Eleições 2014



Formação política

De Aecinho a Aécio Neves: a trajetória do candidato do PSDB à Presidência

O caminho do candidato passa por inspiração no avô Tancredo Neves, fama de bon vivant, mandatos de deputado federal, governador e senador e pai coruja de gêmeos aos 54 anos

25/10/2014 - 16h01min

Atualizada em: 25/10/2014 - 16h01min


José Albino / José Albino

Desde criança, quando brincava com os santinhos dos candidatos da família no chão da sala, Aécio Neves da Cunha, 54 anos, convive com a política. Herdeiro de uma linhagem com longa tradição eleitoral, o mineiro que sonha ser presidente da República pelo PSDB aprendeu na prática, no trato familiar, a arte de conquistar votos.

 
No colo da mãe, Inês Maria  

Viveu uma infância abastada em Minas, cercada de mimos. A alegria do menino bem-nascido, criado nos melhores círculos de Belo Horizonte, era viajar para o Interior e passar horas andando a cavalo.

As viagens ocorriam principalmente quando o pai de Aécio voltava às bases eleitorais. Por 32 anos, o advogado Aécio Ferreira da Cunha - morto em 2010 - foi deputado estadual e federal, com passagens por partidos como Arena e PDS (de apoio à ditadura).

Comícios e discursos inflamados nunca soaram estranhos ao garoto acostumado aos palanques, e as influências sobre ele não se restringiram à figura paterna. Aécio compreendeu cedo que os dois avós eram personalidades no cenário nacional - e que o seu sobrenome tinha prestígio.

 
Estudante do instituto Zilah Frota, em Belo Horizonte  

Tristão da Cunha, avô paterno, integrou o antigo Partido Republicano Mineiro (PRM), passou pelo Congresso e participou da gestão do presidente Juscelino Kubitschek (PSD) na década de 1950. Morreu quando Aécio tinha 14 anos.

A principal inspiração veio mesmo de Tancredo Neves. O experiente político de São João del Rei (MG) gostava de contar histórias de fantasma para "Aecinho", como chamava o pupilo, e para as irmãs dele, Angela e Andrea. Tancredo manteve o apego ao neto mesmo quando a família se mudou para o Rio.

No início dos anos de 1970, o pai de Aécio decidiu participar de um curso na Escola Superior de Guerra e levou consigo mulher e filhos. Aos 12 anos, Aécio não teve dificuldades de adaptação. Adotou o estilo de vida dos filhos da elite carioca e, nos tempos de ditadura, não chegou a militar no movimento estudantil. Suas paixões eram a praia e os jogos de futebol.

- Naquela época, não dava para falar muito de política, tanto que ele nunca contou que era parente do Tancredo. Só fui me tocar disso anos depois, lá por 1985 - relata o jornalista Maurício Cannone, 54 anos.

Os dois foram colegas em uma escola no Leblon. Partilharam a paixão pelo Maracanã e chegaram a assistir a algumas partidas juntos. Aécio torcia para o Cruzeiro e para o Botafogo.

Não era dos alunos mais aplicados, segundo Cannone, mas sempre dava um jeito de ser aprovado. A facilidade em matemática o levaria, anos mais tarde, a se formar em economia. Antes disso, fez intercâmbio nos Estados Unidos e viajou de mochila pela Europa.

Na transição para a idade adulta, tornou-se um assíduo frequentador da noite carioca. Assim começou a fama de bon vivant que até hoje o acompanha.

Também foi nesse período que Aécio ganhou um cargo na Câmara dos Deputados. Tinha 19 anos e ainda vivia no Rio. A função - de secretário de gabinete parlamentar - era vinculada ao mandato do pai, em Brasília. A história veio à tona recentemente e causou polêmica, levando a campanha tucana a emitir nota oficial. No texto, Aécio reconheceu o cargo e informou que cuidava da agenda do pai. Mas negou irregularidades, argumentando que, na época, os funcionários comissionados não eram obrigados a atuar no Distrito Federal.

A política entrou para valer na vida do mineiro a partir de 1981. Aos 21 anos, ele foi convocado por Tancredo para acompanhá-lo na campanha ao governo de Minas. Ficou claro que o ex-ministro de Getúlio Vargas vislumbrava no neto um aprendiz.


 
Foto de álbum de família com o avô  

- Tancredo tinha um amor profundo pelo rapaz. Estava sempre com ele - confirma o senador Pedro Simon (PMDB), 84 anos.

