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SAÚDE NA CAPITAL

Mamógrafo estragado impede exame que detecta câncer de mama em Porto Alegre

Aparelho do Hospital Presidente Vargas não funciona há, pelo menos, cinco meses, prejudicando milhares de mulheres

30/10/2014 - 08h02min

Atualizada em: 30/10/2014 - 08h02min


Júlio Cordeiro / Agencia RBS
Leoni Maria Mumbach, 59 anos, preocupa-se por não conseguir realizar o exame

A um dia do término do Outubro Rosa, mês de conscientização das mulheres em relação ao câncer de mama, a recepcionista Leoni Maria Mumbach, 59 anos, ainda não conseguiu realizar a mamografia solicitada há quase cinco meses pelo médico que a atende. Desde 9 de junho, ela tenta agendar o exame no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), em Porto Alegre. E sempre recebe uma mesma resposta: "o aparelho está estragado".

Por intermédio de sua assessoria de comunicação social, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da Capital admitiu que o mamógrafo do HMIPV está fora de uso. Uma empresa de São Paulo estaria encarregada do conserto, para o qual já teria sido liberado um repasse de verbas. A previsão é de que volte a funcionar em novembro.

São 1,5 mil exames por mês

Leoni procurou o HMIPV a partir da requisição que lhe foi dada pelo médico que a atende na UBS Diretor Pestana, na Zona Norte. O exame é considerado de rotina. Mas preocupa-lhe o fato de já ter enfrentado, e vencido, um câncer no colo do útero.
De acordo com a recepcionista, no hospital não é feito reencaminhamento.

- Eles só dizem que não tem como me encaminhar para outro lugar. Terei que marcar nova consulta na UBS para conseguir uma requisição para outro lugar - lamenta ela.

A SMS não informou qual o encaminhamento que está sendo dado para as pacientes que deveriam fazer mamografia no local. Por contato telefônico, a reportagem confirmou, ontem, a informação de Leoni. Funcionários afirmam que, para pacientes antigos, é possível um reencaminhamento. Mas para aquelas que estão tentando marcar mamografia pela primeira vez, não há como fazê-lo.

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A Secretaria não forneceu, também, o número de pacientes que já deixaram de ser atendidas desde que o aparelho parou de funcionar. Porém, de acordo com o Plano Municipal de Saúde 2014-2017, elaborado pela própria SMS, no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas são ofertadas mensalmente 1,5 mil mamografias. Destas, 1.180 são para Porto Alegre. As outras 320 são distribuídas a outros municípios pela Central de Marcação de Consultas do Estado.

No período de cinco meses (pelo menos) em que o mamógrafo está avariado, cerca de 7,5 mil exames deixaram de ser ofertados.
       

"Uma irresponsabilidade", diz médico

O mastologista e vice-presidente da Associação Brasileira de Mastologia José Luiz Pedrini salienta que há dois tipos de mamografias. Uma delas, quando há uma forte suspeita de algum tumor. Neste caso, há urgência na realização do exame, não podendo passar de 30 dias.

- Nestes casos, a perda de tempo pode significar a progressão de uma doença evolutiva, como o câncer de mama - explica.

Em outros casos, em que o exame solicitado é rotineiro, não há tanto risco na demora. Mesmo assim, o médico considera "uma irresponsabilidade" o fato de o aparelho estar estragado há tanto tempo:

- Em um país que se envolve numa campanha contra o câncer de mama, isso não pode acontecer. É como assustar a população e não dar suporte para as pessoas atenderam ao apelo - avalia.

Sobre o caso específico de Leoni, que já teve câncer de colo do útero, José Luiz desta que ela não está nos grupos considerados de risco. Mas, mesmo assim, requer cuidados especiais.

- Tem que ter um cuidado um pouco maior, pois algo já falhou em seu genoma (constituição genética).      

Exames preventivos

Mulheres de 50 a 69 anos devem repetir a mamografia anualmente.
* Também devem realizar o exame todos os anos as mulheres de 35 a 49 anos que tenham fatores de risco: hereditariedade (no caso, com parentes de primeiro grau que tiveram câncer), ser obesa, ser fumante, consumir álcool em excesso, não ter filhos, ter menstruado muito cedo ou estar fazendo reposição hormonal.
* Mulheres com menos de 50 anos e que não estão em grupos de risco devem fazer exame clínico anual requisitado pelo médico.

Mês especial

O movimento Outubro Rosa é realizado no mundo inteiro. O nome remete à cor do laço rosa que simboliza, mundialmente, a luta contra o câncer de mama e estimula a participação da sociedade civil.

Nos Estados Unidos, onde o movimento teve início, vários Estados tinham ações isoladas referentes ao câncer de mama e à mamografia em outubro. Por conta disso, o Congresso Americano transformou o período no mês nacional (americano) de prevenção do câncer de mama.
 


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