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Uma motogirl para ninguém colocar defeito

Frente ao maior desafio da sua vida, Ana Paula encontrou na profissão uma paixão

03/06/2015 - 07h02min

Atualizada em: 03/06/2015 - 07h02min


Jeniffer Gularte
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Luiz Armando Vaz / Agencia RBS
Trabalho na área começou há 15 anos, em uma pizzaria

Viúva aos 20 anos, Ana Paula Provensi se viu diante do maior desafio de sua vida: criar sozinha as filhas de quatro anos e de seis meses. Ganhando pouco, abandonou o emprego de cozinheira para se dedicar a uma atividade mais rentável. E, ao saber do salário que poderia ter como motogirl, decidiu encarar a profissão.

Começou a fazer habilitação há 15 anos, sem intimidade com o veículo, e comprou uma moto usada por R$ 1 mil. Hoje, o investimento não só garante o sustento dela e dos filhos - Sarana, 19 anos, Ana Elisa, 15, e Eduardo, dez - como a ajudou a comprar a casa e a moto 0km.

- A profissão veio de uma necessidade tão grande e acabou virando uma paixão fervorosa - conta.

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Entrar num universo predominantemente masculino exigiu paciência. Vencida a barreira de adquirir e dominar o veículo, ela precisava mostrar que era capaz de ser uma motogirl. Antes do primeiro emprego na área, teve diversas oportunidades recusadas por ser mulher. Depois de muita procura, foi admitida em uma pizzaria em 2000. A rota de entrega incluía bairros conhecidos pela criminalidade. A motogirl não se intimidou e manteve a vaidade. Hoje, aos 35 anos, não trabalha sem batom e esmalte.

- Diziam que era perigoso, mas perigoso era meus filhos passarem fome. Nunca fui assaltada - lembra.

Depois, atuou como motogirl em farmácia e no Hospital Cristo Redentor, transportando material de laboratório. Adquiriu rapidez para entregas - chegou a fazer 60 em um dia - e passou a se arriscar. A velocidade se tornou uma tentação em uma atividade competitiva.

- Caía de moto a cada seis meses. Até o dia em que me machuquei muito, cheguei em casa e meu filho, com seis anos na época, disse que iria me cuidar. Ali, eu vi que não dava mais. Vi muitos colegas morrendo - diz.

O último tombo foi há quatro anos. A profissional mudou a postura, decorou a legislação de trânsito, comprou equipamentos de proteção e segurou o freio. Agora, se esforça para ser exemplo à categoria.

 
Com os filhos Eduardo e Sarana | Foto: Luiz Armando Vaz

Novos sonhos

Na época em que estava construindo a casa própria, Ana Paula chegou a ter uma jornada que ia das 8h à meia-noite. Moradora do Bairro Jardim Algarve, em Alvorada, há um ano atua como autônoma em trabalhos focados principalmente na Zona Norte de Porto Alegre. Entre seus atuais clientes, estão serigrafias, imobiliárias e cartório.

Atualmente, persegue outro sonho: conseguiu bolsa integral do ProUni para o curso de Logística da Ftec. Estuda de segunda a sexta e espera se formar em dois anos. Pretende fazer concurso para ser gestora de trânsito na EPTC.

- Quero trabalhar com projetos para melhorar o trânsito - sonha.

Dicas de Ana Paula

/// Para motoboys e motogirls, o capacete tem validade de um ano. Jamais deixe ele ficar frouxo na cabeça. Isso faz toda diferença em quedas.
/// Entenda e siga a legislação. As regras não foram feitas à toa.
/// Fale a verdade para o cliente e a empresa. Não diga que fará a entrega em um tempo que você sabe que é humanamente impossível de fazer. Assim, você vai "doutrinando" o cliente a entender que, para tudo, há um tempo hábil.
/// Aprenda a lidar com o tempo, a maturidade ajuda nisso. Vendo o que acontece na rua e a quantidade de acidentes, o profissional vai amadurecendo. A imprudência, além de provocar um acidente com você, vai deixar o cliente sem o serviço.
/// Controle a velocidade e tenha amor à sua canela. Dificilmente, você irá se machucar gravemente em uma colisão se estiver a 40km/h.

*Diário Gaúcho


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