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Depois da enchente

Entenda por que as torneiras estão secas em quatro cidades da Região Metropolitana

O Diário Gaúcho mapeou as causas do problema em Gravataí, Cachoeirinha, Alvorada e Viamão

24/07/2015 - 07h06min

Atualizada em: 24/07/2015 - 07h06min


Jeniffer Gularte
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Diego Vara / Agencia RBS
Rosana (E) cede a água para os vizinhos

Cinco dias se passaram desde a última vez que 410 mil moradores de Alvorada e Viamão viram água em suas torneiras. Outras 215 mil pessoas de Gravataí e Cachoeirinha também estão totalmente sem água ou recebendo o líquido em rodízio desde então.

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Em Gravataí e Cachoeirinha, há perspectiva de volta do abastecimento a partir de hoje. Para Alvorada e Viamão, porém, ainda não há previsão para o retorno da água.
Praticamente submersa pelo Rio Gravataí desde segunda-feira, a Estação de Bombeamento de Água Bruta é responsável pelo abastecimento de Alvorada e de 80% de Viamão.

Como os moradores de Alvorada driblam a falta de água

Com o nível do rio em 6,8m e sem perspectiva de baixar, a Corsan isolou o prédio onde estão os motores das bombas que captam a água com sacos de areia e pedras e esvazia a água do prédio com bombas movidas a óleo diesel. Com isso, verificou-se que, se o prédio fosse melhor vedado, talvez, o transtorno pudesse ter sido evitado.

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O diretor de Operações da Corsan, Eduardo Carvalho, já assume a necessidade de se fazer investimentos no local:

- Em 40 anos, não havia dado problema. Agora, teremos que fazer um vedamento definitivo para que não ocorram mais alagamentos.

Na tarde de quinta-feira, dia 23, mergulhadores mapeavam o local, em busca de um ponto de fuga de energia que impedia o religamento da rede. Com a rede elétrica ligada, o próximo passo será verificar se os motores atingidos pela água - cada um pesa três toneladas - precisarão ser substituídos.  

1) A estação fica às margens do Rio Gravataí, próxima ao Distrito Industrial de Alvorada. Abriga cinco motores que acionam bombas submersas no rio para captar a água.

2) Desde segunda-feira, a água do rio atingiu as instalações do prédio, impossibilitando o funcionamento dos motores.

3) Nesta quinta-feira, dia 23, o nível do Rio Gravataí estava em 6,8m. Para fazer os motores funcionarem, a água teria que baixar, ao menos, 2m.

O que poderia ter sido feito

Uma solução para evitar o problema, na opinião do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí, o geólogo Sérgio Cardoso, seria a construção da casa de motores mais distante do rio ou em um nível muito mais alto. O comitê faz diagnósticos, programa ações e prevê cenários futuros para o Rio Gravataí desde o final da década de 1970.

- Tecnicamente, é possível a construção, embora com um custo mais alto. Mas é um custo de segurança - avalia Sérgio.

Outro fator que agrava o alagamento, segundo ele, é o fato de a urbanização das cidades tornar o solo cada vez mais impermeável e com poucas áreas de banhado, que absorvem com mais rapidez a água da chuva.

Cidades afetadas

- Alvorada: toda a população (210 mil pessoas) sem abastecimento da Corsan
- Viamão: 80% da cidade sem água (200 mil pessoas)
- Cachoeirinha: toda a população (125 mil pessoas) recebe água no esquema de rodízio
- Gravataí: um terço da população (90 mil pessoas) com rodízio na água

Melhora parcial

Graças a manobras operacionais da Corsan, utilizando água de uma estação de Canoas, o abastecimento de água em Cachoeirinha e Gravataí pode ser normalizado a partir da manhã de hoje. 

Em Viamão e Alvorada, porém, ainda não há previsão de retorno da água. Ontem, o Procon-RS notificou a Corsan, para que o órgão disponibilize mais informações sobre o problema no abastecimento.

O cotidiano de uma população inteira sem água

A chuvarada impôs uma contradição aos moradores de Alvorada: enquanto os pátios das casas ainda permanecem úmidos, as torneiras estão secas.

Em frente a uma residência da Rua Noruega, no Passo do Feijó, a vizinhança se enfileira munida de baldes e garrafas. A mangueira junto à grade é a salvação para quem não tem poço artesiano.

- Nestas horas, precisamos ser humanas e ajudar - conta a dona da casa, Rosana Schuquel, 50 anos.

Lá, a coleta começa de manhã cedo e passa da meia-noite. Rosana acredita que, ontem, mais de cem pessoas aproveitaram sua ajuda. Como o motor do poço fica ligado o dia inteiro, a vizinha da frente pediu aos que tiverem condições uma contribuição de R$ 2 para pagar a conta de energia elétrica.

Uma das pessoas que têm ido diariamente até a casa de Rosana é Sandra Bernadete Nunes, 52 anos. A água levada em seis baldes é utilizada pela doméstica para higiene pessoal, cozinhar e escovar os dentes - a quantia do banho é aproveitada na descarga.


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