Da sala de aula para o mercado de trabalho

Para eles, a distância foi curta entre a formação e o trabalho. Enquanto William e Ilídio já colhem os resultados do empenho e dedicação que tiveram para aprender uma profissão desde o início, Ana Letícia avança rumo ao seu diploma.

Paixão por motores

Apaixonado por carros desde criança, William Ourique, 28 anos, nunca teve dúvidas sobre qual profissão gostaria de seguir: mecânico de carros. A formação de técnico automotivo no Senai foi essencial para ele abrir seu próprio negócio, a Import RS, na Zona Norte da Capital.

A carreira começou ainda adolescente, com um curso de aprendiz. Quando fez a matrícula na formação técnica, aos

18 anos, já era conhecido dos professores. Notas boas e dedicação na sala de aula fizeram com que os mestres o indicassem para estágios nas principais oficinas de Porto Alegre.

– Eu trabalhava de manhã e, de tarde e à noite, na aula, tirava dúvidas com os professores – diz.

Na Import RS, ele faz a manutenção em veículos de passeio e de frotas inteiras. Os carros de automobilismo de arrancada são o xodó – está sempre participando de cursos para se aperfeiçoar em motores de corrida. Com sete anos de negócio próprio, é um orgulho já ter conseguido construir um prédio para a oficina.

– Meu perfil é de uma pessoa que gosta do que faz. Assim, a tendência é progredir rápido ao entrar em um técnico. Quem se dedica à profissão pode arrumar um emprego bom e ganhar legal. Eu faria tudo de novo – afirma.

Primeiros passos

Ao concluir o ensino médio, no ano passado, Ana Letícia Martins de Souza, 18 anos, começou a prestar atenção nos familiares e amigos. Percebeu que todos os que estavam bem empregados tinham feito cursos técnicos. Motivada pelos bons exemplos próximos, decidiu se matricular no curso de técnico em administração da QI, há um mês. Poucos dias depois, já havia recebido três ofertas de estágio.

– Para quem faz curso técnico, é difícil ficar sem emprego. A própria escola encaminha os alunos para estágios. Ao mesmo tempo, conheço pessoas que fizeram faculdade e estão desempregadas – conta.

Ana Letícia vive com expectativa o início da formação e os primeiros passos em um estágio. O curso requer foco e disciplina dentro da sala de aula, especialmente nas aulas de contabilidade, que ela vem tirando de letra. Quando o conteúdo é mais complicado, ela também revisa os livros em casa. Para ter mais um diferencial no currículo, está frequentando aulas de inglês.

Ela vê o curso técnico como uma forma de experimentar a rotina da administração antes de poder cursar a universidade. Quando se formar, em novembro de 2017, planeja trabalhar como efetivada para poder custear o sonho do ensino superior:

– Este curso vai me abrir muitas portas. A administração é uma área com grandes oportunidades, e estou me qualificando para elas.

O rei do pé

A matrícula no curso de técnico em podologia do Senac, em 2010, foi planejada por Ilírio Fontoura Lacerda para ajudar a mulher – depois de um acidente, ela passou a precisar do acompanhamento deste tipo de profissional duas vezes por mês. O que ele não imaginava era que o diploma transformaria sua vida.

Único homem da turma, Ilírio, que havia se aposentado como tenente bombeiro e não pretendia voltar a trabalhar, apaixonou-se pela nova área. Para entrar no mercado de trabalho, correu atrás, realizando atendimentos a domicílio. Há um ano, abriu a clínica Anjos dos Pés, no Centro da Capital, em sociedade com uma colega do curso.

Na mesma época, recebeu na clínica uma ligação que demorou para acreditar que era verdade: um convite para atender os jogadores do Grêmio. Ser homem em uma profissão onde predominam as mulheres acabou sendo um diferencial, pois o clube buscava alguém para trabalhar no vestiário. Aos 60 anos, seu sentimento é de realização.

– É fantástico uma coisa dessa surgir na vida da gente. Tenho a agenda cheia de atendimentos. Já fiz 18 cursos de especialização desde que me formei, em 2012 – conta o "rei do pé", como é chamado no Grêmio.

Com base na própria experiência, Ilírio dá a dica. O mercado tem lugar para novos profissionais, mas não basta apenas cursar o técnico: é preciso ser dedicado e ir atrás das oportunidades.

– Quem faz este tipo de curso pode começar a trabalhar rápido. A faculdade tomaria mais tempo, com despesas maiores, e o mercado competitivo está muito grande – afirma.

As dicas de quem chegou lá

Dicas do William

Ter iniciativa é um diferencial em qualquer profissão. Mantenha-se atualizado, procure cursos que sejam complementares dentro da área escolhida.

Alunos dedicados chamam a atenção dos professores, que costumam ser profissionais referência na área na qual você pretende começar a atuar.

Dicas do Ilírio

Vale a pena investir no material de trabalho nos cursos em que ele é necessário. Quem tem estes utensílios pode realizar atendimentos a domicílio.

Aproxime-se dos colegas, eles são uma rede de contatos que facilita sociedades, parcerias e trocas de informações.

Impressões da Ana Letícia

Procure fazer estágios para vivenciar a rotina da profissão e tirar dúvidas com os professores.

Fique atento aos murais das escolas: eles costumam ser uma fonte de oportunidades.