Quem aproveitar o feriadão para dar um passeio até o Litoral Norte poderá levar um susto. E, do jeito que estão as cidades litorâneas, será preciso paciência e atenção redobrada para curtir as praias neste veraneio se os responsáveis não conseguirem recuperar as estruturas a tempo.

Leia mais notícias do dia

Faltando menos de dois meses para o verão, as principais vias interpraias apresentam profundos buracos em pelo menos sete trechos e muitas das próprias ruas dos municípios estão tomadas por água e lama, herdadas dos últimos temporais no Estado. Além disso, há problemas nas rodoviárias e em alguns pontos da orla.

O Diário Gaúcho percorreu cinco praias - Pinhal, Quintão, Magistério, Cidreira e Tramandaí - para verificar como elas estão se preparando para receber os turistas.

No caminho de Porto Alegre ao litoral, tanto a ERS-040 quanto a freeway estão com boa manutenção. O que apavora os visitantes e moradores são as condições para quem transita nas vias entre as praias e, mais ainda, dentro delas.

Ilhados

Um exemplo de falta de infraestrutura acontece em Quintão, onde cerca de 60 famílias ficam ilhadas na Rua Alegrete, que também é a rua da subprefeitura, toda vez que chove.

Em decorrência da água, um lodo toma conta de cerca de 1km da via, impedindo a passagem de veículos comuns e obrigando moradores a passarem com carros adaptados ou carroças.

Nelma Patrícia Teixeira, 32 anos, recicladora e mãe de três crianças, afirma que só consegue trabalhar "quando dá para sair de casa".

- A rua que era de paralelepípedo foi tomada pelo barro por falta de manutenção da prefeitura. A situação está horrível. Quando chove, só consigo sair porque tenho o cavalo - conta.



Segundo os moradores, alguns revoltados com a situação chegaram a apedrejar veículos da prefeitura na última quarta-feira. A prefeitura diz que irá colocar saibro na rua assim que o tempo firme se estabilizar.

Pinhal



Mobilidade: RUIM

Prepare-se para enfrentar a buraqueira. Logo na entrada de Pinhal, o turista é recebido por pelo menos 20 buracos, um atrás do outro, na Avenida Marechal Castelo Branco, continuação da ERS-040. Um deles é um velho inimigo do proprietário de uma oficina de carros. Junior Torelly, 45 anos.



- O buraco maior existe há pelo menos cinco anos. O pessoal aparece aqui para tapá-lo, mas colocam um asfalto fino que se desmancha na primeira hora. Já cansei de ver rodas dos carros saltando por caírem nas crateras - conta.

A buraqueira se repete dentro da cidade.

Rodoviária: RUIM



O posto de bilhetes está com as portas fechadas desde 10 de setembro deste ano. Até um novo posto ser aberto, quem quiser comprar passagem antecipada deve ir a Cidreira. Se quiser comprar na hora, a passagem em ônibus comum está sendo vendida pelo cobrador do transporte, já as viagens semi ou diretas são comercializadas por um fiscal que circula pela estação. Os moradores reclamam da falta de banheiros na rodoviária.

Orla: MÉDIO



A passagem principal para a orla da praia é ampla, mas há um escoamento de água da chuva que faz com que os turistas tenham que molhar os pés logo na entrada. Banheiros químicos estão instalados em frente à entrada e devem atender aos veranistas, mas, ao longo do banco de areia faltam lixeiras. As casas dos salva-vidas, ainda vazias, estão inteiras para o veraneio.

Resposta da prefeitura:

Há cerca de 15 mil habitantes fixos na praia do Pinhal, mas durante o veraneio, a cidade chega a ter 120 mil pessoas. De acordo com o chefe de gabinete da prefeitura de Pinhal, Ubirajara Neto Kreceski, a prefeitura está aguardando o tempo seco se estabilizar para recuperar as ruas e tapar buracos como na Avenida Marechal Castelo Branco.

Segundo Kreceski, o ponto de vendas de bilhetes de ônibus deve abrir dentro do Golfinho Center Shop, na Avenida General Osório, 525, ainda sem prazo. Já na rodoviária, a sala de espera e os banheiros devem ser reabertos para uso público e ficarão sob cuidados dos comerciantes locais. Na orla da praia, a prefeitura afirma que o esgoto que escorre para o mar é pluvial, ou seja, formado pela água da chuva. Para esperar os veranistas, a cidade deve começar a fazer uma limpeza urbana e restaurar a iluminação pública.

