Dia do Trabalhador
Terceirização e embate político marcam atos do 1º de Maio pelo país
Em São Paulo, Eduardo Cunha e Aécio Neves participaram de evento da Força Sindical, enquanto Lula prestigiou ato da CUT
FOTOS: protestos marcam o Dia do Trabalho em todo o mundo Manifesto no Rio de Janeiro ocorreu na Lapa
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
A polarização política e as divergências quanto ao projeto de lei que regulamenta e amplia as terceirizações deram a tônica nos atos que marcaram o Dia do Trabalho no país. Se, de um lado, lideranças do PT e de sindicatos ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) pediam o veto à proposta, políticos da oposição usaram o palanque da Força Sindical para defender o projeto e criticar o governo de Dilma Rousseff.
Em São Paulo, CUT e Força Sindical organizaram atos paralelos. No evento da Força Sindical, na zona norte paulistana, discursaram o senador Aécio Neves (PSDB-MG), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o ministro do Trabalho, Manoel Dias, e o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), conhecido como Paulinho da Força; já no evento da CUT, no Vale do Anhangabaú, participaram o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, e o secretário de Relações Institucionais da Prefeitura de São Paulo, Alexandre Padilha.
Lula não economizou em críticas à elite brasileira. O ex-presidente afirmou não entender o medo de que ele reassuma o governo brasileiro, acrescentando que não tem intenção de ser candidato a nada. Para Lula, a elite brasileira, que contempla banqueiros e empresários, deveria agradecer sua passagem e a de Dilma no governo. Na sua opinião, porém, eles são "masoquistas e gostam de sofrer".
O ex-presidente fez críticas ao projeto que regulamenta e amplia a terceirização no Brasil e fez ataques velados à Força Sindical, entidade que se manifestou favoravelmente ao projeto de lei e realizou evento paralelo em São Paulo.
- A quantidade de pessoas não mostra a grandeza do 1º de Maio, mas a qualidade do público - disse Lula.
No evento da Força Sindical, o senador Aécio Neves criticou o governo federal e destacou que o legado do PT deixado para os trabalhadores brasileiros foi inflação alta, desemprego crescente e o desempenho fraco da economia.
- Este 1º de Maio vai ficar lembrado na história do Brasil como o dia da vergonha, o dia em que a presidente da República se acovardou e não teve coragem de olhar nos olhos do trabalhador brasileiro para dizer que mentiu durante a campanha eleitoral, e hoje tira direitos daqueles que sustentam esse país - acrescentou o senador, em referência à decisão da Presidência da República de trocar os tradicionais pronunciamentos em cadeia nacional de rádio e TV por inserções em vídeo nas redes sociais.
O presidente Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que a presidente Dilma tem que ter "cautela" no debate sobre a terceirização.
- É muito importante que a pauta do PT não seja do governo.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, disse que a CUT não entendeu o projeto de terceirização aprovado na Câmara dos Deputados e que prevê a ampliação da terceirização para as atividades-fim das empresas.
- Tentar derrubar a proposta do projeto é um atraso. Hoje, sem regulamentação, o terceirizado é precarizado, a CUT não entendeu bem o projeto - disse o dirigente.
Segundo o presidente da CUT Vagner Freitas, a Central e outras entidades vão organizar, no dia 29 de maio, manifestações e paralisações nas estradas, fábricas e bancos e também promete uma greve geral caso o projeto de lei que regulamenta a terceirização no país passe no Senado. Esse ato, segundo Freitas, não tem data marcada e visa dar suporte à presidente Dilma Rousseff vetar o projeto que regulamenta a terceirização no Brasil.
Líderes sindicais se dividem até sobre o racha
Em lados opostos em relação ao projeto de lei 4330, que regulamenta a terceirização no País, os líderes das duas principais centrais sindicais - Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical - divergem até sobre a existência de um racha ou uma crise no relacionamento das entidades.
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, a posição da Força de se colocar favorável ao projeto da regulamentação reflete uma opção política do deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (SDD-SP), que é presidente licenciado da entidade.
- Não vejo racha. Até porque na Força tem vários sindicatos se rebelando - afirma Freitas. - Não acho que é uma posição da Força (ser contrária ao projeto) e sim do Solidariedade, que tem interesse direto no projeto.
O presidente da Força Sindical, Miguel Torres, diz que a entidade apoia o projeto com as emendas apresentadas pelo deputado Paulinho e minimiza o racha entre os grupos.
- Nossa pauta conjunta vai continuar. Contra as MPs 664 e 665 (que alteram benefícios trabalhistas como o seguro-desemprego), certamente estaremos juntos. Temos divergências. Esse é um problema pontual, mas vai passar.
Pichação, cancelamento, protestos e comemoração
No ato em comemoração ao Dia do Trabalhador organizado pela CUT-MG e movimentos sociais, como MST, sindicato dos Correios, Levante Popular da Juventude e Movimentos dos Atingidos por Barragens, na capital mineira, jovens colaram cartazes e picharam o prédio de uma agência do banco HSBC, dizendo que é o novo símbolo da corrupção no país. Depois, em frente ao prédio do Sindicato dos Jornalistas, atearam fogo em uma televisão e em revistas. Em uma das ruas do centro, habitantes de prédios chegaram a jogar água nos manifestantes, em ação contrária ao protesto. A presidente da CUT-MG, Beatriz Cerqueira, disse que a militância vai "constranger publicamente" os senadores mineiros que votaram a favor da lei da terceirização.
No Rio de Janeiro as comemorações pelo Dia do Trabalho, nesta sexta-feira, ocorrem no bairro da Lapa, no centro. Assim como no restante do país, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) protesta contra o projeto de lei que regulamenta a terceirização, em trâmite no Congresso.
A União Geral dos Trabalhadores do Estado do Paraná (UGT) e as entidades filiadas cancelaram a festa marcada para esta sexta em comemoração ao Dia do Trabalho, segundo informações da Folha de S. Paulo. O evento foi suspenso por causa da repressão policial contra manifestantes insatisfeitos com a votação de projeto previdenciário na Assembleia Legislativa. A programação aberta ao público em Brasília incluiu música ao ar livre, recreação para as crianças e comida regional, na Torre de TV, no Eixo Monumental.
* Zero Hora, Estadão Conteúdo e Agência Brasil