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Carlos Etchichury: "O engenheiro morto pela PM"

Colunista do Diário Gaúcho avalia os abusos da Brigada Militar no Estado

17/01/2016 - 18h23min

Atualizada em: 17/01/2016 - 18h29min


Carlos Etchichury
Carlos Etchichury
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O comportamento agressivo e desproporcional da patrulha que, durante uma abordagem malsucedida, tirou a vida do engenheiro civil Vilmar Mattiello, 58 anos, na semana passada, não é regra. Mas está longe de ser exceção.

Para recordar, Vilmar, que voltava de um evento com um amigo, chamou a atenção de uma guarnição ao cruzar um sinal vermelho supostamente em alta velocidade, aos cinco minutos da última sexta-feira. PMs teriam orientado o motorista a parar, o que não aconteceu. Houve perseguição. Policiais poderiam ter seguido o engenheiro quilômetros a fio. Poderiam ter feito barreiras de contenção. Preferiram algo mais fácil para encerrar a ocorrência: um deles sacou uma pistola e disparou três vezes contra o veículo. O engenheiro morreu atingido com um tiro no tórax.

É óbvio que Vilmar deveria ter parado o seu Honda Civic. Por que não parou? Algumas explicações foram dadas pelo amigo que o acompanhava, mas prefiro deixar para que o inquérito policial, que investiga o homicídio, esclareça a postura do motorista. O fato espantoso é que, em nenhum momento, passou pela cabeça daqueles servidores públicos algumas hipóteses lógicas, que qualquer ser humano com formação básica seria capaz de cogitar:

– O motorista cruzou o sinal vermelho porque temia ser vítima de assalto, já que acontece de motoristas não pararem em sinal vermelho durante a madrugada.

– Não sendo um delinquente, o motorista pode não ter percebido que estava sendo perseguido.

– Caso fosse um criminoso, qual a garantia de que não houvesse alguém no porta-malas ou que a própria vítima estivesse ao volante? Neste caso, um disparo poderia matar um inocente.

– Mesmo que fosse um criminoso em fuga e que ele estivesse sozinho, por que disparar se nenhum tiro partiu de dentro do veículo?

A postura violenta do Estado gera mais violência. Seja com a morte de inocentes, como foi o caso, seja com a eliminação de suspeitos, seja colocando em risco a vida de pessoas que não têm nenhuma relação com o fato, seja colocando em risco a vida dos próprios policiais. Além de contratar PMs, é necessário qualificar a tropa, com mais técnica e mais protocolo. A cultura da paz deve partir do próprio Estado.

* Diário Gaúcho


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