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Ruína monumental

Desocupado há um ano, Olímpico atrai moradores de rua e usuários de drogas

Antiga casa tricolor virou alvo de moradores de rua e usuários de drogas. Quem vive no entorno do estádio reclama do aumento da insegurança

21/01/2016 - 10h07min

Atualizada em: 21/01/2016 - 10h07min


Jeniffer Gularte
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Omar Freitas / Agencia RBS

O Olímpico que provoca nostalgia nos gremistas, com lembranças de um estádio pulsante e que tantas vezes encheu a torcida de orgulho, certamente é muito diferente do cenário de ruínas em que se transformou o antigo Monumental.

Desocupado desde dezembro de 2014 e sem previsão de implosão, o estádio e a área de 8,5 hectares, localizada no Bairro Azenha, em Porto Alegre, têm atraído moradores de rua e usuários de drogas. Quem vive nas redondezas já flagrou o furto de janelas e esquadrias do estádio e reclama do aumento da insegurança.



Uma comerciante da Avenida Carlos Barbosa, que prefere não se identificar, conta que os furtos ocorrem sem o menor constrangimento:

- Eles fazem tudo na nossa frente. Entram no meio da tarde, de manhã. Colocam os materiais nas costas e levam o que dá.

Ao circular pelo local, a reportagem identificou vidros quebrados nas calçadas e muitos materiais jogados no terreno, inclusive cadeiras e outras peças de escritório. Próximo às grades, tênis e pedaços de roupas evidenciam a passagem de pessoas por ali.


O assessor especial da presidência do Grêmio, Luiz Moreira, reconhece que ao menos 15 pessoas já foram retiradas de dentro do estádio:

- Várias vezes já apareceram moradores de rua ou alguém que vai fumar, mas a gente detecta e tira. Sabemos que eles entram mais pelo lado da (Avenida) Carlos Barbosa - afirma. 



- Durante o dia, tu vês eles saindo com sacos cheios (de material furtado), não sei o que vai ser disso - lamenta Magno Gomes, 52 anos, que tem empresa próximo a um dos portões. O novo cenário das redondezas o fez perder muitos clientes.

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Enquanto a moradores ficam assustados com a ousadia de quem está "depenando" o antigo estádio do Grêmio, outros vizinhos já estão mudando suas rotinas em função do clima de insegurança. A professora aposentada Elizethe Almeida, 63 anos, cujos fundos da casa fazem divisa com o estádio, já não usa o pátio como antes depois que, durante uma madrugada, um homem escalou seu muro para sair da área do estádio. 

Quase abandonado, Olímpico agoniza à espera da demolição

- Arrancaram a tela do meu muro para pular. Isso aqui está abandonado. Antes tinha o movimento dos jogos, era bonito de olhar. Nos finais de semana, isso aqui é deserto, não dá para andar na rua - afirma.


Há quatro anos morando no local, Elizethe conta que planeja sair do imóvel assim que for possível. 

Ruas desertas

À noite, as ruas desertas intimidam os moradores. O empreiteiro Junior Almeida, 34 anos, evita sair de casa depois das 21h:

- No meu prédio, todos os vizinhos do primeiro andar tiveram os vidros dos seus carros quebrados. A gente sabe de comércios que já foram assaltados também. De dia é mais difícil de ver, mas de noite isso é terra de ninguém, aqui o espaço é deles.

Para não cruzar com algum indivíduo que esteja entrando ou saindo do Olímpico, a enfermeira Ariane Viesseri prefere esperar o ônibus dentro do pátio de casa a ir até a parada de ônibus, na Avenida Carlos Barbosa. Ela estima que há pelo menos seis meses a situação ficou mais "escancarada":

- Não tem horário, quando tu menos espera tem gente saindo de dentro do pátio. É deprimente.

Para o gremista, dói ainda mais ver a antiga casa com sinais de abandono. A lembrança que o empresário Ivanir Ziliotto, 61 anos, tem do velho Olímpico, onde passava o domingo com os filhos, virou uma ruína abandonada que ele consegue ver da sacada do prédio da sua empresa de informática.

- Tem toda uma questão emocional envolvida, é triste vê-lo assim, mato crescendo, se deteriorando.


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Os relatos de vandalismo e uso de drogas no estádio chegaram apenas "verbalmente" até a direção do Grêmio, sem nenhum registro oficial, afirma a gerente de comunicação do clube, Daniele Lentz. A segurança da área de oito hectares é feita por quatro seguranças durante o dia e quatro à noite. Nos últimos dias, mais dois homens foram contratados para fazer a ronda no local.

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- O Olímpico não está abandonado, mas está desativado. A nossa força de segurança funciona. Ainda temos muito material guardado lá - afirma.

Ela reforça que ele está cercado e que, em eventuais casos suspeitos, a Brigada Militar é acionada. Referente ao uso do estádio por usuários de drogas, Daniele frisa que não há "nenhuma comprovação de que isso aconteça."

O assessor especial da presidência, Luiz Moreira, a iluminação do estádio será reforçada. Atualmente, segundo ele, a área do Olímpico ainda abriga a base da segurança do clube. No local, também existem carros de funcionários estacionados e ônibus que transportam atletas do time. 

O comandante do 1º Batalhão de Polícia Militar (BPM) de Porto Alegre, tenente-coronel Cleber Goulart, admite que a área no entorno do Olímpico ficou mais vulnerável a crimes com a desocupação do estádio e a falta de iluminação em alguns pontos.
Porém, afirma que as estatísticas de registro da BM não indicam nenhum "surto" de violência nas ruas de entorno do estádio. Ele ressalta que pedestres e moradores que flagrarem pessoas invadindo ou dentro da área do estádio podem acionar a BM ou mesmo informar a segurança do Grêmio.

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Foto: Ronaldo Bernardi/Agência RBS

 
Foto: Ronaldo Bernardi/Agência RBS

 
Foto: Ronaldo Bernardi


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