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Investida mortal

Grupo de rapel fazia lanche com doces quando abelhas atacaram

Mulher de vítima relata que praticantes do esporte estavam parados e não tiveram tempo de escapar do enxame em Maquiné

28/01/2015 - 15h11min

Atualizada em: 28/01/2015 - 15h11min


Bruno Alencastro / Agencia RBS
Jean Carlos Machado Lopes morreu ao despencar de uma altura de quase 50 metros

O grupo que foi atacado por abelhas quando praticava rapel na tarde do último sábado em Maquiné fazia um lanche com doces no momento em que os insetos se aproximaram. O relato foi feito pelo sobrevivente Flávio da Rosa Lopes a Rosália Camargo, mulher de Jean Carlos Machado Lopes, uma das vítimas fatais. Eles conversaram logo após o resgate, no domingo. Flávio e Jean eram amigos e trabalhavam no mesmo prédio, em Porto Alegre.

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Rosália contou a Zero Hora que eles tinham parado para comer balas e frutas, o que pode ter atraído os insetos de forma inesperada e desencadeado uma reação fulminante do ninho. A outra vítima fatal foi Ronei Marcelino Pinto, 48 anos. Ficaram feridos ainda Maicon da Silva, João Batista Moreira Dias, Luciano de Souza e Roberto Schuster.

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- O Flávio, que viu a queda do meu marido, me falou que foi assim. Acho que ninguém tem de ser responsabilizado pelo que ocorreu, ninguém deve se sentir culpado. Foi uma fatalidade, temos de aceitar. Não adianta ficar remoendo porque nada vai trazer ele de volta - relatou.

Veja fotos do local do acidente:

Rosália e Jean estavam juntos há 17 anos. Ele praticava rapel havia três anos e era acostumado a descer pedreiras em Santana do Livramento, na Fronteira. Foi a primeira vez que encarou um desafio numa cascata. Bruna Caroccia, amiga do casal que também conversou com Flávio depois da queda, disse que Jean tentou se proteger dos ataques em um buraco na pedra:
 
- Ele colocou a cabeça no buraco e mandaram ele descer, mas já estava com o rosto tomado pelas abelhas. Pelo que ouvi, ele conseguiu descer quatro metros e depois desabou. Não sabem se sofreu uma parada cardíaca, se perdeu as forças pelas mordidas ou se não conseguiu controlar os equipamentos.

Abelhas com "sistema de alerta" potente
 
O professor de Apicultura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Aroni Sattler explica que as abelhas, quando se sentem ameaçadas, liberam uma substância química chamada feromônio, que serve para alertar os insetos próximos de que existe predador ou ameaça em movimento.

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Segundo ele, repelir ou matar uma ou duas abelhas já seria suficiente para atrair todo o ninho. Quando a abelha ataca, as glândulas do ferrão liberam uma quantidade ainda maior de feromônio, que incita o restante da colmeia a atingir a mesma região:
 
- Eles não tinham espaço para se afastar, e a progressão da investida dos insetos é geométrica, questão de segundos ou poucos minutos. O feromônio é diferente do ferrão que atinge a pessoa, pois é um aviso para a preparação da defesa de todo o ninho. O ferrão, no rosto, acelera a propagação do veneno na corrente sanguínea. Fica difícil alguém suportar dezenas de ferroadas sem desmaiar.

Veja o local onde aconteceu o acidente:

Os laudos das autópsias, que devem ser entregues à Polícia Civil até quarta-feira da próxima semana, vão informar com precisão as causas das mortes. O certo, até o momento, é que as vítimas caíram de uma altura de quase 50 metros e tiveram fraturas em diversas partes do corpo.

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Sem socorro imediato, não resistiram.  Os investigadores ainda não sabem especificar se haverá perícia no local e cogitam recorrer ao trabalho de alpinistas para colher informações na base da cachoeira, conhecida em Barra do Ouro como Figueirão.
 
Além dos sobreviventes, que são parte importante da investigação, serão ouvidos o motorista que os conduziu até o local, moradores que prestaram socorro e que guiaram o grupo, familiares e resgatistas do Corpo de Bombeiros e da Brigada Militar.

Os equipamentos usados no rapel ainda estão na cidade - parte foi resgatada pelos bombeiros e entregue à Polícia Civil, que devolverá aos familiares. O restante, que inclui cordas e mosquetões, ficou preso às pedras e árvores, na cachoeira, e poderá ser alvo de perícia.

Em áudio, socorrista conta como foi o resgate:


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