do motorista que se descontrolou e atacou um carro -, foram discutidos na tarde de quinta-feira em uma sala no Terminal Triângulo, na zona norte de Porto Alegre.
Um grupo de motoristas das empresas Navegantes e Nortran ouvia um palestrante da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) desde as 15h. Passada uma hora de exposição, o agente de uniforme azul perguntou se havia alguma dúvida. A saraivada de reivindicações começou.
Um motorista citou a impossibilidade de cumprir a tabela de horários da linha Leopoldina, que prevê 45 minutos para uma viagem de pelo menos uma hora. Colegas dele confirmaram que as tabelas, desatualizadas há anos - portanto, sem contar a atual frota de veículos da cidade nem obstáculos ao fluxo como as obras da Copa - , incentivam os profissionais a acelerar quando aparece a oportunidade de uma pista mais livre. Um dos agentes da EPTC admitiu que há tabelas superadas:
- Tem linhas que a gente sabe que está apertado.
Alguns motoristas citaram a dificuldade de reduzir a velocidade do veículo ao se aproximar das paradas de ônibus, onde o deslocamento não pode superar os 30 km/h. Eles sugeriram que a EPTC instale placas reduzindo gradualmente a velocidade ao longo do trajeto até chegar à parada.
Funcionários de empresas de ônibus e da EPTC se reuniram na tarde de quinta-feira
Foto: André Mags
No final da palestra, um motorista chegou a se levantar da cadeira.
- Como a EPTC quer que os motoristas ajudem? - exclamou, diante do pedido de cooperação feito pelo agente.
Ele reclamava de uma multa injusta, recebida por ter desviado de um caminhão sem freio. Na manobra, furou o sinal vermelho.
- Queremos um canal para nos defender - pediu, ao explicar que o recurso da multa não foi aceito.
A seguir, um colega lembrou das cobranças que sofreu por registros falhos de atraso.
- Cada vez que se abre o tacógrafo para pegar os dados, ele para. Aos poucos, portanto, o horário que ele marca vai ficando defasado, e se o fiscal não ajeita a hora certa, fica assim porque o equipamento é lacrado. O meu estava cinco minutos atrasado. Saí na hora certa do terminal, mas ficou registrado que eu estava atrasado.
Motoristas e agentes da EPTC estavam no local para conversar sobre a circulação nos corredores de ônibus. Recentemente, o órgão de trânsito da prefeitura da Capital divulgou que há uma tendência de queda no número de atropelamentos causados por ônibus, mas o tema ainda preocupa. Tanto que um dos focos da palestra foram as maneiras de se evitar acidentes.
Em 2013, ônibus e lotações foram responsáveis por 38% dos atropelamentos com morte em Porto Alegre. Até julho de 2014, sete pessoas morreram atropeladas por coletivos na capital gaúcha - o que diminuiria o percentual para 22%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. O ponto mais perigoso para os pedestres é a Estação Utzig, na entrada para a Terceira Perimetral. O local registrou sete mortes por atropelamento até 2012, apontou o palestrante.
O Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre confirmou que 23% dos profissionais da categoria foram afastados da função no primeiro semestre deste ano devido a problemas de saúde. De acordo com o presidente da entidade, Júlio Gamaliel Pires, 80% dos afastamentos foram causados por estresse.
Após discussão, motorista de ônibus quebra vidro de carro em Porto Alegre
Palestras como as de quinta-feira são periódicas, e um de seus objetivos é trocar informações e prever melhorias na circulação.
Encontro foi realizado no Terminal Triângulo, na Zona Norte
Foto: André Mags
O agente de fiscalização Renato Rhoden disse que as reivindicações dos funcionários das empresas de ônibus originadas nas palestras são sempre repassadas para a diretoria da EPTC. Ele lembra que a faixa exclusiva para ônibus na Avenida Brasil foi criada a partir de pedidos de funcionários de empresas de ônibus. Segundo agentes da EPTC, o problema causado pelo uso indevido da faixa por ônibus que devem seguir na pista comum já foi resolvido.
No mapa, veja os locais onde mais ocorrem atropelamentos em Porto Alegre: