Opinião
Carlos Etchichury: A economia que sai caro
Editor-chefe do Diário Gaúcho comenta a polêmica dos agentes de saúde que viraram carteiros em Viamão
O Diário Gaúcho do último final de semana trouxe uma informação curiosa. A prefeitura de Viamão decidiu que agentes comunitários de saúde trabalhariam como carteiros no mês setembro. Em vez de auxiliar mães de recém-nascidos e atuar na prevenção de doenças, agentes entregaram carnês do Recred - programa de recuperação de créditos que permite quitar dívidas como IPTU e ITBI.
Os agentes não estão no desvio de função porque é desnecessário atuar na saúde. Pelo contrário. Todos os dias, sem exceção, chegam reclamações de usuários da saúde pública em Viamão. Então, por que motivo um exército de homens e mulheres, remunerados com o nosso dinheiro pelo Ministério da Saúde, deixa de atuar na prevenção para virar carteiro? Para economizar R$ 3 mil - dinheiro que seria gasto com a postagem via correio.
Pela lei, agentes podem exercer outras funções desde que ligadas à saúde. E os carnês do Recred não têm nada a ver com saúde, certo? É o que você deve estar pensando - menos os gestores de Viamão. Para a secretária da Saúde, Sandra Sperotto, "os folhetos e o carnê estão relacionados à saúde".
Não tenho dúvida das boas intenções da prefeitura. Em tempo de gastança sem critérios e cofres raspados, é louvável um gestor que busca alternativas para as contas públicas. Mas tudo tem limite. Além de insignificante, esta economia afeta um trabalho já consagrado em todo país, sobretudo nos grotões e nas periferias. Muitas vezes, informações adequadas e medidas preventivas, além de salvar vidas, evitam gastos muito maiores no futuro com medicação, exames, internação e até cirurgias. Se a moda pega, em breve teremos brigadianos distribuindo doc do IPVA, professores entregando conta de luz, azulzinhos colocando multas nas correspondências. É uma economia que pode sair caro.
* Diário Gaúcho