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Postagem do bem

Homem postou pedido no Facebook e ajudou senegalês a encontrar emprego

Depois de várias tentativas "convencionais", Ivandro encontrou em rede social apoio para o amigo estrangeiro

10/09/2015 - 03h32min

Atualizada em: 10/09/2015 - 03h32min


Bruna Scirea
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Jefferson Botega / Agencia RBS

Em busca de emprego, Moussa Mbodji, 21 anos, deixou o Senegal, a mãe, o pai e os 11 irmãos há quatro meses. Tomou um avião até o Equador, com escala na Espanha. De ônibus, atravessou o Peru. A pé, cruzou a fronteira com o Brasil. Desembarcou em Florianópolis, passou um tempo em Caxias do Sul e, por fim, esbarrou na solidariedade em uma praça de alimentação de um shopping de Porto Alegre.

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Esse encontro não marcado foi há três semanas. O jovem percorria os restaurantes do centro de compras com cópias de seu currículo na mão. As folhas diziam que ele tinha segundo grau completo, falava francês, um pouco de português, e estava disponível para trabalhar como auxiliar de produção, serviços gerais ou limpeza. Era horário de almoço, a praça estava lotada, e garçons corriam de um lado para outro. Nada de atenção para Moussa. Parecia ser mais uma entre as tantas tentativas sem sucesso.

Só que, de uma das mesas da praça, alguém acompanhava a saga do senegalês. Ivandro Silveira, 29 anos, operador de processos petroquímicos, tinha um olho na filha - que almoçava antes de ir para a escola -, e outro em Moussa. Quando o imigrante estava quase desistindo, Ivandro pegou a menina pela mão.

- Vamos lá ajudá-lo - disse.

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Ivandro o acompanhou na distribuição dos currículos, ficou com um deles e pegou o contato de Moussa. Baixou um aplicativo para poder traduzir as mensagens para o francês e, nas conversas via WhatsApp, leu que o senegalês viajou durante 13 dias até chegar ao Brasil e gastou cerca de R$ 20 mil no percurso - um investimento possível com ajuda de toda a família. Ficou sabendo ainda que Moussa mora em um JK com outras seis pessoas. Cada um paga em torno de R$ 110 de aluguel. Eles dormem em dois nos colchões de solteiro e em três no de casal. Todos eles se empilham com um único objetivo: economizar tudo o que podem para mandar o máximo de dinheiro possível para a família no Senegal. Estão aqui, mas a vida continua na África - pelo menos até que consigam trazer seus familiares para cá.

Assim, passaram-se três semanas. Ivandro conversou com amigos empresários em busca de vagas, e nada. Só que, insistente, não se aquietou e, na quinta-feira passada, postou a trajetória de Moussa no Facebook. Pimba. Em poucas horas, teve a postagem compartilhada por mais de três mil pessoas, recebeu centenas de ligações e mensagens - algumas delas oferecendo vagas de emprego. E, em menos de um dia, viu se desenrolar uma história daquelas que só são possíveis a partir de uma corrente de personagens - todos eles imprescindíveis.



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O impulso de generosidade brotou em Ivandro, que o espalhou a partir de um terminal de computador instalado na Zona Norte, que permitiu que a mensagem chegasse até o Facebook da cabeleireira Cristiana Machado, na Zona Sul, que a leu em voz alta enquanto atendia a gerente de posto Angelita Naimeyer, que levou o caso para o chefe, Jackson Carboni, que deu o recado: "pede para ele trazer o currículo aqui" - mensagem que foi levada até Cristiana por Angelita, até Ivandro por Cristiana e até Moussa por Ivandro. Na tarde de quinta, Moussa estava de uniforme, treinando com colegas do posto Lagos de Ipanema. Quando completar um mês de trabalho, com carteira assinada e tudo, Moussa terá na conta R$ 1,2 mil, mais vale transporte e uma cesta básica. Está feliz da vida com isso.

E não é só ele. Na última quarta, todos os personagens desta história se encontraram no posto onde Moussa virou atração. Cristiana se sentia recompensada por poder ajudar alguém que "precisa e dá valor". Angelita coordenava o trabalho de Moussa no abastecimento dos carros e repetia que "todos estão aprendendo muito com ele, e ele com todos". Jackson já pensava em abrir mais duas vagas em outros dois postos. E Ivandro tinha a sensação de missão cumprida: além do emprego de Moussa, ele já encaminhou pelo menos outras 10 vagas para outros imigrantes. Ou quase cumprida. O que o padrinho de Moussa quer mesmo é que sua história sensibilize e se tranforme em outras:

- O que fiz não foi grandioso. Eu estava na minha rotina e vi a oportunidade de ajudar alguém. Muita gente quer ajudar, vê alguem precisando, mas encontram uma certa barreira, principalmente no caso deles, que não falam português ou inglês. Isso não é problema. Se você falar com eles, vai ver o sorriso e o carinho que têm. São pessoas super alto astral e cativantes. É preciso sair da inércia.

Veja o agradecimento de Ivandro na rede

Posted by Ivandro Silveira on Quinta, 3 de setembro de 2015

OS BONS SÃO MAIORIA: Ontem fiz uma postagem para ajudar Moussa Mbodji este Senegalês que veio para o Brasil para tentar...


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