Guerra contra o mosquito
Moradores do bairro com mais casos de dengue na Capital temem novos contágios
Exército já atua no local para conscientizar moradores e encontrar criadouros
Com 13 dos 15 casos de dengue autóctones (contraídos no local) confirmados na Capital, o Bairro Vila Nova, na Zona Sul, recebeu ontem ajuda do Exército para eliminação de criadouros do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da doença. Os casos foram adquiridos neste ano e surgiram, principalmente, nas últimas duas semanas. Entre os moradores, o clima é de apreensão.
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Apenas na Rua Aurora, são dois casos confirmados e outro com suspeita. Uma das pessoas atingidas é a cabelereira Ana Reis, 48 anos, que precisou fechar o salão de beleza devido à doença, diagnosticada na última segunda-feira. Ela conta que teve muita dor no corpo, febre e manchas na pele. Pela primeira vez, deixou de trabalhar por motivos de saúde. O cansaço era tanto que, nos primeiros dias de sintoma, Ana mal conseguia sair da cama.
- Estamos apavorados, pois sabemos que os vizinhos também estão com a doença. A gente pode cuidar da nossa casa, temos telinha nos ralos e cuidamos das plantas, mas muitos não fazem sua parte - desabafa Ana.
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Quem ainda não está contaminado vive com medo de ser o próximo infectado. Proprietário de uma loja de tintas e autopeças no bairro, Paulo Ricardo Mallmann, 50 anos, convive lado a lado com a dengue. Há casos da doença em vizinhos da sua loja e da casa onde mora, na rua paralela ao local de trabalho.
- Não tem o que fazer, é o dia inteiro passando repelente, tenho aqui na mesa do trabalho, no carro e em casa - disse ele, que trabalha de portas fechadas.
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"Está muito perto da gente"
Ontem, 30 militares do Exército reforçaram as equipes de agentes de combate a endemias e de agentes comunitários na visita às residências. Na casa de Sueli Ascoleze, 74 anos, as equipes encontraram uma situação ideal para evitar criadouros. Foram verificados canil, o recipiente com água para os passarinhos, telhado e calhas.
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Tudo sem ambiente propício para a criação de larvas. Mesmo com tudo em dia, a dona de casa ficou surpresa ao saber que seu bairro é o que tem o maior número de casos:
- Fico assustada, porque está muito perto da gente. Troco a água dos cachorros três vezes por dia e mantenho tudo limpo. Dá trabalho, mas é muito bom ter a casa e o pátio em ordem.
Já na casa da esteticista Ana Cristina Guedes de Abreu, 45 anos, que está em obras, até os pedreiros foram orientados pela agente de endemia Zenaide Brandão. Ela aconselhou cuidados no armazenamento da água usada para a obra e pediu atenção a todos os detalhes, principalmente na cobertura de tonéis. Foram retirados garrafas de vidro, pneus e vasos de planta que estavam em uma área. Com o perigo perto de casa, Ana Cristina promete ter mais atenção:
- Já estávamos nos programando para fazer uma limpeza no final de semana, é preciso se conscientizar.
- Precisamos da união de toda sociedade, cada um fazendo a sua parte - explica a agente Zenaide.
Prefeitura ainda tenta entender a causa
Embora seja o bairro com mais casos confirmados de dengue contraídas na Capital - o Rubem Berta tem um caso e o Passo das Pedras outro - o Vila Nova tem o índice de infestação (presença de larvas de Aedes) de 1,3%, enquanto a média da cidade é de 2,3%. O bairro com maior índice de infestação é o Chácara das Pedras, com 4%.
Segundo o coordenador da Coordenadoria de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre, Anderson Lima, o índice de infestação é um indicador mas não é determinante. Ele acredita na possibilidade de um paciente ter trazido de fora a doença e iniciado a contaminação no bairro.
- É uma infeliz casualidade, pode acontecer em qualquer bairro. Não existe uma situação específica que justifique isso. Nas nossas ações tentamos identificar se algum morador viajou para regiões endêmicas e retornou com o vírus. Se o Aedes pica uma pessoa com dengue, ele se transforma no vetor que infecta outras pessoas.
Para moradores e vizinhos ao bairro, a orientação é a mesma dada as demais áreas da Capital. É fundamental, segundo Anderson, que todos façam busca por criadouro em seus pátios para que o menor número possível de Aedes possa se reproduzir, além de usar telas nas janelas e repelente no corpo.
E o zika?
Anderson explica que o fato do bairro ter o maior número de casos, não significa que os moradores podem ser contaminados pelo zika vírus:
- Não temos a circulação do vírus zika em Porto Alegre. Temos armadilhas espalhadas em bairros, que possibilita que ao capturarmos possamos fazer sua análise. Até agora, essas análises demonstram que o mosquito possui apenas a dengue do tipo 1, que é a que está circulando no Brasil.
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Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS