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Agressão contra a mulher

Post sobre abuso em ônibus levanta discussão sobre violência sexual no transporte público

Agressor teria ejaculado na roupa da vítima em Curitiba 

06/04/2016 - 12h15min

Atualizada em: 06/04/2016 - 17h02min


Uma postagem no Facebook em que uma mulher relata um suposto caso de abuso sexual em um ônibus de Curitiba provocou repercussão nesta quarta-feira e jogou luz sobre uma questão que vitimiza mulheres de qualquer perfil e idade: os abusos no transporte público.

No relato, uma pessoa identificada como Grazi Oliveira contou que voltava para casa de ônibus quando teria sido assediada. Além de esfregar seu corpo no dela e gemer, o homem teria ejaculado na saia da mulher.

"Se você é mulher e precisa pegar um ônibus lotado, com certeza não vai ser fácil chegar em casa", reflete a autora do post.

A reportagem do Diário Gaúcho não conseguiu falar com Grazi.

Embora abuso sexual seja crime comum em transportes públicos do Brasil, a Delegacia de Polícia para a Mulher de Porto Alegre e a Secretaria Adjunta da Mulher (SAM) não souberam informar o número de casos ocorridos no transporte coletivo da Capital.

– Não temos os dados porque as mulheres não fazem a denúncia – explica a secretária da SAM, Waleska Vasconcellos.

Para Waleska, a dificuldade das mulheres denunciarem tem a ver com o medo que sentem pela possibilidade da culpa recair sobre elas, ainda que tenham sido as vítimas do abuso.

– A culpa é sempre da mulher. É uma questão de machismo mesmo – observou.

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De acordo com a secretária, a Secretaria Adjunta da Mulher e a EPTC estão discutindo a possibilidade de implementar uma campanha em Porto Alegre para conscientizar os usuários de trem e de ônibus sobre o abuso sexual que as mulheres costumam sofrer no transporte. Por enquanto, as usuárias que vierem a ser vítimas desse tipo de crime em Porto Alegre devem procurar o Centro de Referência e Atendimento à Mulher pelo telefone (51) 3289-5110.

Em Curitiba e São Paulo, campanhas de conscientização existem desde 2014. Na capital paranaense, a ação ganhou o nome de "Busão sem abuso" e as vítimas podem denunciar imediatamente pelo número 153, da Guarda Municipal. De acordo com a assessoria de imprensa da prefeitura de Curitiba, foram registradas 107 ocorrências dentro do transporte coletivo, que resultaram em 15 prisões em flagrante.

Em São Paulo, cartazes espalhados pelo metrô esclarecem às mulheres que elas não estão sozinhas e que qualquer pessoa que sofre ou presencia abuso sexual deve denunciar.

Cartaz da campanha "Busão sem abuso", da prefeitura de Curitiba
Cartaz da campanha de São Paulo informa número para denúncia

O Diário Gaúcho tentou entrevistar Grazi Oliveira, mas ela não retornou o contato. De acordo a Guarda Municipal de Curitiba, a jovem não registrou denúncia.

Confira na íntegra o relato:

"Aquele tipo de texto difícil de escrever porque suas mãos ainda estão tremendo.
Eu só queria ir pra casa depois de uma longa espera no pronto atendimento. Pegar o ônibus, ir pra casa.
Entrei no tubo, o ônibus veio logo, estava cheio, horário de pico, mas sabem como é CENTENÁRIO/ CAMPO COMPRIDO sempre tem espaço pra mais um.
Me ajeitei no cantinho, segurei a bolsa e só pensei na hora que ia poder tirar essa bota quente, pois Curitiba não decide quantas estações vai fazer em um dia.
Mas não é fácil assim, ir pra casa não é fácil assim. Se você é mulher e precisa pegar um ônibus lotado, com certeza, não vai ser fácil chegar em casa.
Guardei o celular na bolsa e foi então que eu percebi que ele estava ali. Parado bem nas minhas costas, aproveitando de cada curva para se esfregar em mim. Tentei dar um passo pra frente mas ele acompanhou, continuando encostado. Não bastasse ele começou a respirar muito forte por cima do meu ombro, chegando a gemer baixinho. Tentei empurra-lo com o cotovelo, ir para outro lugar mas não tinha jeito. Ele continuou ali, se esfregando e gemendo. Precisei descer no tubo que seguia, mesmo não sendo o meu. Antes de sair o empurrei e disse a ele que era um velho nojento e deveria se envergonhar de agir desse modo em qualquer lugar que seja.
Ao descer percebi que ele não havia apenas se encostado e insinuado, ele havia ejaculado na minha saia, e então eu desabei.
Agora, chegando em casa, não estou feliz por tirar essas botas quentes. Agora, chegando em casa, estou limpando de mim mais um dia difícil de se chegar em casa.
Eu não quero mais ligar pra minha mãe chorando, eu não quero mais ter medo de andar na rua, eu não quero mais me culpar por ser a vítima, eu não quero mais ter que pensar no tamanho da minha saia antes de sair de casa, eu não quero ter que limpar a sujeira dos outros.
Desculpemo texto e a imagem mas eu to cansada, irritada e triste, e se eu tivesse a opção desejaria nunca ter que falar sobre essas coisas. Desejaria que essas coisas nunca acontecessem."

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