Gente como a gente
Slackline coloca a gurizada na linha, no Morro Santa Tereza
Projeto social proporciona novas opções a jovens de região violenta da Capital
Para desviar dos caminhos da violência, que tem colocado o Bairro Santa Tereza no noticário policial da Capital, é preciso equilíbrio, concentração e autoestima. E essas habilidades são aprimoradas há mais de dois anos em cerca de 20 jovens da Vila Malvina. Lá o praticante de slackline Paulo Fabiano Leonardo, o Di Di, 34 anos, ensina o esporte praticado sobre uma fita elástica à gurizada com idades dos cinco aos 18 anos.
- Nasci aqui e me considero um sobrevivente. Muitos amigos se perderam na violência. Viraram bandidos, foram presos ou estão no crack. Dar aula é uma pequena colaboração para que as crianças andem no caminho certo. O caminho do esporte - explica Di Di.
Os desafios para manter as aulas de um esporte pouco praticado são grandes.
De início, até o local para praticá-lo era grande. Hoje as aulas ocorrem às terças e às quintas-feiras no Instituto Cultural, Esportivo e Assistencial (Icea) Vila Malvina, mantido pela associação de moradores local - a qual Di Di preside. Ainda assim ainda são muitos os obstáculos.
- O ideal seria dar aulas todos os dias e em mais horários, mas não temos condições. Tentamos sempre preparar um lanche para a gurizada, mas isso também é difícil. O pouco que temos vem da mobilização da comunidade - diz o professor.
Encaminhados
Fica até difícil imaginar aonde essa turma iria com mais incentivo. Mesmo sem estímulo, já foram longe. Longe mesmo, ao Rio de Janeiro.
- Surgiu a chance de participarmos de uma competição com quase tudo pago. Não poderia deixar essa oportunidade passar. Fizemos rifa aqui no bairro, pedimos ajuda e conseguimos. Foi muito legal - lembra.
Durante as aulas, os jovens mostraram que aprendem rápido. Não só o equilíbrio na fita, mas também para projetar um futuro melhor. Ian Vitor da Silva, 14 anos, aposta que será profissional do slackline.
- O Di Di é parceria. Sempre nos incentiva a subir na vida e estudar - conta o guri.
Outro que também tem anseio de se tornar profissional é Maxewell Santiago Lima, 12 anos. Ele se empolga ao falar do esporte. Tanto fascínio e dedicação renderam um título estadual:
- Gosto muito de vir às aulas, de fazer manobras na fita. Gosto mais do mortal. É bem mais legal ficar aqui com os amigos e com lanche do que ficar em casa.
*Diário Gaúcho