Vida e Estilo



Solidariedade

Em trote solidário, estudantes de Medicina cortam o cabelo para doar a crianças com câncer

Ação também promoveu uma experiência de integração entre os futuros profissionais da saúde e os pequenos pacientes

11/04/2016 - 19h10min

Atualizada em: 11/04/2016 - 19h22min


Carolina Santi, 22 anos, despediu-se do longo cabelo, que cultivou durante anos

Nada de tinta, gincanas ou arrecadação de dinheiro na sinaleira. No trote dos calouros de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), o desafio foi encarar a tesoura e a máquina de cortar cabelo. Os estudantes desapegaram-se das madeixas na manhã desta segunda-feira, no setor de quimioterapia do Hospital da Criança Santo Antônio da Santa Casa de Misericórdia, diante de inúmeras crianças e adolescentes que lutam contra o câncer.

A ideia da ação, batizada de Trote Solidário – Careca Amiga, é promover uma experiência de integração entre os futuros profissionais da saúde e os pequenos pacientes. A iniciativa é dos próprios alunos e já está em sua segunda edição.

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Uma das mais corajosas foi Carolina Santi, 22 anos. Do longo cabelo que ostentava, cultivado durante anos, não sobrou quase nada: a estudante saiu do local praticamente careca.

– Eu sempre tive o cabelo grande. Ontem eu estava um pouco nervosa, mas na hora (de cortar), não – conta, garantindo que a experiência valeu a pena. – Foi muito legal ver o sorriso no rosto da menina que cortou.

Com a cabeças raspadas espontaneamente, os estudantes esperam contribuir para quebrar o estigma que pacientes com câncer carregam. A queda de cabelo é um dos principais efeitos colaterais da quimioterapia.

– Cortar o cabelo é mais simbólico do que traumático. A gente pode comprovar que a beleza está muito mais no interior das pessoas, no sorriso das crianças, do que no cabelo, que cresce e cai o tempo inteiro – reflete Vitor José da Silva Classmann, 18 anos, o primeiro do grupo a encarar a máquina.

Para Ketlyn Allebrand, 13 anos, que frequenta o Hospital da Criança Santo Antônio há mais de cinco anos para tratar uma aplasia de medula, o gesto dos estudantes foi marcante.

– Eu saía na rua carequinha e com a máscara e todos me olhavam meio atravessado, como se eu tivesse alguma doença contagiosa – relembra, agora com os cabelos já crescidos. – Cortar o cabelo é um modo de dar força para aqueles que ainda estão enfrentando o câncer.

– As crianças às vezes vêm aqui e ficam tristes, o dia inteiro sentadas, quietas, dormindo. Hoje é um dia alegre na vida delas – concorda Artemio Rosa da Silva Junior, 18 anos, que luta contra o sarcoma de Ewing, um tumor ósseo diagnosticado no ano passado.

Esbanjando alto astral, Artemio até se arriscou a manusear a máquina sobre a cabeça dos estudantes.

A animação do trote solidário ficou por conta da ONG Doutorzinhos, grupo que atua em hospitais de Porto Alegre levando alegria e conforto para pacientes e seus acompanhantes. Três voluntários, vestidos de palhaços, conduziram os cortes de cabelo como parte de uma grande farra: tocavam música, faziam careta, improvisavam brincadeiras e convidavam os pequenos pacientes a experimentar desenhos inusitados nas cabeças das "vítimas".

Também participou da ação o Projeto Cabelaço, ONG que arrecada cabelo para doação. Com parceria voluntária da Fábrica Marry Perucas e Cabelos, o grupo recolhe as mechas, confecciona perucas e as encaminha para doação em hospitais pediátricos de Porto Alegre. Durante o trote solidário dos estudantes de Medicina da UFCSPA, cerca de 30 mechas de cabelo foram doadas.

Como doar cabelo em Porto Alegre

– Os cabelos doados podem ser naturais ou com química, mas tem que ter, no mínimo, 15 centímetros de comprimento, e tem de estar secos e limpos no momento do corte.

– A mecha tem de ser amarrada e cortada logo acima do elástico e, depois, guardada em um saquinho.

– O cabelo pode ser entregue no Hospital da Criança Santo Antônio (Avenida Independência, 155, Porto Alegre) ou via correio, para Cabelaço, Caixa Postal 58, Canoas (RS), CEP 92010-300.


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