Eleições 2014



No terceiro lugar

Polarização entre Dilma e Marina apaga Aécio

Debate no SBT evidenciou o afastamento do tucano do protagonismo na campanha eleitoral

02/09/2014 - 19h16min

Atualizada em: 02/09/2014 - 19h16min


Débora Ely
Débora Ely
Enviar E-mail
Orlando Brito / Divulgação

Da possibilidade do segundo turno à realidade da terceira posição, Aécio Neves (PSDB) teve atuação tímida e ficou de lado no debate de segunda-feira. Com a polarização estabelecida entre Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), o candidato tucano viu o próprio protagonismo diminuir na corrida ao Planalto - e, junto com ele, o domínio PT-PSDB que há 20 anos marca a política brasileira.

Além do fenômeno Marina, a sensação é de que Aécio não havia emplacado antes mesmo da queda do jato de Eduardo Campos revirar a corrida eleitoral. Estratégia concentrada nos ataques à presidente e uma campanha que dialoga mais com o mercado do que com eleitores estão entre as causas apontadas por analistas para o declínio tucano. A escolha do PSDB por um candidato fora de São Paulo também explica, em partes, o desempenho pouco expressivo de Aécio, aponta a cientista política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Helcimara de Souza Telles.

- O PSDB já vinha reduzindo sua bancada nacionalmente, mas ainda mantinha uma fortaleza em São Paulo. À medida que se lança um candidato de fora de São Paulo e que não é conhecido, é natural que não se consiga obter o mesmo sucesso dos outros candidatos do partido, ambos paulistas, (Geraldo) Alckmin e (José) Serra - diz Helcimara.

Para o cientista político Paulo Moura, da Ulbra, a entrada de Marina na disputa atraiu o eleitorado que, até então, estava fora da eleição e sedento por mudanças - mas que não eram avistadas no tucano. Assim, a ex-ministra roubou votos de todos os outros concorrentes e ainda reduziu o número de brancos, nulos e indecisos.

Sete motivos pelos quais Marina Silva modificou o quadro eleitoral
Por que candidatos evitam se comprometer com a causa gay
Leia todas as notícias sobre as Eleições 2014

- Esse eleitor que quer mudança estava lentamente migrando para o Aécio não por convicção, mas por rejeição ao PT - acredita Moura.

Na terceira posição com 15% das intenções de voto - atrás de Dilma e Marina, com 34% cada (conforme última pesquisa Datafolha) - o que resta a Aécio até 5 de outubro? Para o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, a declaração do coordenador de campanha do tucano, o senador José Agripino Maia (DEM), acenando para uma aliança com Marina no segundo turno, sinaliza a desconfiança da sigla com o futuro do ex-governador.

- O Agripino não usou o condicional - diz Fleischer. - O Aécio não conseguia decolar antes mesmo de Marina entrar e competir frente à frente com Dilma, agora, há a possibilidade de ele cair ainda mais - avalia o professor.

O discurso oficial, porém, ainda é de confiança. Nesta terça-feira, ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio declarou que acredita na sua chegada ao segundo turno e que Marina é uma "metamorfose ambulante". O ex-governador ainda disse que o país não pode viver uma nova aventura nos próximos anos. Mas, de olho no segundo turno, o tucano direcionou ataques no debate de segunda-feira à presidente - poupando a ambientalista.

Marina e a quebra da polarização PT-PSDB

O revezamento da Presidência entre PT e PSDB pode chegar ao fim com a eleição de Marina, apontam pesquisas. Paulo Moura compara o panorama nacional à eleição gaúcha de 2002, quando Antônio Brito (PPS) e Tarso Genro (PT) tanto se atacaram que abriram terreno para a vitória de Germano Rigotto (PMDB).

- A estratégia de Eduardo Campos era justamente a da terceira via, já que ele reclamava da polarização que o Brasil vive desde 1994 - situa Fleischer.

Os protestos de junho de 2013, o resultado da eleição de 2010 - quando Marina teve votação expressiva para a terceira colocação, com 19,33% dos votos -, o crescimento de um eleitorado mais crítico e a ascensão dos eleitores evangélicos representam, segundo a professora da UFMG, fortes indícios da ruptura da polarização.

- Já era uma tendência em 2010, só não viu quem não quis. Talvez fosse demorar mais tempo para ocorrer, mas a tragédia com Eduardo Campos antecipou, de certa forma, o processo - aponta Helcimara.

Além do PSDB e DEM, líderes do PMDB já teriam aventado com Marina o apoio à ex-ministra. Assim, ressalta o professor da UnB, a ambientalista começaria a construir uma coalizão para governar.


MAIS SOBRE

Últimas Notícias