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Pesou no bolso

Com aumento nas contas de luz, famílias tentam economizar energia

Famílias de Canoas e Esteio, atendidas pela empresa AES Sul, já não sabem mais como economizar energia

03/03/2015 - 07h18min

Atualizada em: 03/03/2015 - 07h18min


Jeniffer Gularte
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Tadeu Vilani / Agencia RBS

Desde ontem, os clientes da AES Sul estão pagando o maior reajuste tarifário do Brasil. Aprovada pela Aneel na sexta-feira, a revisão média de 39,5% vai pesar nas contas de luz com vencimento para abril - para os clientes da Ceee, o aumento será de 21,9%. Já na RGE, o aumento é de 35,5%.

Na casa da contadora aposentada Vera Lúcia Pannebecker, 62 anos, no Bairro do Parque, em Esteio, a família já não sabe mais onde economizar. É regra, inclusive para a neta mais velha, Isadora, oito anos, desligar todos os aparelhos da tomada quando não estão sendo utilizados.

A única exceção é a geladeira. À noite, o ar-condicionado fica ligado apenas duas horas para refrescar o ambiente. No banho, ninguém abusa. Isso porque o chuveiro quente gasta o dobro do frio. As lâmpadas incandescentes foram trocadas para fluorescentes. Mesmo assim, a conta não fecha: o consumo de luz diminuiu, mas o valor da fatura aumentou.

Consumo caiu, valor subiu

Na conta com vencimento em 25 de dezembro, foram consumidos com 440 Quilowatt-hora (kWh) com valor de R$ 231. Já a fatura com vencimento em 25 de fevereiro, que teve 392 kWh, de consumo apresentou conta de R$ 263,01.

- Diminuímos o consumo, passamos dez dias fora em janeiro e mesmo assim a conta aumentou. Imagina quanto virá em abril, tenho medo que seja o dobro disso - reclama a nora de Vera, Zanandra Lara de Oliveira, 34 anos.

Dona Vera também trocou o ar-condicionado de parede do quarto para um split, tem planos de reformar a casa e, inclusive, pensa em refazer a fiação elétrica. Seria outra tática para economizar.

- Mais do que isso, não tem o que fazer, é muito aumento - lamenta Vera.

Sombra substitui o ar-condicionado

Moradora do Bairro Mathias Velho, em Canoas, a dona de casa Marli Lopes, 50 anos, também sentiu os efeitos da escalada do aumento da conta de luz. Em dezembro, o valor foi de R$ 115,04. Em janeiro, R$ 141,22. A que venceu em fevereiro veio a salgados R$ 181,56. Foram R$ 66,48 a mais em três meses. E ainda vem mais.

- Tentamos não ligar o ar-condicionado durante o dia, para ficar mais na sombra da casa mesmo.

A torneira quente, sempre usada para lavar louça, também está ficando de lado. Segundo Marli, que mora com o marido, o segurança aposentado Almandio, 56 anos, e com o filho Vinicius, 19 anos, a regra é economizar ao máximo.

- Está ficando cada vez mais difícil. Imagino que será ruim nos primeiros seis meses, até nos acostumarmos.

Se o orçamento apertar, ela não descarta a possibilidade de retornar ao mercado de trabalho. Trabalhou por 17 anos como babá e, desde janeiro, saiu do emprego para ajudar a cuidar do neto, recém-nascido.

Como vão ficar as contas

A pedido do Diário Gaúcho, o consultor em energia Paulo Steele, da TR Soluções, simulou o novo valor das contas de Vera e Marli, a partir do reajuste.

Vera:
Última conta:
R$ 263,01
Próxima (com o mesmo consumo do mês anterior): R$ 365,68

Marli:
Última conta:
R$ 181,56
Próxima (com o mesmo consumo do mês anterior): R$ 254,27

O ranking dos aumentos no brasil

1°) AES Sul _ 39,5%
5°) RGE _ 35,5%
35º) Ceee _ 21,9%

As bandeiras tarifárias

Desde janeiro, passaram a vigorar as bandeiras tarifárias, que repassam mensalmente ao consumidor o custo da geração de energia. Mesmo recém-criadas, já precisaram ser reajustadas. A bandeira verde indica condições favoráveis de geração de energia, o que não faz a tarifa ter acréscimo. A bandeira amarela indica condições de geração menos favoráveis. Neste caso, há acréscimo de R$ 2,50 para cada 100 quilowatt-hora consumidos. A bandeira vermelha é acionada caso haja condições mais caras de geração, o faz a conta ter acréscimo de R$ 5,50 para cada 100 quilowatts consumidos.

Custo de geração aumentou, alega AES Sul

De acordo com a AES Sul, tamanho reajuste se deve ao aumento de custos que estão ocasionando um "insustentável desequilíbrio financeiro". Com o fim de repasses do governo federal para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) - que bancam programas como Luz Para Todos, subsídios para tarifa de baixa renda e cooperativas - passa a ser necessária a cobrança via tarifa para manter o equilíbrio econômico/financeiro dos contratos de concessão. Dos 39,5% de índice médio do reajuste extraordinário, 16% referem-se à CDE.

Já o custo de geração de energia aumentou nos últimos dois anos devido à necessidade do uso de usinas termoelétricas. A energia térmica é muito mais cara e passou a ser usada em maior volume. Além disso, houve impacto no custo devido ao aumento da tarifa de Itaipu e o efeito dos recentes aumentos do dólar, que incide sobre essa tarifa. Dos 39,5% de índice médio do reajuste extraordinário, 23,5% referem-se ao custo de geração. Ou seja, a concessionária alega que este reajuste é para pagar um custo já arcado pela empresa.

A AES Sul atende 118 municípios e quase 1,3 milhão de clientes.

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