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EXEMPLO DE VIDA

Mestre Léo dá aulas de taekwondo gratuitas a mais de cem crianças e adolescentes

Morador da Zona Sul da Capital é professor de artes marciais, motorista e conselheiro de dezenas de jovens.

27/09/2014 - 08h02min

Atualizada em: 27/09/2014 - 08h02min


Mateus Bruxel / Agencia RBS

Faixa preta e multicampeão de taekwondo, Léo de Lima, 62 anos, morador da Vila Curral, no Bairro Camaquã, Zona Sul de Porto Alegre, tornou-se motorista de kombi há cinco anos. A função é por uma boa causa: transportar os próprios alunos para treinarem em projetos sociais nos quais ele é o professor.
Com dinheiro tirado do bolso, Mestre Léo, como é conhecido, decidiu investir no veículo para facilitar a vida da gurizada da região onde ele mora. Assim, duas vezes por semana, eles treinam num projeto do Internacional e outras duas no Centro Estadual de Treinamento Esportivo, no Bairro Menino Deus. Em ambos, Léo dá aulas voluntariamente para mais de uma centena de crianças e adolescentes.
- Me ofereci para atuar nos dois projetos, desde que eu pudesse incluir a gurizada que já treinava na vila. Deu certo - conta, entusiasmado.
Como se não bastasse o transporte, o treinador faz questão de fornecer a alimentação dos estudantes, que costumam se reunir na casa dele antes de seguirem para os treinos. Na hora do almoço, Mestre Léo também vira cozinheiro da turma.
- Arroz, ovo cozido, saladas e frutas. Comida saudável para os atletas manterem o peso na medida certa - recomenda.
 
"Mais que um professor"

A maior parte dos passageiros de Mestre Léo é formada por adolescentes que, ainda crianças, começaram com ele no esporte. No grupo, está a filha do professor, Vitória, 17 anos, atual bicampeã brasileira e segundo lugar no Panamericano de 2013, ambos na categoria juvenil.
- Fui pai e mãe desde que a Vitória era bebê. Aos poucos, ela foi tomando gosto pelo esporte. Hoje, dá aulas junto comigo. Quer ser minha sucessora - comemora Mestre Léo.
Fabiane Mesquita Beck, 18 anos, é outra que também tornou-se professora de taekwondo pelas mãos do faixa preta. Ela dá aulas no no Mais Educação numa escola pública da Capital. Seguidora dele há sete anos, Fabiane garante que teve a vida mudada pelo Mestre.
- Ele é mais que um professor, é um amigo para todas as horas, um mestre para a vida, um pai - resume Fabiane, que pretende tentar a faculdade de Educação Física em 2015.
 
"Só por amor ao que faço"

Mestre Léo revela que só não leva mais meninos e meninas da região para os projetos sociais por falta de um veículo maior. O sonho dele é conseguir dinheiro suficiente para comprar um ônibus. E nem precisaria pagar o motorista do veículo: o faixa preta aposentou-se desta profissão há oito anos.
- Já pensou poder seu eu pudesse levar 45 crianças para os treinos? Quantos atletas teríamos e quantos deixariam de estar nas ruas? Não faço isso por vaidade. É só por amor ao que faço e coração, acima de tudo - justifica.

No esporte há quatro décadas

Praticante de taekwondo há 40 anos, Mestre Léo decidiu há cerca de 15 anos dedicar-se ao voluntariado. Como já tinha experiência com crianças por ser catequista nas escolas próximas da Vila Curral, ele decidiu repassar os próprios conhecimentos da arte marcial a crianças, adolescentes e idosos.
- Eu era um brigão de rua, adorava trocar socos com os outros. Até que, por sugestão da minha mãe, conheci o taekwondo. Me tornei outra pessoa e nunca mais briguei. Se o esporte me transformou, pensei que poderia ajudar a mudar outras pessoas - conta.
Com o esporte, voltou a vontade de estudar. Léo, por meio de bolsa de estudos, formou-se em Filosofia e Teologia. Mas jamais abandonou o taekwondo. Pelo contrário, é um vitorioso. Ao longo da carreira, são mais de 50 medalhas conquistadas. Entre os títulos mais recentes estão Campeão da Copa do Brasil 2013, Campeão Brasileiro 2014 e Campeão Mundial Open 2014, todos na categoria Master.
 
"Mais disciplinado, mais atencioso"

No projeto social do Cete há dois meses, o serelepe Eryc Gaspar Nunes, sete anos, não faz parte da turma que viaja de kombi com Mestre Léo, mas já dá sinais de que continuará seguindo o professor. Olhos atentos aos ensinamentos do faixa preta, Eryc conheceu o taekwondo quando visitava o Cete com a mãe, Andreia Gaspar, 38 anos.
- O Eryc ficou encantado com o professor e pediu para fazer uma aula. Não faltou mais nenhuma. É já deu para perceber que ele está mais disciplinado, mais atencioso e melhorando as notas na escola. O esporte e o Mestre Léo estão fazendo muito bem ao meu filho - relata a orgulhosa mãe, enquanto o menino praticava no tatame.

Luta por patrocínio

Fora do tatame, Mestre Léo tem três embates decisivos nos próximos meses. As lutas são para conseguir patrocinadores para três viagens nos próximos meses. São dois campeonatos em outubro, um em Foz do Iguaçu e outro no Rio Grande do Norte. Ambos pontuam para a Seleção Brasileira de Taekwondo. Mas a viagem mais importante do ano deve ocorrer em novembro: para o Open Internacional de Buenos Aires, na Argentina.
Hospedagem e alimentação já estão garantidas por apoiadores de Mestre Léo, totalizando R$ 11 mil. Mas ainda falta aquele que é o sonho do faixa preta: um ônibus.
- Se conseguirmos o transporte, poderemos levar mais atletas. Está difícil de conseguir, mas não quero perder esta luta - afirma.


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