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Assalto no Nacional 

"Mandaram todo mundo se ajoelhar com as mãos para trás, em posição de execução" , diz vítima de arrastão

Advogada de 28 anos, que ficou refém ao lado do namorado durante ataque ao supermercado Nacional no bairro Mont'Serrat, na Capital, relatou os momentos sob o domínio dos criminosos  

04/04/2016 - 16h50min

Atualizada em: 04/04/2016 - 18h39min


Jaqueline Sordi
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Zero Hora conversou com uma das vítimas do assalto ao supermercado Nacional, ocorrido na noite de domingo. A advogada de 28 anos, que pediu para ter a identidade preservada, estava com o namorado no estabelecimento quando eles viraram refém dos assaltantes.

Você mora perto do supermercado? Costuma frequentar o local?
Meu namorado mora ali perto. Sou de Canoas, mas passo os finais de semana na casa dele. Não costumamos ir no Nacional, mas fomos ontem em razão do horário. Era tarde e precisávamos comprar algumas coisas. Tenho o hábito de ir sozinha no supermercado. Ontem, dei sorte de ele estar comigo.

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Que horas vocês saíram para ir às compras? Onde estavam quando começou o assalto?
Saímos de casa pelas 20h30min. Já havíamos colocado tudo no carrinho, era em torno das 20h50min, quando um assaltante nos abordou. Estávamos em um corredor, nos direcionando para o caixa, quando fomos surpreendidos por um homem alto, encapuzado, que apontou uma arma para nós. Ele disse em voz alta para ficarmos calmos, comunicou que estava ocorrendo um assalto e pediu para passarmos os pertences a ele.

Qual foi a reação de vocês?
Entreguei minha carteira antes mesmo de ele pedir. O homem perguntou se meu namorado era policial e ele negou, então o assaltante disse para entregarmos tudo que tínhamos. Depois disso, esse mesmo homem nos entregou para outro assaltante, que nos encaminhou para um canto do supermercado. Eles estavam reunindo todo mundo, clientes e funcionários. Como faltava pouco para fechar, não tinha muita gente. Acredito que tinha uns 10 funcionários e, no máximo, 10 clientes.

O que os assaltantes fizeram em seguida?
Havia um homem controlando as pessoas. Mandou todo mundo se ajoelhar com as mãos para trás, em posição de execução. As mulheres ficaram em pé e os homens ajoelhados. Eles perguntaram se o meu namorado era meu marido. Disse que sim, e me disseram que eu poderia ficar perto dele. Encostei nele e pedi para ficar calmo, já que nós dois estávamos muito nervosos, com os joelhos tremendo. Este assaltante, então, revistou todos os homens e pediu novamente todos os pertences. Ele não estava encapuzado, mas evitei olhar para o rosto dele. Fiquei o tempo todo de olhos fechados, rezando para que ninguém reagisse e para que acabasse tudo logo. Eles pediam os celulares, e diziam que se alguém não tivesse entregado, "ia dar problema".

Quanto tempo vocês ficaram reféns?
Ficamos pelo menos meia hora daquele jeito. Enquanto um homem nos controlava, os outros roubavam as coisas. Um dos clientes começou a mexer no bolso, acho que para pegar uma chave, e acabou sendo agredido pelo assaltante, que deu três chutes nele. Outro refém passou mal e desmaiou. A gente quis acudir, mas um dos ladrões foi lá e disse: "ele está bem, não morreu, só desmaiou". Sentimos que não dava para se aproximar.

O que aconteceu depois? Como era a organização dos criminosos?
Eles levaram alguns funcionários para auxiliá-los e roubaram mercadorias e dinheiro. Era um grupo muito organizado. Foram até "cordiais", me deixando ficar perto do meu namorado. Quando um se alterava, os demais acalmavam o grupo. E, pelo que deu pra ver, havia um homem que controlava tudo. Gritava: "E o dinheiro? E os carros? E os cigarros?". Conforme os demais assaltantes iam respondendo, ele ia coordenando. Era tudo muito bem cronometrado, bem profissional. Eles não pareciam estar drogados. O homem que apontou a arma para nós, por exemplo, a segurava bem firme. Sabiam bem o que queriam, e repetiram várias vezes a frase "tá tudo dominado".

Vocês conseguiram ver o que recolhiam do supermercado?
Levaram alguns funcionários para abrir os caixas e pegaram o dinheiro. Ouvi também eles gritarem algumas vezes por cigarros. E um homem levou uma funcionária para uma sala, onde acredito que tenha aberto o cofre para pegar mais dinheiro. Ouvi barulho de garrafas, então, acredito que tenham levado muita bebida. Roubaram ainda o carro de um cliente e a moto de um funcionário, um dos assaltantes fugiu na moto. Ouvi alguém dizer que a EcoSport (um dos veículos que, conforme a polícia, os assaltantes utilizaram no assalto) estava lotada, então outro gritou para levar as coisas no colo.

Eles falaram algo sobre as câmeras de segurança?
Sim, perguntavam muito sobre as câmeras. Perguntavam onde estava o HD, se já tinham mudado o HD. Deu para ver que cada um deles tinha uma função no assalto. Em determinado momento, um deles gritou que havia encerrado o tempo. Eles, então, nos levaram para uma sala, que acredito ser da gerência, e nos disseram para contar até 200 e só depois sair. Além disso, disseram para darmos meia hora e ligar para a polícia.

Como vocês ficaram na sala?
Ficou todo mundo em silêncio. Alguns estavam em estado de pânico, muito nervosos. Ouvimos barulho de moto, de carro, e depois silêncio. Aí, aos poucos, as pessoas começaram a se mexer, a sair e buscar suas coisas, pedir ajuda. Lembro de ter contato até 50. Rezava e contava ao mesmo tempo.

Os assaltantes acabaram levando os pertences de vocês?
Sim. No início, disseram que não iam levar nossas coisas. "A gente não é chinelão, botem tudo na mochila e depois vamos devolver, não queremos o celular de ninguém", um deles falou. Nossa primeira reação quando fomos liberados foi procurar nossas coisas nos caixas, nas lixeiras, mas não encontramos nada.

Vocês chegaram a temer pela vida?
Meu namorado e eu, embora estivéssemos em uma posição humilhante, que é a de execução, não tivemos a sensação que levaríamos um tiro. Apesar da sensação de impotência, a gente sentia que não iam atirar. Só rezávamos para ninguém reagir e para a polícia não chegar, pois aí poderíamos virar escudo deles e ocorrer um tiroteio.

Vocês registraram ocorrência?
Fomos prestar queixa um tempo depois. Acompanhei um dos funcionários na delegacia. Ele disse que quando o bandido chegou na frente dele, perguntou: "Está me reconhecendo?". O funcionário respondeu que sim, e o ladrão teria dito: "Então tá, tu já sabes como funciona o procedimento". Esse mesmo supermercado havia sido assaltando algumas semanas antes.


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