Economia em crise
Os reflexos do layoff em Gravataí: trabalhadores temem desemprego e comércio já amarga prejuízos
Com cerca de mil trabalhadores com seus contratos de trabalhos suspensos, Gravataí sofre consequências da crise que afeta as montadoras de veículos
De um lado, pelo menos mil trabalhadores em layoff, o que significa que estão com os contratos de trabalho suspensos temporariamente, em Gravataí, sem saber quando e se voltarão ao emprego. De outro, comerciantes e lojistas sentindo os reflexos da incerteza enfrentada por quem consome.
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Na General Motors (GM), são 825 pessoas paradas desde o dia 1º de dezembro. A previsão é de que o período se estenda até 30 de abril. Estima-se que em todo país, são 33 mil trabalhadores em regime de layoff, consequência da crise econômica que abalou as vendas de veículos no país. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), houve queda de 24% nas vendas de carros novos no ano passado, se comparado a 2014.
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Previsto em lei, o layoff pretende evitar demissões nas empresas que, ao adotar o mecanismo, reduzem custos ao deixar de pagar encargos e salários por até cinco meses.
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"Estou em casa, mas estou tenso"
Em layoff desde o 1º de dezembro, o operador de produção do terceiro turno da GM de Gravataí Anderson Mello Maia, 25 anos, vive a agonia de um futuro sem perspectivas. Desde que começou a trabalhar, aos 16 anos, passou por três empresas e jamais ficou mais do que os 30 dias de férias em casa. Morador do Bairro São Vicente, também em Gravataí, ainda não havia sentido o sabor da incerteza em relação ao próprio emprego.
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- Estou há seis anos na GM. Não sabemos o que vai acontecer e a gente sabe que a crise não vai se resolver este ano. É muito ruim, porque não fomos nós que fizemos essa crise acontecer.
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Ele recebe Bolsa Qualificação - modalidade de seguro-desemprego bancada pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (Fat) - e faz curso de atualização industrial no Senai pela manhã junto com outros colegas em layoff. O que gera mais apreensão é que, após o layoff, os funcionários podem ser demitidos, sem o direito a receber o seguro-desemprego. O clima entre a turma é um só:
- Não tem um colega que não esteja apavorado. E se formos demitidos, serão 825 trabalhadores procurando emprego. É muita gente. Eu tenho minha família e sou responsável por ela.
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A renda mensal da família de Anderson caiu de R$ 3 mil para R$ 2,4 mil. A redução de 20% tem provocado mudanças de hábitos para ele, a esposa, a dona de casa Geisa Laís Machado, 27 anos, e os três filhos: Paulo Henrique, 11 anos, Ane Caroline, seis anos, e Antônia, dez meses. Com carro e motocicleta na garagem, ele tem ido de bicicleta para o curso. A economia tem ajudado o casal a não fechar as contas no negativo.
- Antes conseguíamos guardar alguma coisinha, hoje o que ganho vai tudo, não sobra nada - diz Anderson que, pelo menos, não precisa pagar aluguel, pois tem casa própria.
Os passeios de final de semana foram cortados. Este ano também não teve a tradicional temporada de 15 dias na praia de Quintão. Do layoff, Anderson só vê o lado positivo de conseguir ficar mais perto da família. O resto é apenas indecisão:
- Estou em casa, mas estou naquela tensão, porque tu não sabe o dia de amanhã.
<TITULO COLUNA 1>Sem movimento no comércio
Inevitavelmente, o efeito cascata do layoff atingiu o comércio da cidade. Em 13 anos, este é o momento de maior dificuldade para a pastelaria de Dalvir Rabaioli, 57 anos, no Centro de Gravataí. Ele calcula queda de 30% nas vendas e um movimento bem mais baixo do que em período anteriores:
- E quem vem está gastando menos. É um prejuízo que eu não estou conseguindo recuperar.
Pela primeira vez, o comerciante Alberto Shott, 82 anos, está fechando no intervalo do meio-dia a loja de confecção, também no Centro de Gravataí. A crise começou a impactá-lo já no começo de 2015 e vem piorando devido ao layoff.
- São 11h45min (de ontem) e nós ainda não fechamos nenhuma venda. Já comprei menos mercadoria para o verão e vou comprar menos ainda para o inverno - prevê ele, que está com duas funcionárias a menos.
O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra), Regis Marques Gomes, estima que as vendas de janeiro fecharão com queda de ao menos 30% em todo comércio, comparadas com o mesmo período de 2015.
- O comércio está bem apavorado, alguns até temem fechamento. Os mais atingidos são os pequenos negócios. Muitas lojas já começaram a fazer liquidação logo depois do Natal para ver se recupera alguma coisa - comenta Regis.
- Gravataí está um marasmo. No Centro, nas churrascarias, tu não vê gente. E para os trabalhadores é uma agonia - completa o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Sinmgra), Valcir Ascari.
E as perspectiva futuras são incertas. O pagamento da segunda parcela do PPR (programa de participação nos resultados da empresa) ainda não está acertado, o que representa menos dinheiro circulando. Reforçando a ansiedade dos trabalhadores, a GM anunciou esta semana que vai conceder férias coletivas a partir entre os dias 11 a 28 de fevereiro a todos os demais funcionários.
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Pastelaria de Dalvir já sente os prejuízos
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS
Alberto alterou o horário da loja de confecção pela primeira vez
Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS