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Campus Restinga do Instituto Federal transforma a vida dos moradores da região

Mais de 700 estudantes estão matriculados na instituição que oferece três cursos superiores e sete técnicos

14/11/2015 - 07h06min

Atualizada em: 14/11/2015 - 07h06min


Mateus Bruxel / Agencia RBS
Os alunos Silviane, Cleusa, Vitória e José Flávio sorriem para as oportunidades

Luta iniciada pelos moradores do Bairro Restinga, a implantação do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), que completou cinco anos, ampliou os horizontes da educação no Extremo-Sul de Porto Alegre. A história da escola técnica aguardada por mais de 150 mil habitantes da região é acompanhada pelo Diário Gaúcho desde o anúncio da obra, em 2008. A oportunidade de aperfeiçoamento profissional gratuito e de não precisar deixar a região para continuar nos bancos escolares motiva e transforma até quem já tinha desistido de seguir estudando.

 Foto: Mateus Bruxel

É o caso da aluna do técnico em Administração Cleusa Sirlei Coleraus, 56 anos, que voltou a estudar depois de 35 anos. Moradora da Vila Salso, na entrada da Tinga, Cleusa trabalhava como doméstica e acreditava que jamais realizaria o sonho de concluir o ensino fundamental. A mudança ocorreu quando soube que seria construída uma escola técnica no bairro. Motivada pelos filhos, ela deu uma guinada na própria vida. Hoje, está no segundo curso no Instituto - de olho no terceiro, e mais importante. 

- Conclui a oitava série já pensando em ingressar no IFRS. Passei na seleção para o ensino médio com técnico em Recursos Humanos integrado. Me formei no ano passado e comecei o técnico em Administração. Em 2016, vou tentar o superior em Gestão Desportiva e de Lazer. Antes, tinha vergonha de falar que morava na Restinga. Hoje, tenho orgulho, pois tive chances que jamais teria em outro lugar - comenta.

De tão faceira com a própria evolução, Cleusa inspirou o filho Cleiton, 20 anos, a tentar a seleção no instituito. O jovem, que fez um curso gratuito de Gastronomia no próprio bairro, estuda o técnico em Recursos Humanos no IFRS. 

- Nossa meta é, num futuro próximo, abrirmos juntos o nosso próprio negócio no bairro. Minha autoestima está nas alturas - revela.


Chance
O orgulho de ser moradora da Tinga é compartilhado pela estudante Vitória Santos Chaves, 19 anos, que conclui no próximo mês o ensino médio com técnico em informática, e já atua na área. Vitória optou por continuar os estudos no bairro onde se criou ao ser estimulada pelos professores do Colégio Estadual Engenheiro Ildo Meneghetti, onde fez o ensino fundamental. 

- Percebo o quanto o Instituto contribuiu para o meu amadurecimento. Aprendi a me comunicar e estou motivando meus primos mais novos a fazerem as provas seletivas. É uma coisa de outro mundo ter esta chance dentro do nosso próprio bairro - afirma.


Pressão da imprensa foi fundamental
Desde o início das atividades, em junho de 2010, 161 alunos se formaram no campus da Restinga. Hoje, 736 estão matriculados em três cursos superiores de tecnologia e sete técnicos - três integrados ao ensino médio. Mais de 60% dos estudantes são moradores do Extremo-Sul da Capital. 

Quem olha os prédios já concluídos da instituição não imagina as dificuldades enfrentadas nos primeiros anos do IFRS. Entre 2008, ano do anúncio da obra, e 2012, quando a instituição se transferiu para terreno próprio, houve até aluguel de um prédio na principal avenida da Restinga para atender os primeiros estudantes. Em 2010, depois de atrasos e ameaças de perda de recursos do Ministério da Educação, a prefeitura acelerou as contrapartidas previstas na parceria: doou o terreno, iniciou as obras de infraestrutura e agilizou a liberação das licenças. 

- A pressão da imprensa, junto com a comunidade, foi importante para que as etapas fossem cumpridas, mesmo com atraso. Lutamos para construir os prédios, para termos infraestrutura ao redor, para termos iluminação, transporte. Uma briga que foi até 2014 - comenta o diretor do instituto, Gleison Nascimento.

