Vida e Estilo



"Caso" Rodrigo Hilbert

Defensora dos animais é a favor de mostrar sacrifício de borrego na TV 

Apresentador de programa no GNT foi alvo de polêmica após matar animal diate das câmeras 

15/03/2016 - 14h15min

Atualizada em: 16/03/2016 - 11h49min


Itamar Melo
Itamar Melo
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No episódio de estreia da nova temporada de Tempero de Família, Rodrigo Hilbert matou um cordeiro de seis meses

A antropóloga Nazareth Agra Hassen é vegana, defensora dos animais e integrante do Grupo pela Abolição do Especismo, que combate a ideia de que os seres humanos são superiores e têm o direito de escravizar e matar outros animais. Um desavisado poderia pensar que, dadas essas credenciais, ela condenaria o programa culinário de TV em que o ator Rodrigo Hilbert matou um cordeiro diante das câmeras. A reação de Nazareth, no entanto, foi oposta: achou muito bom que o sacrifício tenha sido exibido.

Na entrevista a seguir, ela afirma que é a favor de que se mostre o sofrimento dos animais que vão virar comida, para que as pessoas possam tomar decisões mais conscientes.

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Qual foi a reação da senhora diante do programa que mostrou a morte de um cordeiro?

Eu acho bom que tenha mostrado. É um pouco hipócrita a reação das pessoas, porque a reação é pelo fato de ter mostrado. Por que não mostrar uma coisa que acontece? Quer dizer que as pessoas preferem imaginar que aquela carne que vem em uma bandeja de isopor não é de um animal que sente e que sofre? Acho bom ter mostrado. Quanto mais imagens de matadouros, melhor, para as pessoas poderem formar o seu juízo a partir de dados da realidade e não de uma coisa idealizada, de que os animais morrem sem sentir nada ou não se importam de morrer para virar comida.

A senhora viu na reação indignada uma hipocrisia?

Na verdade, hipocrisia é um termo um pouco forte. Até louvo quando as pessoas ainda têm algum grau de sensibilidade, ou seja, se elas veem o animal sendo morto e se tocam com aquilo, é positivo. Então não queria chamar exatamente de hipócrita. Esse é o lado bom, de provocar a sensibilidade das pessoas. A gente tem uma consciência um tanto quanto narcotizada. Quando é possível que essa consciência aflore, é interessante. Realmente não vi nada de ruim nisso ter acontecido.

O raciocínio da senhora é que esse episódio pode ter uma consequência em termos de conscientização das pessoas?

Eu acharia bom que tivesse. Não é a intenção dele (de Rodrigo Hilbert), a intenção dele é o contrário, é mostrar que isso é natural, tanto que ele vai ali e faz. Na defesa dos animais, a gente tem uma teoria segundo a qual a maioria das pessoas, se tivessem de pegar uma faca nos dias de hoje e ir ao pátio matar a galinha ou degolar outro animal, elas não fariam. A gente terceiriza isso. A pessoa que vai sofrer com isso é alguém que eu pago para exercer a função, e pago também com a condição de que eu não seja obrigado a ver. A sociedade é bastante egoísta. Ela só não quer ver o sofrimento. Não importa tanto que ele aconteça.

Isso significa que a reação das pessoas ocorreu por ter visto a morte do animal e não pela morte em si?

Não é pelo fato em si, é só por terem sido obrigadas a ver. Se fosse pelo fato em si, as pessoas parariam de consumir, que é o que muitas fazem. É uma indignação mal focada. O alvo tem de ser outro.

Faz diferença o fato de ser um filhote que foi morto?

Acho que sim. Carne de vitela, por exemplo, sempre é o filhote. E é uma das mais apreciadas e mais caras. Ver o filhote morrer é pior.

Outro elemento é que se tratava de um animal que parecia estar solto, não em condições de criação para ir a um abatedouro.

Do ponto de vista do animal, se ele teve uma vida boa até o momento de morrer, ainda é um pouco melhor do que ele ter tido uma vida desgraçada desde o momento em que nasce. Mas há uma falta de lógica na reação, de achar que o animal para o qual você deu um nome ou criou no pátio não vai matar. Não há diferença.

A senhora considera que é interessante as pessoas virem isso na TV, mas no caso das crianças pode ter um efeito negativo?

Pode ter as duas coisas, pode ter a banalização do sofrimento do animal. Mas para isso teria de se fazer uma pesquisa, com análise de recepção. É difícil de responder. Depende da criança.


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