Trânsito



Atropelamento em Gravataí

Após acidente fatal, gincaneiros debatem mudanças nas tarefas

Apesar de reunião marcada para esta segunda-feira, participantes afirmam que ideia de reformular competições já era discutida no Estado

17/11/2014 - 19h33min

Atualizada em: 17/11/2014 - 19h33min


Divulgação / Polícia Civil
Mitsubishi L200 estava na casa do suspeito, em Portão

O atropelamento fatal do marceneiro Waltuir José Dutra, 50 anos, por um gincaneiro que dirigia uma caminhonete em Gravataí, na madrugada de domingo, motivou a organização de uma reunião entre os participantes de gincanas para debater mudanças nas tarefas de rua, que envolvam veículos.

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Os organizadores do encontro concordam que as gincanas estão perdendo o seu antigo perfil de diversão e ganhando cada vez mais velocidade e competitividade. Para eles, a atividade se profissionaliza em ritmo rápido - e, para a professora aposentada Ana Lucia Holmer Bauer Schweitzer, 63 anos, com mais de 40 anos de participação em gincanas e conhecida no meio como Tia Ana, isso é ruim.

- As gincanas estão sendo deturpadas do seu objetivo, que é cultural, de integração, astúcia, esportividade. Isso está ficando de lado. A velocidade está transcendendo o nível da gincana. Está muito diferente da minha época, os participantes estão muito afoitos. Faz uns 15 anos que começou a ficar assim, e cada vez mais se profissionaliza. Acho que é ruim porque não é uma brincadeira sadia - afirma Ana Lucia.

A reunião foi marcada para as 20h desta segunda-feira, em Taquara. Um dos pontos que devem ser tratados é o do tempo para a realização das tarefas. Atualmente, muitas equipes têm alugado carros para participar das gincanas - o jovem de 22 anos que atropelou Dutra conduzia a sua Mitsubushi L200, mas, segundo o delegado Eibert Moreira Neto, que investiga o caso, ele também utilizava um veículo alugado durante o evento.

Organizadora da gincana divulga medidas de segurança tomadas

Para Cassiano Brenner, 35 anos, que é secretário-geral da Liga das Equipes Gincaneiras de Taquara (Legita), a atividade tem crescido, e a quantidade de veículos que participam delas, também. Além disso, a quantidade de atividades na rua também está alta.

- Acabam sendo muitas equipes tentando cumprir as tarefas simultaneamente, não dá tempo nem de curtir a gincana. Hoje, as equipes estão muito competitivas e menos divertidas. Quem sabe voltar à forma como eram feitas no passado, com caça ao tesouro um pouco mais calma, com menos carros, com locais separados para cada equipe. Tem várias alternativas que a gente precisa discutir - sugere Brenner.


Com 30 anos Fernanda Costa, integrante da equipe Retalho, de Gravataí, participa de gincanas desde os nove. Ela estará na reunião em Taquara e afirmou que uma mudança na dinâmica das gincanas era pensada antes do atropelamento, mas, por causa do acidente, o encontro foi marcado em caráter emergencial. 

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- Há um movimento para repensar as gincanas com objetivo de que os participantes fiquem mais unidos, as provas sociais e culturais sejam mais valorizadas e a segurança seja preservada - comentou a gincaneira.

O secretário-geral da Legita adianta que há uma ideia de criar uma liga estadual reunindo todas as equipes, possivelmente com um regulamento para as questões de trânsito. O acidente causou o cancelamento da 6ª GincaTaí, que ocorria em Gravataí, e repercutiu em Triunfo, onde uma gincana também foi suspensa.

Em Charqueadas, gincaneiros pensam em criar Código de Ética
 
Para a moradora de Charqueadas Cristiane Ávila, 39 anos, gincana é sinônimo de família. Ela conheceu o marido em uma competição do gênero e chegou a participar de edições quando estava grávida dos dois filhos. Atualmente, atua como vice-presidente da equipe Só para nós (SPN) e integra a Liga de Gincanas do município.
 
Por gostar tanto da disputa, realizada anualmente no município, Cristiane apoia a proposta de uma reformulação das atividades, discutida atualmente pelos gincaneiros de todo o Estado. Em Charqueadas, ela afirma que há um movimento de mudança ainda anterior, com objetivo de prezar pela segurança dos participantes. A liga do município pensa em criar um Código de Ética para as gincanas da cidade, com punições para as pessoas que tiverem atitudes imprudentes.

- As gincanas são um espaço de cultura e de integração, onde menos de 1% dos participantes têm atitudes imprudentes, que não podem ser a imagem das competições. Por isso, precisamos construir juntos uma reformulação de nossas disputas, como rever as provas cronometradas e criar campanhas de conscientização - relata.

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