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Reciclagem como fonte de vida

Conheça a história dos catadores que mudaram de vida pela coleta de materiais recicláveis em Jaraguá do Sul

Trio pode ficar sem espaço para trabalho e vídeo produzido por produtora da cidade pede auxílios e parcerias

03/07/2015 - 09h00min

Atualizada em: 03/07/2015 - 09h00min


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Silvio, Rosangela, Carlos e Conrado se dividem catando papelão e separando para a venda.

Silvio Pereira Júnior, o Juninho, foi o primeiro do trio a começar o trabalho. Pouco mais de seis meses depois, seu irmão Carlos Roberto Pereira, 38, e a companheira de Juninho, Rosangela Arruda Alves, 39, uniram-se a ele. Catadores, o trio circula diariamente por quilômetros da cidade reunindo em seus carrinhos o papelão, o plástico, os vidros e outros objetos que são deixados nas calçadas por moradores e estabelecimentos comerciais. Juntos, enfrentam as distâncias, os dias de chuva, a separação do material, os olhares. E juntos querem se manter, usando de seu trabalho para melhorar de vida.

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Juninho, Rosangela e Carlos ocuparam por alguns anos as instalações abandonadas de uma fábrica de motores do Centro de Jaraguá do Sul. O espaço em constante deterioração era tanto casa quanto trabalho. Em meio às paredes descascadas e abertas, montaram seu lar. No pátio, mantido sempre limpo, ainda fazem a separação do material coletado.

A chegada de um representante do dono do terreno alterou essa realidade. Seu lar teve de mudar de endereço, mas para melhor. Os proprietários alugaram para eles uma casa de madeira no bairro Baependi. Pediram, também, que o trio ajude na limpeza do terreno. Por três meses, cada um receberá um salário mínimo. Depois, voltam à depender da venda dos materiais para arcar com os cerca de R$ 600 do aluguel, além das despesas diárias.

- Aqui não tinha luz, não tinha água. Para quem estava aqui, lá é quase uma mansão _ ri Rosangela.

A preocupação atual é, porém, sua fonte de renda. Em um prazo de um ano, o terreno deve ser abandonado. Sem um espaço para separar o material recolhido, seu trabalho é comprometido. O desejo é que alguma parceria pudesse ser formada: para que tenham terreno, possam talvez construir uma pequena casa e não gastar no aluguel, possam ter uma galpão onde guardar e separar seu material nos dias de chuva. Que sejam, de alguma forma, reconhecidos.

Um lugar para continuar

A história de superação do trio demonstra o esforço e desejo de resultados. Silvio olha para baixo quando começa a contar sua história. Sem entrar em detalhes, ele lembra dos anos em que viveu na rua, época em que as drogas eram sua principal preocupação. Como ele lembra, qualquer R$ 5 que estivessem em seu bolso seriam destinadas para o vício. Foi pelas ruas que ele e Rosangela se encontraram. E foi lá que firmaram o compromisso: iriam se acompanhar, se proteger e juntos deixar as drogas. Conseguiram. Superaram o vício, começaram a trabalhar.

Após oito anos de distância, Juninho reestabeleceu o contato com a família, que hoje o apoia. E seu irmão, Carlos, uniu-se a ele em um momento de dificuldade. Carlos vivia com a esposa, que sustentava o lar. Quando ela faleceu, ele viu-se também sem moradia. O desemprego foi superado com o trabalho de catação, que deu-lhe renda. E o trabalho em trio potencializa os esforços.

Com o valor reunido da venda de materiais, puderam consumir. Vieram os móveis e eletrodomésticos da antiga casa, ainda nas instalações abandonadas da fábrica. Veio a roupa, a comida. E o tempo de descanso. Autônomos, eles fazem seu próprio tempo. Porém, se o dia é de sol, não há deixa para o lazer: Silvio e Rosangela empurram juntos um carrinho e Carlos leva outro, menor. O grande, que vazio pesa 75 quilos, pode chegar a levar 150 quilos quando cheio. Se o dia é dos bons, ele é carregado três vezes. Cada viagem pode durar até três horas.

Os quilômetros a pé, por diversos bairros da cidade, não os assustam. Antes disso, até agradam: não ficam doentes há anos, contam eles sorrindo. E nas ruas eles não vão sós: o trio canino Duda, Negão e Ventania acompanha cada passo dos catadores pela cidade, como os fieis escudeiros do trio bípede.

Em busca de alternativas de um espaço para trabalho e moradia, Rosangela, Juninho e Carlos encontraram na figura do educador social Nelson de Faria Campos uma oportunidade de mandar um recado. Foi a Luciano Huck que o vídeo carta foi endereçada, mas o pedido é público: coragem e força eles têm, o que precisam é de apoio e parcerias para seguir em frente. O que não querem é repetir o que já viveram: voltar às ruas, ficar sem teto, sem trabalho. O vídeo, disponível no YouTube, é um apelo a alguém distante. Se a ajuda vier de perto, melhor.

 

Cadastro visa melhorias para catadores

Quando o programa Recicla Jaraguá foi lançado, no fim de 2013, a Fundação Jaraguaense de Meio Ambiente (Fujama) já tinha a intenção de fazer um cadastro com os catadores e os separadores de materiais recicláveis da cidade. O edital para o cadastro ainda está em avaliação no jurídico da Prefeitura, mas a expectativa é que seja publicado ainda neste ano.

Segundo o diretor da Fujama, Leocádio Neves e Silva, o objetivo é primeiro ter informações sobre a realidades desses trabalhadores em Jaraguá do Sul, para então implantar ações de reconhecimento e melhorias. Entre as propostas está a criação de um carrinho com sinalização, que tornaria os percursos mais seguros. Um uniforme para o trabalho também está na lista. Apesar da resistência que alguns catadores demonstraram quando escutaram sobre o projeto, Leocádio afirma que a ideia vai além de questões ambientais.

- A ideia é torná-los visíveis para sociedade. Hoje eles são marginalizados, moradores acham que não podem dar o material para eles. Mas eles podem sim _ afirma.

Não há dados oficiais, mas seguindo estimativas de outras cidades do mesmo porte de Jaraguá do Sul, pode haver até 500 pessoas vivendo da coleta de lixo reciclável no município.


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