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Problema na educação

Faltam professores em uma a cada três escolas estaduais de Porto Alegre

Levantamento do Diário Gaúcho em parceria com a Rádio Gaúcha mostra a situação da rede de ensino

16/04/2015 - 04h04min

Atualizada em: 16/04/2015 - 04h04min


Carlos Macedo / Agencia RBS
Para suprir ausência de mestre, turmas de Ana Maria têm apenas duas horas de aula por dia

Às vésperas de completar os dois primeiros meses do ano letivo na rede estadual de ensino, uma em cada três escolas de Porto Alegre está sem algum professor. O Diário Gaúcho, em parceria com a Rádio Gaúcha, entrou em contato, entre a segunda e a terça-feira, com as 259 instituições de ensino estaduais e constatou que faltam 141 professores em salas de aula de 87 escolas da Capital.

No caso dos alunos das séries iniciais do ensino fundamental, 22 turmas estão fora da sala de aula, ou vêm sendo atendidas de maneira precária porque os professores do Currículo por Atividade (Cat) ainda não chegaram.

Há ausências constatadas ainda em disciplinas como Matemática (falta de 13 docentes), Português (13), Geografia (14), entre outras.

- A falta de professor é algo gravíssimo. Não é só ele que faz a escola, mas ele é o mediador da sociedade, há muitas coisas que ele pode fazer. Não há o que substitua a relação professor-aluno - afirma o doutor em Educação e professor da Unisinos, Euclides Redin.

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O secretário estadual da Educação, Vieira da Cunha, atribui a demora na reposição de recursos humanos à desistência de concursados e também à falta de planejamento do ano letivo, que deveria ser feito no exercício anterior.

- A reposição é do nosso cotidiano. Temos que ter mais agilidade no processo e planejamento para termos uma previsão. Lamento muitíssimo que isso esteja ocorrendo e me comprometo a tomar todas as providências para que isso não ocorra em 2016 - afirmou o secretário.

Turnos reduzidos para não haver dispensa

Na Escola Dolores Alcaraz Caldas, a falta de professor para uma turma do quinto ano exigiu uma redução de horários para que nenhum aluno deixasse de estudar. Antes da medida, porém, a professora Ana Maria Pedroso de Paoli bem que tentou atender
40 alunos numa sala que comporta apenas 30, mas não foi possível por mais do que três semanas. Desde então, uma turma tem aulas das 13h30min às 15h30min e outra das 15h30min às 17h30min.

- Ficou melhor, mas os alunos estão sendo prejudicados na carga horária - observa a professora.

Ninfa Martins, a vice-diretora do turno da tarde, revela que esta é a primeira vez que falta professor do Currículo por Atividade. A falta de perspectivas e o avanço do ano letivo preocupam. A direção tem procurado a 1ª Coordenadoria Regional da Educação (Cre) semanalmente. O caso esteve na iminência de ser resolvido com o remanejo de uma professora da rede para a Dolores, mas voltou à estaca zero.

Início da vida escolar prejudicado

- Minha preocupação maior é com o aprendizado do meu filho. Ele está perdido. Percebo que ele está com dificuldade.

O desabafo é da gerente administrativa Lurdes Becker Costa, 45 anos, que é mãe de um aluno do primeiro ano do ensino fundamental. Marcelo Becker Costa, seis anos, estuda na Escola Brasília, no Bairro São João, onde, desde o início do ano, a turma do primeiro ano está sem professor.

A saída que o diretor João Niederauer encontrou, com a concordância dos pais e autorização da Secretaria, foi deslocar uma estagiária para atender a turma.

- Mas pensávamos que seria por uns 15 dias. A estagiária seria para o quarto ano, e eles precisam de uma professora do primeiro - observa Lurdes.

Já na Escola Santa Luzia, no Bairro Santo Antônio, 22 alunos do primeiro ano aguardam a chegada de um professor.

- Eles estão em casa. Não tivemos mais como atender. Estamos perdendo alguns alunos por causa disso - conta a diretora, Envy Joy.

Em compasso de espera também está a direção da Escola José Garibaldi, no Parque Humaitá. Além da falta de um professor de Matemática e um de Religião, não há professor do Currículo por Atividade para atender os 25 alunos do primeiro ano do ensino fundamental.

- É uma situação bem complicada, mas estamos atender as crianças. Se deixarmos os alunos fora da escola, eles perdem a rotina. E os pais, quando matriculam os filhos, querem que eles tenham aula - afirma a diretora Veneza Dorneles.

Desistências atrasam o processo

O secretário estadual da Educação, Vieira da Cunha, afirma que a desistência de cerca de cem professores concursados - do universo de 540 nomeações autorizadas pelo governador - contribuiu para o atraso da chegada dos professores à sala de aula. Como as desistências têm de ser publicadas no Diário Oficial para que novos concursados sejam chamados, o processo se torna moroso.

Vieira cita ainda a falta de planejamento do ano letivo, que deveria ter sido feita no ano anterior. Segundo ele, do início do governo Sartori até o dia 9 deste mês, 1.516 professores pediram afastamento definitivo (entre aposentadorias, óbitos e exonerações). No caso das aposentadorias - cuja ausência de professores poderia ser prevista - são 600 docentes.

- Reconhecemos esta situação e estamos tomando providências para suprir essas ausências - afirma.

O secretário informa que, nos próximos dias, deverão ser supridas as 540 nomeações autorizadas e, posteriormente, será feito um novo pedido:

- Estamos em pleno processo de nomeação. E onde não houver banco de concursados, estaremos contratando (há um banco de 13 mil professores aptos a serem contratados emergencialmente).

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* Diário Gaúcho


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