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Saiba como aproveitar o veraneio mesmo em meio a crise financeira

Família Ramos dá dicas do que fazer para diminuir gastos sem deixar de aproveitar as férias

16/01/2016 - 12h07min

Atualizada em: 16/01/2016 - 12h07min


Jeniffer Gularte
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Tadeu Vilani / Agencia RBS
Família Ramos corta gastos, mas não deixa de curtir a praia

Depois que a inflação fechou 2015 no patamar dos dois dígitos (10,67%), a maior desde 2002, ir para a praia tem se tornado cada vez mais caro, mas a vontade de curtir o calor à beira-mar não mudou.

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Para mostrar como é possível fechar a equação entre aproveitar o verão no Litoral em época de crise e não gastar além da conta, o Diário Gaúcho acompanhou um dia de veraneio da família Rosa Ramos, de Vera Cruz, município do Vale do Rio Pardo, na Região Central.

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Após um ano em que o aumento dos preços das bebidas e dos alimentos pesou no bolso das famílias, cortar gastos nas férias é ainda mais difícil. O comerciante Rogério Ramos, 40 anos, a esposa Maria Cristina da Costa Rosa, 40 anos, e os filhos Khauã, dez anos, e Khimberly, quatro anos, chegaram no domingo passado em Tramandaí com o objetivo de aproveitar a praia sem descuidar do orçamento.

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Rancho veio de casa

Ao invés dos 13 dias da temporada de 2015, a família optou por ficar apenas sete dias na praia. Ao contrário dos veraneios anteriores em Tramandaí, trocaram o aluguel de casa por uma pousada, também atentos à maior segurança. 

- Chegamos a pensar em nem vir porque o Rogério está usando muletas devido a um problema no fêmur, mas se a gente não sai de Vera Cruz, acabamos não descansando - justifica Maria Cristina.

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Em caixas, a família trouxe diversos itens não perecíveis para o consumo durante a semana de descanso, como água, refrigerante, arroz, massa, açúcar, sal, azeite, vinagre, achocolatado e carvão. A carne para o churrasco veio congelada. O pão cacetinho foi um dos poucos itens comprados no supermercado de Tramandaí. Rogério, que é o radar de preços da família, assustou-se com o valor cobrado pelo pãozinho na praia:

- Costumamos pagar R$ 7,99 o quilo, e aqui está R$ 9,75. Se tu não trazes muita coisa de casa, acaba pagando bem mais caro na praia - ensina.

Embora controle os gastos da família, Rogério jura que não anota gasto a gasto, mas faz questão de pagar tudo à vista para não deixar pendências para o mês seguinte: 

- Assim, sei o que estão gastando. 

Um dos itens que mais pesou neste veraneio, do qual Rogério e nenhum outro motorista conseguiram escapar, foi o aumento do preço da gasolina:

- Depois da alimentação, é o gasto que mais subiu do ano passado para cá - calcula ele.

Na beira da praia: disciplina

Neste ano, a família Rosa Ramos adotou o mesmo hábito que tem dominado a beira-mar: em sacola térmica, levam água, refrigerante e cerveja para não gastar nos quiosques. Para o lanche, salgadinhos. Dia sim, dia não, as crianças ganham um picolé:

- Eles não são de pedir muita coisa, mas, mesmo assim, a gente negocia com eles - diz Maria Cristina.


Fotos: Tadeu Vilani / Agência RBS

A dona de casa lembra que é preciso estar atento aos preços, pois nem tudo é mais caro na praia. Protetor solar, por exemplo, esqueceram de comprar antes de vir. Em um supermercado de Tramandaí, acharam em promoção e levaram dois (adulto e infantil) por R$ 28.

Na beira da praia, ela não nega que os vendedores ambulantes oferecendo cangas, biquínis e chapéus são uma tentação. Ela até negocia, mas se não aceitam a pechincha, não compra. Diferentemente do ano passado, desta vez Maria Cristina preferiu não comprar biquínis para ela e a filha, usando os mesmos da temporada passada.

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A ideia era poder reaproveitá-los e economizar. Até maio do ano passado, Maria Cristina era revisora de calçados em uma empresa de Vera Cruz, que fechou de forma repentina. De lá para cá, tem ajudado o marido na revenda de carros usados dele.

Nas saídas: olhos atentos aos preços

Para a esposa não precisar ir para o fogão todos os dias, Rogério negociou descontos no preço da à la minuta para o almoço da família. Na terça, pagou R$ 42 por três à la minutas. Como percebeu que pouco mais de duas seria o suficiente para os quatro, negociou que nos próximos almoços pagaria R$ 30 por almoço para toda família. 

