Cheia do Guaíba
Abrigados no Tesourinha, moradores das ilhas reclamam de improvisos
Após serem retirados às pressas de escola alagada, desabrigados se queixam da falta de água quente e da distância de suas casas
Enquanto dezenas de crianças aproveitavam a quadra e as arquibancadas do Ginásio Tesourinha para brincar, mães, pais e funcionários da Defesa Civil tentavam organizar o espaço para abrigar as cerca de 120 pessoas que estão refugiadas no local por conta da enchente do Guaíba. O ginásio vai receber, até o final da tarde, um total de 200 desabrigados da Ilha Grande dos Marinheiros, que precisaram deixar suas casas e a Escola Estadual de Ensino Fundamental Alvarenga Peixoto - que chegou a ser usada como abrigo provisório, mas também foi tomada pela água - após a cheia histórica do Guaíba, cujo nível chegou a 2,79 metros na tarde deste domingo, maior marca desde 1978.
Aos poucos, o ginásio vai sendo estruturado para servir como abrigo temporário até, pelo menos, quinta-feira - o nível das águas não deve baixar antes do dia 15. A Defesa Civil segue recebendo doações de roupas, alimentos, colchões e brinquedos. Mas as famílias penam com o improviso de tudo.
- A gente teve de brigar pelos colchões. Estamos desde ontem (sábado) só à base de café e pão - disse Risaura Cristina Castro, 34 anos, que estava acompanhada do marido Marco Antônio da Costa, 41 anos, e da filha Brenda Castro, 17 anos. A família estava em uma das oito áreas na quadra do Tesourinha e conversava com amigos que estavam na mesma situação. Carolina Almeida, 21 anos, tinha recém conseguido roupas secas para a filha Thayla, de cinco meses.
Risaura falou sobre a situação na sua casa e disse que, em 24 anos morando na ilha, nunca havia passado por situação parecida.
- A escola era desassistida, mas lá a gente tinha micro-ondas para esquentar a comida e podia cuidar das nossas casas. Aqui ainda não tem água quente nos chuveiros e nem tomada - explicou Risaura. - Fui ver mais cedo como estava a minha e tinha água na altura do joelho dentro de casa. Ainda tive tempo de erguer a geladeira, mas o resto foi tudo. A gente tem medo de saques - completou.
Risaura, com a sobrinha Isadora, ao lado do irmão Márcio, é uma das desabrigadas
Foto: Félix Zucco/Agência RBS
Loreci Gregório, 42 anos, também estava com a sua família em uma das áreas do ginásio. Ainda sem receber colchões, ela, a irmã Landraci Gregório, 45 anos, maridos, filhas e netas haviam acabado de receber mudas de roupas secas e tentavam organizar tudo.
- Moro há 30 anos no fundão da ilha e nunca tinha visto enchente assim. Desligaram a água e a luz e a gente não conseguiu pegar nada. Fomos para a escola hoje (domingo) pela manhã, mas aí já estavam trazendo o pessoal para cá - disse.
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A Defesa Civil seguia trabalhando para melhorar o ambiente do ginásio. Aos poucos, extensões elétricas eram montadas na quadra, e os aquecedores dos chuveiros foram ligados no final da tarde. De acordo com David Madalena, do projeto Porto Alegre Resiliente - que trabalha em parceria com a Defesa Civil -, assim que todas as pessoas chegarem a situação vai melhorar.
- Vamos fechar o ginásio às 18h30min só para quem está abrigado aqui. Aí teremos como montar tudo.