Semana Farroupilha



Fé e tradição

De férias em setembro, padre troca a batina pela bombacha e acampa no Harmonia

20/09/2014 - 08h07min

Atualizada em: 20/09/2014 - 08h07min


Carlos Macedo / Agencia RBS

Quando o caminhão responsável pela limpeza dos banheiros se aproxima e os sabiás começam a cantar no Harmonia, por volta das 5h, é hora do patrão João Amorim Tadeu levantar para sua reza matinal. Todos os dias, ele repete o mesmo ritual, que pouco tem a ver com o clima tradicionalista do parque. É que, além de responsável pelo piquete Canta Galo, João também é padre. Em setembro, a tradição divide espaço com a fé e ele troca as missas na paróquia São Manoel por churrascos e tertúlias no Harmonia.

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No galpão que mantém em conjunto com a família, são notáveis as marcas de ordem e disciplina. A organização, a brancura dos pelegos e a divisão de tarefas dão os ares de salão paroquial. Um detalhe chama a atenção: sem cama montada no piquete, ele descansa no chão, em um saco de dormir estendido sobre pelegos e usando a cela de travesseiro.

- É como o homem do campo fazia - explica.

Um discreto crucifixo de madeira e uma capelinha de Nossa Senhora Aparecida misturam-se entre elementos campeiros que decoram as paredes. Mas quem não presta atenção dos detalhes pode até passar despercebido pelo fato de ter um padre ali.

- Não costumo por na manchete. Depois que o pessoal descobre quem sou e vê a relação que tenho com o tradicionalismo, acabam achando normal, mas prefiro ser discreto - explica, de bota e bombacha.

A credencial celestial de Tadeu notabilizou-se quando ele começou a rezar casamentos nos piquetes, como o dos jovens Natieli dos Santos e Maic Lemos, que trocaram alianças no piquete Desgarrados da República em 2013. (temos matérias desse casamento - chamar no on - ). Este ano, realizou um batizado campeiro. Mas como está de férias, prefere evitar esse tipo de compromisso.

Um barril de chope instalado no piquete do padre campeiro levanta a questão: padre pode beber? Ele garante que, com moderação, não há problema tomar uns goles de chopp e canha. Mas dá uma lição de moral quando o assunto são os excessos:

- A bebida é o principal motivo para tanta gente brigar no acampamento e perder o foco dos valores gaúchos.

Tricolor inveterado, ele já foi capelão do Grêmio e diz ter criado, nas cidades por onde passou, invernada artística e CTG. Fã de Jayme Caetano Braun, diz que reunir-se à noite em volta do fogo para ouvir uma boa música é o grande lance do acampamento. É também a forma de aliar as paixões que possui com os ensinamentos do seu superior:

- O papa Francisco diz que a Igreja tem que estar aonde o povo está.

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