Atual pró-reitor do IFRS, Amilton Figueiredo, foi quem iniciou o processo de construção do campus na Restinga.

- Todas as dificuldades encontradas foram superadas porque estamos fazendo a diferença na vida dos moradores. O apoio do Diário Gaúcho tornou pública a nossa voz e as nossas reivindicações - finaliza.

<IMG class=shrinkToFit alt=http://diariogaucho.rbsdirect.com.br/imagesrc/17755967.jpg?w=620 src="http://diariogaucho.rbsdirect.com.br/imagesrc/17755967.jpg?w=620" width=591 height=887>José Flávio Martins. Foto: Mateus Bruxel

"Desejo de fazer dar certo"
Aluno da primeira turma do campus, o morador do Bairro Santa Teresa José Flávio Tavares Martins, 26 anos, concluiu o técnico em Guia de Turismo na instituição e seguiu estudando. Aluno do quinto semestre de Gestão Desportiva e de Lazer (GDL), José Flávio teve a sua história contada no DG em agosto de 2010, quando ainda frequentava as primeiras aulas do técnico. Na época, ele pretendia atuar na Copa do Mundo. Entusiasmado com os estudos, o jovem mudou os planos no meio do caminho. E ainda serviu de exemplo para o irmão, André Martins, 25 anos, ingressar na mesma escola. 

- Por enfrentar junto com os professores as dificuldades dos primeiros anos do Instituto, via neles o desejo de fazer dar certo esta instituição. Mesmo morando longe, decidi continuar aqui. Me formarei em 2017 e pretendo abrir a minha própria agência online de turismo, mas com uma proposta diferenciada - planeja.

Em 2014, José Flávio teve um artigo sobre as praças da Tinga publicado numa revista portuguesa. No mesmo ano, foi à Bahia apresentar a mesma pesquisa. 

- Nunca imaginei que teria estas chances! - confessa.


Motivação
Assim como José Flávio, a estudante do primeiro semestre de GDL Silviane Silva, 41 anos, também planeja ter um negócio próprio quando receber o diploma. Antes, porém, precisa diminuir o ritmo intenso dos estudos no IFRS: pela manhã, cursa o superior em GDL. À tarde, é bolsista em pesquisa. À noite, cursa o técnico em Administração.
Ela começou fazendo o técnico em Informática, mas desistiu para se dedicar aos quatro filhos. Há três anos, porém, a vontade de estudar a fez prestar seleção para o técnico em Recursos Humanos. 

- Não parei mais. Comecei a estagiar e decidi que faria o técnico em Administração. No próximo ano, vou me formar. O melhor é ver que motivei dois filhos a seguirem o meu caminho. O Tiago, de 20 anos, se formará técnico em Eletrônica. E o Tales, 15, prestará prova em dezembro para cursar o ensino médio técnico - comemora.


Os cursos oferecidos

Técnico integrado ao ensino médio
/// Eletrônica
/// Informática para Internet
/// Recursos Humanos (PROEJA)

Cleusa Coleraus. Foto: Mateus Bruxel

Vitória Chaves Foto: Mateus Bruxel

Silviane Silva. Foto: Mateus Bruxel

Técnico subsequente
/// Administração
/// Guia de Turismo
/// Redes de Computadores

Superior de tecnologia
/// Análise e Desenvolvimento de Sistemas
/// Eletrônica Industrial
/// Gestão Desportiva e de Lazer

Inscrições abertas para curso técnico
/// As inscrições para o curso Técnico em Recursos Humanos Integrado ao Nível Médio na Modalidade Proeja (Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica de Jovens e Adultos) serão realizadas nos dias 23 e 24 de novembro de 2015, às 19h30min, no Campus Restinga.
/// Poderão concorrer candidatos que tenham concluído o Ensino Fundamental, tenham, no mínimo, 18 anos de idade completos, até a data da matrícula e não tenham Ensino Médio completo.
/// São 40 vagas. O curso tem duração de três anos e as aulas ocorrem no turno da noite.
/// A inscrição deve ser feita pessoalmente pelo candidato e possui quatro etapas: preenchimento de Formulário de Inscrição, participação em Palestra informativa sobre o curso, entrega da documentação constante no edital e confirmação de inscrição e respostar às questões referentes às suas motivações para realizar o curso.


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