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O que as mulheres dizem sobre abuso sexual no transporte público 

De 30 mulheres ouvidas pelo DG, 22 já passaram por este tipo de situação

08/04/2016 - 10h33min

Atualizada em: 08/04/2016 - 11h31min


Ana Karina Giacomelli
Ana Karina Giacomelli
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O relato de uma jovem que teria sido vítima de abuso sexual dentro de um ônibus em Curitiba foi um dos assuntos mais rumoroso da semana nas internet. Enquanto muitos questionavam a veracidade da história, outras tantas pessoas acreditaram no relato e compartilharam, nos comentários da publicação, experiências semelhantes pelas quais passaram em coletivos.

A reportagem do Diário Gaúcho percorreu dois terminais de ônibus de Porto Alegre, na Praça Rui Barbosa e Viaduto da Conceição, e um ponto na Avenida Azenha, para mostrar que as gaúchas também passam por situações constrangedoras dentro do transporte público. Das 30 entrevistadas, 22 confirmaram que já sofreram abuso sexual dentro de um ônibus. Nenhuma delas, porém, denunciou a violência. A maioria sente vergonha da situação ou não sabe como agir nesses casos.

A operadora de caixa Alexandra Ferreira, 24 anos, de Canoas, conta que passou por uma situação bastante constrangedora em um ônibus lotado:

– Um homem passou por trás de mim encoxando, na maior cara de pau. Olhei feio pra ele, que acabou saindo de perto – comenta.

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Abusou, levou

Com a porteira Lurdes Chaves, 65 anos, de Cachoeirinha, a repreensão ao agressor teve que ser mais incisiva. Lurdes conta que um homem pilchado subiu no ônibus em que ela estava e começou a se esfregar em seu corpo. Ela, então, pediu que ele saísse de perto, mas não adiantou.

– Ele é famoso por abusar de mulheres em ônibus, até os motoristas o conhecem. Fico admirada de ninguém tomar uma atitude. Quando ele se passou comigo, não aguentei. Peguei o homem pela camisa e atirei na porta do ônibus – relata.

Segundo Lurdes, algumas passageiras que presenciaram a cena revelaram ter passado pela mesma situação, mas sem coragem de tomar a mesma atitude.

A encarregada de limpeza Letícia Dutra, 40 anos, de Porto Alegre, lembra de um homem que lhe encarava diariamente no ônibus quando ela ia para o trabalho. Letícia olhava sério para ele e logo virava o rosto, para mostrar desconforto. Mas isso não o intimidava.

– Um dia, ele ficou em pé atrás de mim se roçando. Eu gritei com o homem, e ele disse que eu estava louca. No outro dia, ficou mais afastado. Uma senhora que viu a situação me contou que ele já tinha feito a mesma coisa com a sobrinha dela – afirma.

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Vítimas transformadas em culpadas

A Delegacia de Polícia Para a Mulher de Porto Alegre e a Secretaria Adjunta da Mulher (SAM) não sabem informar o número de casos de abusos ocorridos em coletivos na Capital.

– Não temos os dados porque as mulheres não costumar fazer a denúncia – explica a secretária da SAM, Waleska Vasconcellos.

Para Waleska, a dificuldade desse tipo de denúncia está associada ao medo de que a culpa recaia sobre elas, ainda que tenham sido as vítimas.

– Infelizmente, parece que a culpa é sempre da mulher. Se ela conta isso no local de trabalho, algum homem, provavelmente, vai perguntar que roupa ela estava usando no momento do assédio ou se ela agiu de maneira que levasse o agressor a fazer isso – acrescenta.

De acordo com a secretária da SAM, casos em que o assediador é conhecido da vítima, seja por pegar sempre o mesmo ônibus ou por morar perto da sua residência, facilitam a denúncia.

– Mesmo que a vítima não tenha o nome da pessoa, se soubermos onde ele mora ou o ônibus que ele costuma pegar e o horário, podemos procurá-lo – assegura.

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Waleska explica que a Secretaria Adjunta da Mulher e a EPTC estão discutindo a possibilidade de implementar uma campanha em Porto Alegre para conscientizar os usuários de trem e de ônibus sobre o abuso sexual que as mulheres costumam sofrer no transporte.

– A ideia é começar uma ação em junho deste ano com a Carris e depois passar para as outras empresas de transporte – completa.

Na Trensurb, ainda não existe uma categoria específica para assédio sexual e, por esse motivo, não é possível mensurar o número de denúncias. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, em 2015, foram 88 denúncias de atentado ao pudor, que pode envolver várias situações, inclusive, de abuso.

– Já estamos avaliando um método diferente para controlar melhor esse tipo de ocorrência – garante a assessoria.


Publicado por Diário Gaúcho em Sexta, 8 de abril de 2016

O que as mulheres dizem sobre abuso sexual no transporte público. De 30 mulheres ouvidas pelo #DiarioGaucho, 22 já passaram por este tipo de situação.Confira: bit.ly/1SUGCzk

Como denunciar a situação

* Usuárias que vierem a ser vítimas de abusos no transporte coletivo na Capital devem procurar o Centro de Referência e Atendimento à Mulher pelo telefone 3289-5110.

* Denúncias de abuso dentro do trensurb podem ser feitas pelo telefone (51) 3363-8026 ou via SMS para o número (51) 8463-9863.

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* Diário Gaúcho


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