Notícias



61ª Feira do Livro de Porto Alegre

Doméstica que está aprendendo a ler emociona-se ao comprar o primeiro livro

Diva Bandeira da Silva, 67 anos, do Bairro Bom Jesus, está no Programa de Alfabetização do Centro de Integração Empresa Escola do Rio Grande do Sul (CIEE/RS)

10/11/2015 - 07h02min

Atualizada em: 10/11/2015 - 07h02min


Omar Freitas / Agencia RBS
Diva escolhe os primeiros livros

Os olhos curiosos da doméstica Diva Bandeira da Silva, 67 anos, do Bairro Bom Jesus, de Porto Alegre, fixaram na capa vermelha entre outras dispostas num balaio de uma banca da 61ª Feira do Livro, na Capital, na tarde de ontem. Foram cerca de 15 segundos para ela ler e entender, com faceirice, um título que poderia carregar como lema para a própria vida: Sem Medo de Vencer, obra de Roberto Shinyashiki.

- Se tem uma coisa da qual me orgulho é que não tenho medo de nada. Me desafio o tempo todo - comentou a doméstica, que há quatro meses retomou os estudos no Programa de Alfabetização do Centro de Integração Empresa Escola do Rio Grande do Sul (CIEE/RS).


Natural de Cachoeira do Sul, Diva recorda ter sido abrigada pelos pais a deixar a escola antes mesmo de aprender a escrever o próprio nome. Era preciso trabalhar para ajudar no sustento da casa. Aos 12, tornou-se babá, e nunca mais parou de trabalhar. Mãe de três filhos - o pintor de carros Maciel, 36, a laboratorista Alexandra, 42, e a auxiliar de enfermagem Andreia, 44 -, avó de quatro netos e bisavó de outro dois, Diva esqueceu da escola e dedicou-se somente ao trabalho e à família até quatro meses atrás, quando enviuvou depois de cuidar por 12 anos do marido inválido, que jamais se curou de um AVC.

- Quando ele descansou, pensei: 'chegou a minha vez de viver! Não vou perder nenhum segundo!' - contou.

Incentivo
Entre as primeiras ações do renascimento de Diva, como ela reconhece o próprio momento, estava o retorno aos bancos escolares. 

- Nunca tive vergonha por não saber ler, mas queria aprender mais. Me sinto uma criança de sete anos aprendendo as primeiras letras. Estudo à tarde, de segunda à quinta, e faço dança na sexta-feira. Estou muito feliz - garantiu.

Ontem à tarde, com mais 40 colegas do curso de alfabetização, a doméstica voltou à Feira onde esteve uma única vez, há três décadas, quando levou os filhos para comprarem os primeiros livros. 

- Como nunca pude estudar, sempre incentivei meus filhos a não serem como eu. Me dava orgulho ver eles lendo - confessou.


Desafio
Passos lentos, sem se importar com o calor de mais de 30ºC, Diva percorreu os corredores na Praça da Alfândega, olhou algumas bancas, comprou por R$ 1,50 uma revista de colorir para o bisneto mais novo, Kauã, dois anos, e parou na frente de uma com livros religiosos. Ali, folheou algumas obras, leu diferentes títulos e entusiasmou-se com Quando em Dúvida... Pergunte?, de Paulo Jung:

- Apesar da minha experiência de vida, sempre tenho dúvidas. Vai ser o meu primeiro!

Ao saber que por R$ 5 poderia levar dois, Diva escolheu um com mensagens e meditações diárias. Prometia ler ambos, que juntos tinham 120 páginas. Antes, porém, a doméstica terá outro um desafio a cumprir nas próximas semanas:

- Vou me sentir completa e pronta para seguir em frente no ensino fundamental quando aprender a escrever o nome do meu bisnetinho Kauã. Falta pouco.

Horários da Feira do Livro
Área Infantil e Juvenil: 9h30 às 21h
Áreas Geral e Internacional: 12h30 às 21h
Sábados: 10h às 21h

Saiba mais sobre a Feira: http://www.feiradolivro-poa.com.br

 Foto: Omar Freitas

 Foto: Omar Freitas


MAIS SOBRE

Últimas Notícias