Seu problema é nosso
Falta de fraldas geriátricas no posto de saúde prejudica família de Porto Alegre
Mesmo com direito garantido na justiça, Sílvia Regina Meira não consegue retirar o benefício para a filha há dois meses
Há 24 anos, a vida de dona Sílvia Regina Meira, 53 anos, é cuidar da filha Evelyn Meira Vieira, que tem paralisia cerebral desde os três meses de idade. A menina, que não fala e não anda sozinha, precisa de 240 fraldas geriátricas tamanho M por mês. Mesmo com ganho definitivo na Justiça, não é a primeira vez que a moradora do Bairro Santa Teresa, em Porto Alegre, sofre com a falta do benefício nas unidades públicas de saúde.
Diminuição
Há dois meses, Sílvia não consegue retirar nenhuma fralda no Postão da Cruzeiro, onde pega normalmente. Meses antes, o benefício foi reduzido, sem autorização judicial, para 140 unidades, causando um prejuízo de cem fraldas por mês para a família de Evelyn.
- Eles dizem que não podem me dar as 240 porque precisam distribuir para outras pessoas, até aí eu entendo, não quero que ninguém fique prejudicado, mas há dois meses o posto não está fornecendo mais nenhuma, e a minha filha não pode ficar sem - conta Sílvia.
Com a diminuição na quantidade oferecida pelo sistema público, Sílvia passou a diminuir, também, a troca diária de Evelyn. O ideal, de acordo com a mãe, é mudá-la oito vezes ao dia, para evitar assaduras e não prejudicar ainda mais o quadril da menina, que tem tumores na região. Entretanto, agora ela está trocando apenas quatro ou cinco vezes.
Além disso, para não deixar Evelyn sem os cuidados necessários, a outra filha de Sílvia está ajudando na compra das fraldas.
- A minha filha de 31 anos é que está comprando para a irmã nestes últimos dois meses, mas eu não posso sobrecarregá-la. Ela tem a família dela para sustentar. Recebi algumas doações também, mas não dão conta, e é um direito nosso receber o benefício do governo, está muito difícil esta situação - diz a mãe.
Auxílio
Como Evelyn precisa de atenção e dedicação 24 horas, Sílvia não pode trabalhar fora e se dedica integralmente à filha.
- Eu vivo para ela, ganho um salário mínimo de auxílio doença e o pai da Evelyn também ajuda. Mesmo assim não é suficiente para todas as nossas despesas. Além das fraldas, ela faz tratamento no Hospital da Puc para os tumores no quadril, que de acordo com a medicina não tem cura, e temos também gastos com locomoção e alimentação. Infelizmente, ninguém dá atenção para os pobres, é uma luta diária - queixa-se Sílvia.
Saúde confirma disponibilidade irregular
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) informou que as fraldas são adquiridas com recurso repassado pelo governo do Estado, e que o valor é insuficiente para a aquisição do total necessário por paciente (que prevê R$ 180 por usuário beneficiado, conforme a Resolução 070/2014). Informa também que o repasse não tem sido regular, o que tem resultado em atraso no fornecimento das fraldas.
Segundo a SMS, a compra referente ao último repasse foi encaminhada e aguarda entrega por parte da empresa fornecedora para ser disponibilizada no centro de referência.