Quintão

Mobilidade: RUIM

Saindo de Pinhal, os motoristas precisam escolher o buraco menos pior para passar, tamanho é o número de crateras na Avenida Itália, que se transforma em Rodovia do Mar, ou RS-786. As péssimas condições seguem nas ruas de Quintão, como na Avenida Esparta. Em compensação, duas grandes avenidas estão recebendo novo asfalto: a Bispo Sardinha e a dos Bancários.



No acesso à rodoviária, a rua teve um saibro colocado há pouco tempo que quase já não existe. Por conta das chuvas, o material se deteriorou e pode prejudicar o tráfego de ônibus. 

- Estamos esperamos pelo asfalto há três mandados da prefeitura, eles sempre prometem, mas ainda nada - comenta a dona da concessionária da Rodoviária, Madalena Terra, 37 anos.



Outro problema das vias é a quantidade de caliça nas calçadas, deixada por construções.

Rodoviária: MÉDIO



A rodoviária funciona normalmente, com duas linhas, uma com destino a Porto Alegre e a outra Tramandaí, todos os dias, porém a estrutura externa do local aparenta estar tomada pelo mofo. Dentro, tem banheiro funcionando e bancos de cimento.

Orla: RUIM



Uma estrutura de madeira não acabada "decora" a praia, onde restos de lixo estão espalhados pela areia. Há diversas trilhas de escoamento de água e falta infraestrutura como lixeiras, ducha e banheiros. As guaritas salva-vidas precisam de pintura.

Resposta da prefeitura:

Cerca de 5 mil pessoas vivem em Quintão, mas no verão chega a 100 mil. O prefeito de Palmares do Sul, Paulo Henrique Lang, aponta que Quintão nunca teve boas obras de infraestrutura nas administrações passadas.

- Fomos extremamente prejudicados pelos temporais. A verba que a prefeitura recebe para realizar devidas obras é insuficiente - defende.

O prefeito afirma que não foi possível atender a todas as necessidades e, por isso, foi preciso ter prioridades. A Avenida dos Bancários, onde ficam o posto de saúde, escola e igreja, está recebendo obras de melhoria do asfalto no valor de R$ 1,5 milhão. A obra de tapa-buracos começou ontem na Avenida Esparta e deve ser finalizada até o fim de novembro.

Na rodoviária, novamente será colocado saibro para melhorar a passagem dos veículos. Segundo o prefeito, a Rua Alegre ficou deteriorada por conta das chuvas. Ele afirma que a rua está sendo patrolada e drenada para facilitar o acesso dos moradores. No dia 1° de dezembro, começa um trabalho intensificado de limpeza na orla e os banheiros químicos serão colocados próximo as praias.

Magistério



Mobilidade: MÉDIO

O trecho da ERS-786 da praia de Quintão até Magistério apresenta alguns buracos pontuais na rodovia, mas motoristas não chegam a encontrar grandes estragos. Dentro da cidade, é preciso torcer para não chover, caso contrário a maioria das ruas fica alagada.



Rodoviária: RUIM



Pela cidade não ter rodoviária, as pessoas precisam aguardar os ônibus em paradas na beira da Avenida Paraguassú. Logo em frente à estrutura, que abriga cerca de quatro pessoas sentadas, uma poça gigante acumula água quando chove, dificultando a parada dos transportes no local. É preciso comprar passagem com o cobrador ou ir até Cidreira para fazer a compra antecipada.

Orla: MÉDIO



Há pelo menos dois esgotos que correm em direção ao mar. A maioria dos acessos é feita por cima das dunas, que está repleta de destroços de casas. A praia tem estruturas de lixo espalhadas por toda a praia, apesar de alguns estarem vandalizados.

Resposta da prefeitura:

A prefeitura de Pinhal é quem responde por Magistério, por este ser um distrito do município. O chefe de gabinete, Ubirajara Neto Kreceski, fala que a praia não tem rodoviária por conta da falta de interesse de empresas privadas em administrar a estrutura. Foi feito um edital e não houve interessados. Sobre as casas demolidas na orla, a prefeitura afirma estar retirando os destroços das residências. 

