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Resgate

Ela construiu um abrigo para animais abandonados na enchente e divide a própria comida com eles

Moradora do Bairro Meu Rincão, atingido pelo temporal em Cachoeirinha, cuida de mais de 30 bichos resgatados das cheias

20/10/2015 - 07h10min

Atualizada em: 20/10/2015 - 07h10min


Assim que o nível do Arroio Sapucaia começou a subir com as chuvas da semana passada, a cozinheira Isabel Cristina Rosa Batista, 50 anos, deixou o conforto do colchão de casa, no Bairro Meu Rincão, um dos mais atingidos pelo temporal em Cachoeirinha, para colocar os mais de 30 animais que cuida em um galpão, na parte mais alta do terreno.

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Com a água cobrindo 1m da residência, os cinco filhos e netos foram procurar um abrigo, mas ela, mesmo ilhada, fez questão de ficar no estabelecimento e cuidar dos pelo menos 16 cães, oito gatos e muitas galinhas.

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Dos animais, apenas três cachorros são originalmente de Isabel. Foi com a intenção de salvar não só os dela, mas também animais abandonados por vizinhos em diversas enchentes e também deixados na estrada próxima ao bairro, que Isabel construiu um ambiente de madeira para que pudesse servir de abrigo temporário. Uma verdadeira arca de Isabel.  

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- Quando vem a água, as pessoas saem de suas casas e deixam os cachorros para trás. Não posso, de maneira nenhuma, deixá-los morrer com as enchentes, por isso acabo fazendo o resgate - relata.

Moradora do bairro há dez anos, ela conta que já está acostumada a lidar com as cheias, já que o bairro não possui infraestrutura adequada e alaga facilmente. O problema é que, quando a água baixa, ninguém aparece para buscar seus cães e, com isso, Isabel vai acumulando animais.

Ganhando pouco mais de um salário mínimo, a cozinheira gasta parte do dinheiro para comprar medicamentos. Além dos cuidados próprios, precisa se esforçar para alimentar os bichos. 

- Eu não tenho dinheiro para comprar ração, o que eles comem é o que eu como também. Já cansei de ter que cozinhar para mim e para os bichos. Nós dividimos a comida. O que eu me apavoro é com as pessoas. Se não querem um animal, por que tê-los? - reflete.

Albergue à vista

Isabel conta que já ligou para a prefeitura para que recolhessem os animais, mas ninguém apareceu. A prefeitura de Cachoeirinha, porém, afirma que não sabia do caso.

Segundo o secretário do Meio Ambiente, Fernando Medeiros, a cidade não tem canil para recolher cães abandonados - nesta semana, deve ser aberto edital de licitação para construir um albergue para a bicharada do município.

- Iremos até o local para ajudar os cachorros que estiverem doentes - garante.

Um bairro sob entulhos

Uma estrada que mais parece um depósito de caliça. Entre ferros, cimentos e tijolos estilhaçados, situa-se o Bairro Meu Rincão, com 174 famílias. Mesmo acostumados a lidar com enchentes, a chuvarada da semana passada assustou os moradores.

A maioria buscou abrigos em casas de parentes ou em um piquete nas proximidades. Segundo o presidente da associação de moradores e vigilante, Nei Santana, 38 anos, a comunidade existe desde 1986 e sempre lidou com inundações. Mas, de uns quatro anos para cá, a situação está piorando.

A família de Letícia Vitória Caldeira dos Santos, três anos, que portadora de paralisia cerebral, lamenta a situação das ruas do bairro. 

- Temos graves problemas de acesso. Minha neta é especial, precisa de atendimento médico com frequência. Uma vez o Samu veio até aqui e furou três pneus devido aos ferros no chão. Isso é um absurdo, ninguém aparece para nos ajudar - conta Marinês Antônia dos Santos, 47 anos, dona de casa.

Omar Freitas / Agencia RBS
Isabel cozinha para cães e gatos resgatados das inundações no bairro

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