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Incentivo na escola

Alunos de escola do Bairro Bom Jesus disputam campeonato de hóquei para meninos entre 12 e 14 anos

Estudantes participam de projeto da escola que os ajuda a melhorar problemas de disciplina

01/11/2014 - 09h03min

Atualizada em: 01/11/2014 - 09h03min


Eles são meninos de origem humilde, moram numa zona conflagrada pela violência e sequer têm condições de comprar tacos, bolas e outros equipamentos do hóquei. Mas possuem a determinação para superar todos os obstáculos e disputar o Campeonato Brasileiro da modalidade. Apresentados ao esporte no ano passado, os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, do Bairro Bom Jesus, na Capital, surpreenderam os professores. Encantados, passaram a treinar praticamente todos os dias, venceram o Gaúcho do ano passado e, neste sábado e domingo, disputam a competição nacional para meninos entre 12 e 14 anos. A competição reúne seis equipes no ginásio da Esef/Ufrgs, no Bairro Jardim Botânico, a partir das 8h30min.

- Quando eu fui ver um jogo, achei que era no gelo. Descobri que não era e achei ainda mais divertido. A gente joga umas três horas seguidas e volta para casa com sentimento de dever cumprido - conta o zagueiro Kauã Faria Dorneles, 12 anos.

Filho de uma cozinheira e um segurança de hotel, ele passava as tardes sozinho, com a obrigação de tomar conta da irmã, dois anos mais nova - a tarefa agora passou para a irmã mais velha. Quando entrar na quadra poliesportiva, neste sábado, acha improvável que os pais estejam nas arquibancadas. Mas isso não o faz parar de sonhar alto:

- Eles trabalham muito. Acho difícil irem. Mas quem sabe um dia eu não vou disputar os Jogos Olímpicos, né?

Crescimento surpreendeu

O projeto começou por acaso, em março do ano passado. Professor de Educação Física, Daniel Brauner queria alguma atividade para entreter os alunos no contraturno escolar. Futsal seria o mais viável, mas não teria impacto de algo novo. Foi então que ele ligou para um antigo colega de faculdade, Daniel Finco, presidente da Federação Gaúcha de Hóquei na grama e indoor. O dirigente cedeu algumas bolas e tacos.

A ideia era reunir ao menos dez alunos, para ao menos formar dois times. Três meses depois, já eram 50 praticantes, além de 20 na fila de espera.

- Alunos que tinham problema de disciplina em aula melhoraram, passaram a ter outra atitude na escola para poderem participar da oficina de hóquei. Isso é importante, mas nada é mais gratificante do que poder tirar esses meninos das ruas e afastá-los de tantas coisas ruins com as quais teriam contato - conta Daniel.

Especialista em basquete, o professor acabou contagiado pela euforia dos meninos e fez um curso de especialização em hóquei. Na quadra da escola, os treinos ocorrem diariamente, a partir das 16h.

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"Uma medalha seria fantástico"

Kauã formará a zaga ao lado de Anderson Luiz dos Santos. Mais do que a idade e a origem (a mãe é cozinheira e o pai, pedreiro), os dois têm em comum a melhora no comportamento depois de terem descoberto o esporte.

- Depois do treino, tomo banho e fico em casa vendo tevê, quase não saio mais na rua. Ir para a escola agora é muito melhor. E, em casa, é muito bom praticar com meu pai, ele me deu uma bolinha de aniversário - conta, empolgado.

A federação doou aos meninos bolas e 15 tacos importados. A roupa de goleiro para o campeonato ainda é emprestada - nos treinos, o professor usa uma bola mais leve para que os alunos não corram risco de se machucar. Daniel conta que, no começo, o esporte gerou certos preconceitos. Pessoas da comunidade achavam temerário deixar tacos com alguns meninos com histórico de violência. O tempo calou os pessimistas.

Técnicos da Confederação Brasileira da modalidade estarão nas arquibancadas à procura de talentos. Apesar de azarões, os meninos estão esperançosos na competição, realizada em dois triangulares - os primeiros de cada chave fazem a final, e os demais jogam a repescagem pelo bronze.

- Não é o intuito principal, mas uma medalha seria fantástico, um grande incentivo para os meninos e demais alunos da comunidade - analisa Daniel.

O que é o esporte

Praticado no gelo, na grama e indoor, o hóquei ganhou regras em 1860, na Inglaterra. A competição consiste em, com um taco, bater em uma bola (e passá-la para companheiros de equipe) até ela entrar no gol adversário. Na categoria até 14 anos, as partidas têm dois tempos de 10min cada, e as equipes possuem quatro atletas na linha e um no gol. Há ainda sete reservas, que entram sem necessidade de parada da partida - como no futsal.


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