- A retirada das famílias em terreno da Marinha consiste em ação do Ministério Público que existe há mais de 15 anos. O município é encarregado de fazer os desmanches e recolher - explica.

Cidreira



Mobilidade: RUIM

Na chegada à Cidreira pela ERS-786, há buracos dos Km 42 ao 45. Alguns são tão grandes que os carros não tem opção se não adentrar nas profundidades.



Rodoviária: BOM

Pelo menos sete linhas de ônibus circulam pela rodoviária diariamente. Uma boa estrutura garante que os usuários não peguem chuva na hora de embarcar, porém a proteção não abrange todos os boxes dos ônibus.



Orla:  MÉDIO

A areia tem dejetos escuros que interferem no aproveitamento da orla. As duchas funcionam, mas não há banheiro público por perto. Bancos da pracinha na orla estão quebrados e falta manutenção.



Resposta da prefeitura:

Conforme o secretário de Obras Manoel Martins, os buracos nas vias de responsabilidade da prefeitura se agravaram por conta dos temporais, mas devem ser consertadas até início de dezembro.

Na Avenida Mostardeiro, por exemplo, o órgão deve recapear o asfalto ainda para este feriado de Finados. O secretário garante tapar os buracos com saibro peneirado, para amenizar a situação. A rua da rodoviária também deve ter operação tapa buracos.

A partir de novembro, a prefeitura começa a pintar as casas de salva-vidas da orla. Segundo o secretário, uma operação de limpeza deve começar na manhã desta quarta-feira para deixar o local apropriado para o feriadão.

A sujeira que atingiu o litoral de Cidreira, deixando também um cheiro forte de animais mortos, deve ser recuperada até esta sexta-feira. Até 120 banheiros químicos serão instalados a partir de dezembro.

Tramandaí



Mobilidade: RUIM

No trajeto entre Cidreira e Tramandaí, um caminhão arrisca sair da pista e passar pelo acostamento para desviar de uma cratera no asfalto da RS-786. A rodovia, como as demais, tem erosões no solo que prejudicam os veículos. Porém, dentro do município, as vias possuem boa manutenção, sem problemas de buracos.

Rodoviária: MÉDIO



A rodoviária funciona normalmente, mas um buraco de cerca de 6m de largura sacode a passagem dos grandes veículos.

Orla: MÉDIO



Na praia, onde dezenas de surfistas pegam ondas o ano inteiro, as estruturas de acesso de madeira estão danificadas. As casas de salva-vidas estão pichadas e com estruturas quebradas. Faltam lixeiras e banheiros na praia.

Resposta da prefeitura:

Segundo o secretário de Turismo e Desporto de Tramandaí, Rojoel Amaral, começa amanhã uma operação limpeza para retirar restos de obras e demais dejetos da beira mar. Até o fim de semana, a praia deve estar limpa para receber os turistas.

Nas calçadas junto à orla, serão recolocadas as pedras para melhorar o passeio dos pedestres. Até o dia 20 de novembro, todos os quiosques da beira mar devem estar reformados e pintados de maneira padrão para melhorar a qualidade. Para acessar a praia, os veranistas devem contar com passarelas reformadas a partir do dia 15 de dezembro.

Segundo Amaral, o Daer iniciou nesta terça-feira as obras de tapa buracos na RS-786 na saída de Tramandaí em direção à Cidreira.

Já existem alguns banheiros químicos ao longo do calçadão, mas até o dia 15 de dezembro serão colocados três banheiros em contêineres na zona central da cidade e outros 100 banheiros químicos devem reforçar a cidade em alta temporada. Para evitar sujeira na praia, a prefeitura terá ações de limpeza todos os dias pela manhã e a distribuição de sacolinhas de lixo.

Daer não tem verbas

Segundo o Daer, o aumento de buracos nas rodovias foram ocasionados pelas chuvas e pela falta de material (asfáltico e pétreo). Para amenizar a situação a 16ª Superintendência Regional do Daer (Osório) está aguardando a ativação do Contrato de Conserva por parte da empresa, que atenderá os trechos com problemas mais críticos na ERS-786. Para a SR continuar os reparos, é necessária a liberação de Emulsão, matéria prima para a realização dos reparos.