- Eu realmente pechincho e, com um bom almoço, não vamos sentir fome tão cedo à tarde. Vale a pena.

O café da manhã e os jantares ocorrem na pousada. Na terça-feira à noite, depois de jantarem coraçãozinho de galinha com pão, foram ao Centro de Tramandaí tomar sorvete de máquina e olhar vitrines. E Rogério destaca, só olhar:



- Hoje, a gente vem ver preços de roupa e material escolar. Já temos o hábito de comprar material para o Khauã aqui porque é mais barato. Se este ano estiver, vamos comprar de novo. Mas nunca compramos no primeiro passeio, sempre deixamos para o penúltimo dia de viagem, quando já temos uma noção dos preços. 

Dez dicas da família Rosa Ramos

1) Tudo que puder, compre à vista, para não chegar nos meses seguinte pagando gastos da praia.
2) Negocie sempre com os filhos. Se um dia ganha picolé, por exemplo, no outro, não.
3) Traga alimentos não perecíveis de casa como azeite, açúcar, arroz e massa.
4) Se for trazer carne, traga congelada.
5) Se for almoçar mais de uma vez no mesmo restaurante com a família, tente negociar descontos.
6) Não compre nada na praia ou no Centro sem pesquisar. Deixe para fazer as compras nos últimos dias de veraneio.
7) Leve para a beira da praia itens como água, suco e refrigerante em uma sacola térmica.
8) Se vai ficar por um período maior, negocie desconto na hora de alugar casa, pousada ou hotel.
9) Avalie encurtar a viagem em um ou dois dias.
10) A gasolina está muito cara. Evite andar pela cidade de carro e aproveite para fazer caminhadas.

Lamúria entre os quiosques vazios

Enquanto as famílias apertam o cinto do orçamento, os quiosques da beira-mar amargam um dos piores veraneios já vistos em termos de vendas. Há 25 anos com quiosque na orla de Tramandaí, Luiz Anísio, 57 anos, e Salete Lopes Pereira, 54 anos, contam que este é o pior verão em vendas. A redução chegou a 50% em relação a 2015. 



- As pessoas já descem para a praia com bebida, comida, tudo. Neste ano, quem vem aqui no quiosque está com o dinheiro contato - relata Luiz. 

- Natal e Ano-Novo foram ruins também. No dia 31, fechamos às 18h porque não havia mais ninguém na praia - lembra Salete.

Neste ano, o casal contratou um garçom a menos e está sem cozinheira: quem faz os petiscos é a dona Salete. Na percepção deles, o movimento de veranistas diminuiu até em excursões de final de semana:
 
- Das 16h em diante, as pessoas só vêm para a praia tomar chimarrão. É a turma do chimarrão - brinca Salete.

A "turma do isopor" também tem tirado o sono da comerciante Andréia Maia, 38 anos, há oito com quiosque em Tramandaí. Houve queda na venda de todos os itens. O único que se mantém é o milho verde que, segundo ela, as famílias ainda não trazem de casa. Ela conta que cuidou para não aumentar todos os preços, mas nem isso segura o cliente:

- É o pior ano desde que estou aqui.

Menos sorvete

A lamúria também existe no Centro das cidades de praia. Em Cidreira, em plena quarta-feira de veraneio, poucas pessoas circulavam pelas lojas e a rua estava quase deserta. Um dia antes, em Tramandaí, o Diário Gaúcho flagrou uma sorveteria praticamente vazia no começo da tarde. A operadora de caixa do local, Fátima Antunes, 56 anos, conta que há muito tempo não via a sorveteria tão vazia nesta época.



- O ano passado foi muito melhor, estava sempre cheia. Agora, até vemos gente caminhando na rua, mas não se vê ninguém comprando. Já teve épocas que não se conseguia nem caminhar neste calçadão, de tanta gente.

O secretário de Turismo e Desporto de Tramandaí, Rojoel Amaral, reconhece a crise do comércio de praia, mas ressalta que o movimento na areia segue intenso, como nos outros anos. 

- Com certeza, tem pelo menos 50% menos de movimento. Mas não acho que seja só a crise, o tempo não esteve dos melhores no início da temporada. Em dias de sol, as pessoas acabam consumindo mais - avalia.

A mesma reclamação ocorre com os comerciantes de Cidreira, segundo a secretária de Turismo de município, Lena Sessin. A mudança de hábitos, diz ela, também afeta aluguéis de casa e pousadas.

- Quem ficava um mês, prefere ficar 15 dias ou vir de excursão. Está difícil para todo mundo.


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