Planeta Ciência



Trouxeram a vida para a Terra?

Pouso da Philae resulta em fascinante teoria sobre a vida no cometa Churyumov-Gerasimenko

A comunidade científica acredita que os cometas não apenas trouxeram água, mas também encheram os oceanos com moléculas complexas

07/07/2015 - 18h08min

Atualizada em: 07/07/2015 - 18h08min


Jean-Yves Le Gall said. AFP PHOTO / ESA MEDIALAB

O cometa Churyumov-Gerasimenko, onde o robô europeu Philae aterrissou em novembro do ano passado, poderia abrigar microrganismos em abundância - é o que diz a teoria apresentada nesta segunda-feira por dois astrônomos durante uma conferência científica na Grã-Bretanha.

Robô espacial Philae acorda e envia recado

Caso a tese seja confirmada, reforçaria a teoria segundo a qual os cometas desempenharam um papel importante na aparição da vida sobre a Terra. A comunidade científica acredita que não apenas levaram água, mas também encheram os oceanos com moléculas complexas.

Robô Philae encontra gelo e moléculas orgânicas em cometa
Por que o mundo ficou atento ao pouso de uma espaçonave em um cometa?

Os cometas são pequenos corpos do sistema solar constituídos por um núcleo integrado por gelo, matéria orgânica e rochas, tudo cercado por pó e gás.

Em vídeo, entenda como foi realizada e a importância dessa missão


Desde agosto, o cometa 67P/Churymov-Gerasimenko está escoltado pela sonda europeia Rosetta a caminho do Sol, atualmente a uma velocidade de 32,9 quilômetros por segundo.

Os dados coletados pela missão Rosetta revelaram uma superfície preta, rica em materiais orgânicos complexos que abrangem o gelo. As imagens mostram grandes "mares" e lagoas que poderiam ser formadas por água congelada coberta por detritos orgânicos e grandes blocos.

Local de pouso da sonda Rosetta em cometa é definido
Sonda europeia Rosetta chega a cometa após 10 anos de navegação pelo espaço

Todos estes elementos são "compatíveis" com a presença de organismos vivos microscópicos, disse Max Willis, da Universidade de Cardiff e Chandra Wickramasinghe, diretor do Centro de Astrobiologia de Buckingham, durante uma reunião da Royal Astronomical Society, em Llandudno, País de Gales.

- Rosetta já mostrou que um cometa não deve ser considerado um corpo muito frio e inativo, mas neles ocorrem em fenômenos geológicos e podem vir a ser mais acolhedores para os microrganismos que o Ártico ou a Antártica - explicou Max Willis em declaração.

A detecção pelo robô Philae de moléculas orgânicas complexas em abundância na superfície do cometa ajuda a proporcionar um "teste" da presença de vida, de acordo com os pesquisadores.

Sais anticongelamento

- Os microrganismos se desenvolveriam sob a superfície, levando à formação de bolsões de gás em alta pressão que quebrariam o gelo liberando partículas orgânicas - disse Chandra Wickramasinghe.

De acordo com o modelo apresentado pelos dois cientistas, estes micróbios podem se alojar nas fendas de gelo e de neve. Possivelmente contendo sais de anticongelamento, o que permitiria sua adaptação ao frio e permanecer ativo em temperaturas de 40 graus abaixo de zero.

Em setembro passado, as áreas do cometa expostas à luz solar já se aproximavam dessa temperatura quando estava cerca de 500 milhões quilômetros do Sol, e começou a emitir um fluxo de gases, destacam.

Desde então, o cometa chegou muito perto do sol e em 13 de agosto atingirá seu periélio - o ponto de sua órbita mais próximo do sol -, cerca de 186 milhões de quilômetros.

À medida que o cometa se aproxima do Sol, a temperatura aumenta, as trilhas de gás e poeira se intensificam e os microrganismos devem aumentar sua atividade, os investigadores estimam. Se tudo correr bem, Rosetta e Philae estarão na primeira fila para observar o fenômeno.

O objetivo da missão Rosetta, organizada pela Agência Espacial Europeia (ESA), é compreender melhor a evolução do sistema solar a partir do momento do nascimento, com os cometas vistos como vestígios de matéria primitiva.

Lançada em março de 2004, a sonda Rosetta viajou por dez anos acompanhada de Philae até se encontrar com o cometa 67P. Em 12 de novembro o robô pousou no cometa, em uma façanha histórica.

O robô-laboratório trabalhou por 60 horas antes de 'adormecer' por causa da iluminação insuficiente de seus painéis solares. Acordou em junho, graças ao aumento da temperatura e da la luz solar.

*AFP


MAIS SOBRE

Últimas Notícias