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Mãe e filho se reencontram após 30 anos

Afastada do filho há 30 anos, Vera Lucia o reencontrou ontem no Aeroporto Salgado Filho. Ainda bebê, a criança de nove meses levada pelo pai foi parar em São Paulo.

09/09/2014 - 07h04min

Atualizada em: 09/09/2014 - 07h04min


Jeniffer Gularte
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Diego Vara / Agencia RBS
Primeiro encontro foi no Aeroporto Salgado Filho

A foto de um bebê gordinho chupando o dedo é a única lembrança que Vera Lucia de Fraga, 49 anos, tinha do filho Carlos Mario Fraga Moreira. A catadora do Bairro Belém Novo passou as últimas três décadas sem notícias do menino levado pelo pai após a separação do casal, em 1984. A agonia de sequer saber as feições de um dos quatro filhos terminou ontem, assim que Carlos desembarcou no Aeroporto Salgado Filho.

Mãe e filho viveram uma história digna de enredo de novela. Logo após a separação, quando o menino tinha nove meses, o pai o levou para viajar com a justificativa de que visitariam uma tia da criança, em Bagé. Ao ir atrás dos dois, quatro dias depois, Vera descobriu que eles nem chegaram ao suposto destino. Pai e filho haviam desaparecido. Não demorou para Vera ficar sabendo, pela irmã do ex-marido, que os dois estavam mais longe do que ela imaginava. O pai havia ido embora do Rio Grande do Sul com o filho junto com o haras no qual trabalhava como cozinheiro.

Dali em diante, ela começou uma busca sem sucesso pelo paradeiro da criança. Como pai estava com a certidão de nascimento de Carlos, Vera conta que a fuga não era considerada crime pelo juiz, já que o pai também tinha direito sobre o filho. Vivendo com poucos recursos e com medo de avião, preferiu não se arriscar e ir a São Paulo sem nenhuma ideia da localização dele.

- Durante uns sete anos, lutei muito para achá-lo, depois deixei o tempo passar - recorda Vera.

Atualmente, ela vive em uma casa de três peças que ganhou da irmã e tem como renda o salário do filho que trabalha em uma lavanderia. Portadora de arritmia cardíaca, afastou-se temporariamente da atividade de catadora.

Na rede social, as primeiras pistas

Foi pelo Facebook que a mãe encontrou as primeiras pistas do paradeiro de Carlos. Relacionou o nome com as semelhanças físicas e a localização. Uma irmã sua que vive em São Paulo visitou Carlos para confirmar a suspeita da mãe: era ele.

Hoje, Carlos mora com a mulher e a filha de quatro anos em Francisco Morato, município da Região Metropolitana de São Paulo, onde trabalha como ajudante geral em um frigorífico. A primeira conversa foi pelo bate-papo da rede social, há cerca de três meses.

Para ver a mãe, tirou férias do trabalho e andou de avião pela primeira vez. Vera foi receber o filho no aeroporto na companhia da prima. Até o momento do desembarque, a mãe administrava em minutos a espera de uma vida toda. Roeu unhas e preocupou-se se o filho estaria com fome. Prevenida, fez uma torta de bolachas que o esperava em casa. O avião pousou às 13h40min.

- Não sei se sei fazer comida para paulista. Dizem que lá o feijão é marrom. Não sei o gosto do Carlos. A última vez que o vi, só tomava leite e mingau.

Enquanto os passageiros desembarcavam do voo, ela tentava identificar quem seria seu filho. Da foto que viu na rede social, não conseguia identificá-lo de cara.

- Muitas vezes parei guris com a idade dele no Centro de Porto Alegre, achando que poderia ser meu filho.

"Quero curtir bastante a mãe"

A emoção do primeiro abraço quase deixou dona Vera sem fôlego. Pequenininha perto do filho, precisou de uma pausa para beber água para então continuar junto de Carlos.

- Eu não sabia nada dela. Pra mim, foi uma alegria grande, sempre a procurei. Eu perguntava pro meu pai, mas ele nunca falava, sempre fugia do assunto - conta ele.

Mesmo com as dificuldades, conta que nunca desistiu de encontrá-la. Na adolescência, chegou a solicitar o pagamento da passagem para o Rio Grande do Sul para o Juizado da Infância. Viria mesmo sem pista alguma. Porém, o pai não permitiu a viagem. Com a morte do pai, há 14 anos, passou a morar sozinho até encontrar a esposa.

- Foi difícil, muito difícil. Porque o carinho de mãe sempre faz falta, mas graças a Deus consegui enfrentar a vida muito bem. E hoje Deus preparou esse encontro.

Carlos conta que viveu sempre no haras, em Ibiúna, no Interior paulista, e que o pai não lhe deixou faltar nada. Porém, a ausência da mãe sempre o incomodou.

- Você vai crescendo, e vai vendo que todos teus amigos têm uma mãe pra dividir os problemas. Me senti sozinho muitas vezes. Agora que estou aqui, quero curtir bastante a mãe.

Ele ficará uma semana em Porto Alegre.


Assista ao vídeo do reencontro entre mãe e filho

 


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