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Sapucaia perde UTI pediátrica via Sus

Unidade de Cuidados Especiais Pediátricos que recebeu 328 internações desde 2012 fechará no final do mês. Estado considera que há suficiência de leitos de UTI Pediátrica na região.

21/02/2015 - 08h02min

Atualizada em: 21/02/2015 - 08h02min


Jeniffer Gularte
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Fernando Gomes / Agencia RBS

O Hospital Getúlio Vargas, de Sapucaia do Sul, na Região Metropolitana, está prestes a fechar a Unidade de Cuidados Especiais Pediátricos (UCEP) que funciona como uma UTI Pediátrica. Até o final do mês, a estrutura com seis leitos, sendo um de isolamento, deverá ser desativada por decisão do Estado. Em nota enviada ao DG, a Secretaria Estadual da Saúde afirma que foi determinado o fechamento da unidade pois há "suficiência de leitos de UTI pediátrica na região".
Aberta em caráter emergencial em maio de 2012 para atender uma demanda provisória de surto de Gripe A, o centro tem cuidados equivalentes a de uma UTI e sempre funcionou com alta taxa de ocupação, segundo a própria direção do hospital. Desde sua implantação, já recebeu 328 internações.
Segundo o diretor geral da Fundação Hospitalar Getúlio Vargas, que faz a gestão da instituição, Juarez Verba, a unidade não é considerada uma UTI pois não dispõe de área física para a implantação de dez leitos, número mínimo necessário para se tornar uma UTI de fato e, assim, ser custeada pelo governo federal. Mesmo assim, na prática, cumpre este papel.

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Dificuldade para contratar pediatras

Além da limitação física, o hospital enfrentou dificuldade em contratar pediatras intensivistas para atuar no local, problema que se acentuou no final do ano passado. É necessário que ao menos um profissional esteja na unidade 24 horas por dia.
- Em alguns turnos, não tinha médico porque é difícil achar este tipo de profissional no mercado. Não tínhamos como suprir a escala, assim a UTI se torna um peso para o Estado e o hospital - argumenta Juarez.
O valor mensal repassado pelo Estado (equivalente a menos de 50% dos custos) era de R$ 144 mil, e o custo operacional do centro ultrapassava os R$ 300 mil. O gasto com a folha de pagamento era de R$ 120 mil, fora as despesas com locação de equipamentos, exames e medicamentos.
Os recursos pararam de ser repassados em dezembro quando o próprio hospital iniciou, gradativamente, o processo de desativação da estrutura e culminará com o fechamento total no final deste mês. Há leitos de UTI Pediátrica em Porto Alegre, Canoas e Novo Hamburgo.

 

"Já vi muita mãe chegar desesperada aqui"

Na sexta-feira, quando o DG visitou a estrutura, havia quatro pacientes internados: dois bebês e dois pacientes crônicos. Mãe de Isaias, 5 meses, internado há 10 dias com diagnóstico de infecção intestinal, Sabrina Inês da Silva, 28 anos, acredita que se a unidade tivesse fechado antes da internação do seu bebê, ele poderia não ter resistido a infecção.
- Essa UTI foi a salvação dele. Quase perdi meu filho, ele perdeu 2kg em três dias, chegamos ao HPS (em Porto Alegre) e só conseguimos vaga aqui, o médico disse que seu eu tivesse demorado mais duas horas para trazê-lo ao hospital, ele teria morrido - conta ela, que mora em Canoas. Na sexta-feira, a dona de casa estava aliviada: Isaias teve alta.
De Montenegro, a dona de casa Maria Lisete Martins, 50 anos, está com o filho, também chamado de Isaias, 15 anos, internado há dois anos na UTI. Por falta de oxigênio no cérebro quando nasceu, ele perdeu a fala e boa parte dos movimentos do corpo. Hoje depende de máquina de oxigênio (que tem na UTI) para respirar. Ele e o outro paciente crônico deverão ser encaminhados para a UTI adulta ou outras instituições. Maria Lisete, porém, considera injusto o fechamento da unidade.
- Neste tempo que estou aqui com ele, já vi muita mãe chegar desesperada com a criança e depois saírem todos bem. A equipe é ótima, são muito atenciosos.

 

Estado diz que não há cortes de financiamento

Em nota enviada à reportagem, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) reiterou que a Unidade de Cuidados Especiais Pediátricos (UCEP) do Hospital Municipal Getúlio Vargas, de Sapucaia do Sul, foi aberta de forma emergencial no ano de 2012 tendo seu funcionamento temporário para enfrentar o surto de Gripe A da época.
Os seis leitos foram regulados pelo Estado e, em razão da alta taxa de ocupação, o fechamento não pôde ser efetuado no prazo previsto. Porém, a secretaria admite que foi determinado o fechamento da unidade em dezembro, considerando a suficiência de leitos de UTI pediátrica na região.
Para que o fechamento fosse efetuado, porém, o Estado alega que aguardou-se um momento de "baixa utilização da unidade". A secretaria ressalta ainda que o encerramento das atividades da unidade não possui nenhuma relação com cortes de financiamento ou atraso de repasses.


Leitos de UTI pediátrica no Estado*

- São 244, distribuídos em 20 hospitais, em 16 municípios. São de tipo 1 (casos de menor gravidade) até o tipo 3 (maior gravidade).
- Na Região Metropolitana, há leitos de UTI em Porto Alegre, Canoas e Novo Hamburgo. No total, são 139 leitos. Destes, 109 são Sus.
- A distribuição por cidade é a seguinte: Porto Alegre (99 leitos Sus), Novo Hamburgo (nenhum leito pelo Sus), Canoas (10 leitos Sus).

* Dados fornecidos pela Secretaria Estadual da Saúde, a partir do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), do Ministério da Saúde


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