Ao lado do avô, Aécio tomou gosto pelos palanques e acabou virando secretário particular do governador eleito pelo PMDB, em 1982. Ao mesmo tempo, dedicou-se a concluir a faculdade de Economia na PUC de Minas.

Nas dependências da universidade, já se revelava "um grande discípulo de Tancredo", conforme o professor Fernando Antonio Amoni, que dava aula a Aécio.

- O que mais chamava a atenção era a capacidade dele de verbalizar com clareza as ideias, de saber ouvir e conviver com as diferentes opiniões sobre a situação que o país atravessava - relata o professor.

O clima era de efervescência. A campanha das Diretas Já ganhava as ruas com força. Aécio e o avô mergulharam na causa e cruzaram o Brasil.

O empreendimento fracassou, mas os líderes pró-redemocratização não desistiram. Uniram-se em torno da candidatura de Tancredo à Presidência, em oposição a Paulo Maluf, então no PDS, representante do regime militar.

Em janeiro de 1985, Tancredo saiu consagrado do colégio eleitoral. Aécio acompanhou cada movimento e testemunhou a montagem do novo governo. Até que veio o baque.

Na véspera da posse, o presidente eleito teve de ser internado às pressas. O jovem de 25 anos recém completados recebeu a incumbência de representá-lo na cerimônia oficial, protagonizada por José Sarney (PMDB), vice na chapa. Um mês e sete dias depois, Tancredo deixaria o hospital morto, diante de um país paralisado.

Superado o luto, Sarney ofereceu um cargo na direção da Caixa Econômica Federal ao mineiro. Menos de um ano depois, Aécio deixou o posto para estrear nas urnas. Foi a primeira de uma série de vitórias.

Conciliador e com bom trânsito, qualidades herdadas de tancredo

Beneficiado pela comoção e pela popularidade do avô, assumiu uma vaga de deputado federal pelo PMDB e participou da Assembleia Nacional Constituinte.

- Era jovem e ativo, mas não era uma liderança extraordinária. Estava apenas começando - conta o constituinte Luis Roberto Ponte (PMDB), 80 anos.

A partir dali, o legatário de Tancredo seria reeleito para mais três mandatos consecutivos, já no PSDB, e teria a primeira filha - Gabriela, fruto do casamento com a advogada Andréa Falcão.

Como deputado federal, seria líder do partido na Câmara quatro vezes e, em 2001, aos 41 anos, presidente da Casa. Sua gestão ficaria marcada, entre outras medidas, pela criação do Conselho de Ética.


 
Posse como governador reeleito de Minas, em 2006 

- Ele lembrava muito o avô na forma de se relacionar. Era conciliador, tinha uma capacidade imensa de trânsito - diz o jurista Miguel Reale Júnior, à época ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 2002, Aécio decidiu entrar na briga pelo governo de Minas. Venceu no primeiro turno. Quatro anos depois, repetiu o feito, com 77% dos votos válidos. Saiu comemorando 92% de aprovação, apesar de acumular críticas de adversários - que até hoje o classificam como centralizador.

Os planos de concorrer à Presidência seguiram de molho até 2013. Em 2010, o PSDB preferiu lançar José Serra ao pleito. Não deu certo. Enquanto o neto de Tancredo conquistava uma cadeira no Senado, o colega de legenda perdia mais uma briga para o PT.

O insucesso de Serra fez com que o nome do senador mineiro crescesse. Em 2013, ele foi eleito presidente nacional do PSDB e passou a costurar os apoios para assumir a empreitada. Recebeu a aprovação do ex-presidente Fernando Henrique e do próprio Serra, depois de muita resistência.

- Aécio passou a ser o candidato natural - destaca o deputado federal Nelson Marchezan Júnior (PSDB).

No mesmo ano, o senador se casou com a modelo gaúcha Letícia Weber, com quem teve um casal de gêmeos - Julia e Bernardo. Interlocutores viram na união uma estratégia para reforçar a imagem de "homem sério", mais um degrau na pavimentação da candidatura, em junho passado.

 
Presidente da Câmara dos Deputados 

Desde então, Aécio tem evocado com frequência o legado familiar. Se Tancredo personificou a luta contra o autoritarismo no Brasil em um momento dramático da história nacional, seu herdeiro político acredita liderar hoje uma outra batalha. Vinte e nove anos depois da morte do avô, Aécio sustenta que a guerra, agora, é contra a manutenção da hegemonia petista no poder.

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