Porto Alegre



Violência

A rotina do T4, o ônibus campeão de assaltos em Porto Alegre

Linha da Carris com 21 mil passageiros por dia soma 78 assaltos nos últimos 22 meses

09/12/2014 - 21h59min

Atualizada em: 09/12/2014 - 21h59min


Marcelo Oliveira / Agencia RBS
T4 acumula 78 assaltos de janeiro de 2013 a outubro deste ano

A rota de ônibus mais perigosa de Porto Alegre chama-se Transversal Quatro, mas é conhecida como T4. Ao cruzar 230 vezes por dia a cidade - desde a Zona Norte, a quatro quadras do Hospital Cristo Redentor, até seu terminal, no BarraShoppingSul -, a linha da Carris acumula 21 mil passageiros diários. Parte deles presenciou, de janeiro de 2013 a outubro deste ano, 78 assaltos.

Nesse mesmo período, 1.103 assaltos a ônibus foram registrados pelas empresas de transporte da Capital. Na média, cerca de 4,6 assaltos por linha em Porto Alegre - muito abaixo da marca do T4. A segunda linha mais atacada, o T6, teve a metade dos registros da campeã nesses 22 meses.

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Zero Hora pegou o T4 em uma noite de novembro - das 16h à meia-noite foi o horário de 60 dos 78 assaltos - para conversar com passageiros e rodoviários. Quem opera a linha diariamente no turno da noite, como o motorista Cleber Farias, multiplica a chance para o azar.

Farias tem 18 anos de Carris. Desde 2005, pilota o T4 e já tem mais de 20 assaltos no currículo. Negro, cabelo raspado, em torno de 50 anos, fala do problema sem lamentar - a insegurança é vista como rotina. Pato Rouco, como é conhecido entre os rodoviários, foi assaltado quatro vezes só neste ano. No último, ele e o cobrador não aceitaram:

- Eles estavam com uma faca, mas nós botamos eles pra correr. Depois, os passageiros reclamaram da gente.

Por entre os dentes, como se estivesse segurando a raiva, ele lembra do pior assalto que sofreu:

- Tomei uma coronhada na cabeça e roubaram a minha mochila em 2007. Era 23h55min de 24 de dezembro.


Como motorista do T4, Farias já sofreu mais de 20 assaltos no currículo
Foto: Marcelo Oliveira


Após protesto e operação da BM, ataques diminuíram

Em julho, depois de uma sequência de assaltos no T3 e no T4, os profissionais da Carris decidiram parar as atividades por um dia. Desde então, a Brigada Militar (BM) montou uma operação de combate ao crime na linha e os números da violência diminuíram - um pouco. Na comparação com o mesmo período de 2013, foram duas ocorrências a menos.

O cobrador Anderson Bandeira acompanha Pato Rouco há três semanas no T4. Nunca foi assaltado. Ele garante que o trabalho da polícia tem funcionado. Creminho, como foi apelidado pelos colegas por passar creme hidratante nas mãos ("rodoviário que é rodoviário tem apelido", justifica), reclama é da violência de alguns passageiros:

- Eles têm se exaltado. Uma vez eu pedi para um cara parar de incomodar os passageiros. Um tempo depois, a mesma pessoa me ameaçou com uma faca. Só não conseguiu perto porque o ônibus estava lotado.

Pegue carona no vídeo e veja um pouco da rotina do T4:

 

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