Rosane de Oliveira



Bola fora

Quem levou Jardel para a política deve fazer mea culpa

Deputado Danrlei e o vice-governador José Paulo Cairoli deveriam ter percebido que o ex-jogador não tinha condições psicológicas de concorrer a deputado

30/11/2015 - 10h11min

Atualizada em: 30/11/2015 - 10h11min


O afastamento determinado pela Justiça é provisório, mas ninguém acredita que o deputado Mário Jardel venha a reassumir ao mandato. As acusações que pesam contra ele são tão graves quanto as que há uma semana empurraram o médico Diógenes Basegio para a renúncia, convencido de que não teria como escapar da cassação.

Jardel é acusado por assessores e ex-assessores de cometer irregularidades semelhantes às imputadas a Basegio: cobrança de parte do salário de assessores, emprego de funcionários fantasmas, adulteração da quilometragem de veículo para aumentar a indenização. E mais: simulação de viagens para embolsar diárias indevidamente.

O ano de 2015 entra para a história como aquele em que a Assembleia gaúcha perdeu dois deputados por práticas que, reza a lenda, são antigas e disseminadas. Não é comum os servidores achacados denunciarem que são obrigados a repartir o salário com o deputado que lhes deu emprego. Mas Basegio se desentendeu com Neuromar Gatto, seu ex-chefe de Gabinete, e teve de encerrar a carreira política mais cedo. Vai se dedicar à medicina, atividade que o projetou na região do Planalto Médio e garantiu os votos para se eleger duas vezes deputados estadual. Basegio tem para onde voltar. Jardel, não.

Deputado Jardel teria usado notas frias para ganhar diárias

Na campanha, estava claro que Jardel precisava mais de tratamento médico do que de um mandato, mas Danrlei o apadrinhou e os dois concorreram em dobradinha pelo PSD, partido do vice-governador. Jardel foi eleito basicamente com dois tipos de voto: dos gremistas saudosos de seus gols  e apaixonados pela sua figura de atleta, e de pessoas que, dispostas a transformar o voto em um ato de protesto, escolheram um candidato folclórico, que mal conseguia emendar meia dúzia de frases numa entrevista.

Em abril, Jardel havia prometido que queria "fazer um mandato digno"

Jardel é produto de uma prática nefasta, adotada pela maioria dos partidos políticos, de recrutar celebridades para encorpar sua lista de candidatos. O PSD escolheu um jogador amado pela sua torcida, mas que não tinha a menor  condição de exercer um mandato. Nomeou tutores para vigiá-lo na campanha, mas quando Jardel demitiu os indicados pelo partido, porque queria trabalhar apenas com pessoas de sua confiança, o PSD o abandonou e Danrlei rompeu publicamente com ele, para não se contaminar.

Agora, Jardel é um homem só. Não tem dinheiro para bancar um advogado da qualidade de Ricardo Giuliani, que defendeu Basegio, e não tem estrutura emocional para fazer sua defesa política.


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