Notícias



O que você acha?

Projeto quer acabar com uso de animais em ritos religiosos

Acampados em frente à Assembleia, entidades de religiões de matriz africana se mobilizam contra proposta da deputada Regina Becker Fortunati

25/03/2015 - 18h42min

Atualizada em: 25/03/2015 - 18h42min


Jeniffer Gularte
Enviar E-mail
Jeniffer Gularte / Agência RBS
Entidades religiosas estão acampanhadas em frente a Assembleia desde terça-feira

Um projeto de lei em discussão na Assembleia Legislativa pode acabar com o sacrifício de animais em cultos de religiões de matriz africana. Pela proposta da deputada estadual Regina Becker Fortunati, conhecida por defender a causa animal, fica vetada a lei estadual de 2004 que permite o livre exercício de uso de bichos nos rituais.

Projeto quer vetar sacrifício de animais nas cerimônias de umbanda e cultos afro

Em discussão nesta semana nas Comissões de Saúde e Meio Ambiente e Constituição e Justiça da AL, o projeto tem provocado mobilizações favoráveis dos defensores de animais e contrárias de entidades umbandas e africanistas de várias regiões do Estado que desde a manhã de terça-feira estão acampadas na Praça da Matriz, em frente à Assembleia. A manifestação encerra nesta quinta-feira com uma caminhada até o Mercado Público, às 16h.

Leia mais notícias do dia

"O animal para nós é sagrado"

Integrante do Conselho Unidos Pelo Axé, a Mãe Souvenir de Oxum, defende que o projeto, além de ferir o que já está na lei, persegue as religiões de matriz africana e não aceita a livre expressão religiosa. Diferente do posicionamento dos defensores da lei, Mãe Souvenir explica que o animal não é sacrificado, mas sacralizado nos rituais. 

- A sacralização tem todo um preparo, não é feito com dor, é uma santificação, elevamos ele ao orixá. O animal para nós é sagrado, é patrimônio cultural. O que a gente faz não tem nada a ver com crueldade e negatividade - assegura.

Costumam ser usados animais como galinha, cabrito, ovelha, porco e peixe que, segundo os religiosos, são consumidos por eles após a conclusão do ritual.

Além de se mobilizar contra a lei da deputada Regina, as tendas de entidades religiosas de matriz africana montadas em frente a Assembleia tocam tambor, fazem rezas e rodas de batuque na tentativa de conscientizar a população sobre os rituais e as diferentes religiões de origem africana.

Trabalhos em esquinas e encruzilhadas é outra coisa, diz Mãe Souvenir de Oxum

Além de tentar derrubar o projeto de lei, os grupos tentam desmistificar o que chamam de preconceito sobre os rituais. Segundo Mãe Souvenir de Oxum, os trabalhos com animais mortos comumente vistos em esquinas e encruzilhadas nada tem a ver com os práticas das religiões de matriz africana. Estas, conforme ressalta, são feitas apenas nos templos. 

- Todo o resto é qualquer outra coisa, mas não o que fizemos. Pessoas má intencionadas tentam nos prejudicar fazendo isso, não é desta maneira que fazemos nosso ritual. Nosso trabalho também é de conscientização. Cultuamos a natureza e jamais vamos poluí-la.

"Meu objetivo é acabar com sofrimento animal", argumenta deputada

Em entrevista ao DG, a deputada Regina Becker explica que seu projeto de lei pretende acabar com uma exceção no Código Estadual de Proteção aos Animais, que passou a valer em 2004, dando liberdade para as religiões de matriz africanas utilizarem animais em seus rituais, o que, segundo ela, é inconstitucional. Para Regina, não é possível manter em vigor uma lei que beneficia "exclusivamente" um determinado grupo. 

- Estamos aqui para propor, cobrar e fazer leis que tenham caráter constitucional e que, quando não tem, devem ser questionadas e revistas. A Constituição Federal estabelece o direito a diversidade religiosa e o direito a vida, o que inclui os animais. O meu objetivo é única e exclusivamente acabar com o sofrimento animal.

Também defensora da causa animal, a advogada criminal ambiental especializada em direitos dos animais, Luana Michels, defende que a liberdade religiosa não será afetada pelo impedimento do uso dos animais. 

- Eles tem liberdade de culto mas fazem questão de usar o sangue do animal como desculpa que fortificará os desejos das pessoas. A sacralização é o nome que eles deram para matar animais em rituais. Nenhum outro estado do Brasil permite isso.

COMO É E O QUE PODE MUDAR

O QUE DIZ A LEI
O Código Estadual de Proteção aos Animais passou a valer em 2003. Um ano depois a Assembleia aprovou um artigo, por 32 votos a 2, que autoriza o abate de animais em rituais de religiões de matriz africana.

O QUE O PROJETO DE LEI PREVÊ
No início de fevereiro deste ano, a deputada estadual Regina Becker Fortunati propôs um projeto de lei que derruba este artigo proibindo então a imolação de bichos nestas práticas. Ou seja, se for aprovada passaria a valer a versão original do Código Estadual de Proteção aos Animais que não permitia a morte de animais nestas circunstâncias.

O QUE ESTÁ ACONTECENDO
Entidades religiosas de matriz africanas questionam a constitucionalidade do projeto de Regina que esta semana foi discutida em duas audiências públicas de diferentes comissões da Assembleia: a de Saúde e Meio Ambiente e Constituição e Justiça.

O QUE VAI ACONTECER
Antes de ir a votação no plenário, a proposta deve ser discutida e aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Caso não seja, nem será apreciada pelos deputados. Se for aprovada, entra na pauta de votação da Assembleia, o que ainda não há data para ocorrer.

Curta nossa página no Facebook


MAIS SOBRE

Últimas Notícias