Notícias



Acidente no Moinhos

"Poderia facilmente estar morto", diz vítima de atropelamento no Parcão

Em entrevista a ZH, Thomaz Coletti, 25 anos, recorda que viu o acidente "se desenhando" e que ele e a namorada, Rafaela, ouviram barulho de motores vindo em direção a eles

06/04/2016 - 04h04min

Atualizada em: 06/04/2016 - 08h55min


Caetanno Freitas
Enviar E-mail
Thomaz Coletti sofreu fraturas no rosto e no ombro, mas se recupera em casa, em repouso, de atropelamento no Parcão

De repouso no sofá de seu apartamento, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre, Thomaz Coletti, uma das vítimas do atropelamento do último sábado, no Moinhos de Vento, lembra com bastante dificuldade do que aconteceu com ele e com a namorada, Rafaela Perrone, naquela madrugada. Com o braço direito e a perna esquerda imobilizados e ferimentos graves no rosto, Thomaz considera que eles "escaparam com sorte" do ocorrido e que poderiam estar mortos pela gravidade do acidente.

Em entrevista a ZH, o jovem de 25 anos classifica como covarde a atitude do motorista do Audi, que fugiu do local sem prestar socorro. Thomaz conta que ele e Rafaela ouviram barulho de motores de longe e que, em seguida, viram o acidente se desenhando, mas diz que não houve tempo para reação.

Leia mais:
Dono de Audi pagou por 10 cervejas antes de atropelamento no Parcão
EPTC divulga imagens de racha que resultou em atropelamento de casal
Suspeito de atropelar casal estava com direito de dirigir suspenso

– A gente lembra claramente de ouvir um barulho muito alto de motor. Até chamou nossa atenção. Vimos o momento em que o sinal fechou e a colisão do Audi com o táxi. A partir daí, minha memória fica muito confusa por causa do trauma. Foi algo muito rápido. Não deu espaço para reação nenhuma.

Thomaz teve rompimento total dos ligamentos do ombro direito, entorse no tornozelo esquerdo e fratura na mandíbula, entre outros ferimentos no roso. Ele recebeu alta ainda no sábado, mesmo dia do acidente. A namorada, Rafaela, está internada na UTI do Hospital Moinhos de Vento. Segundo familiares, ela teve traumatismo cranioencefálico e tem uma suspeita de fratura na vértebra que está sendo investigada. Leia abaixo a entrevista:

O que você lembra daquela noite? Como foi?

Primeiro saí de casa, chamei um Uber porque a gente estava indo num aniversário e logicamente iríamos consumir bebida alcoólica. Então, para não sair de carro, chamei o Uber, passei na Rafaela e partimos para o Casa Azul (hostel na Cidade Baixa), onde era o aniversário de um amigo nosso. Chegando a hora em que o estabelecimento fechava, fomos todos para a casa de um outro amigo para continuar o aniversário. Por volta de umas 3h30min, decidimos ir embora e dividimos um táxi com um amigo para ir para a casa da Rafa. Descemos na mesma esquina onde aconteceu a colisão do Audi com o táxi, subimos e pegamos o cachorro da Rafa, o Buba, para passear. Descemos e quando estávamos nos preparando para atravessar a rua aconteceu o acidente. A gente lembra claramente de ouvir um barulho muito alto de motor. Até chamou nossa atenção. Vimos o momento em que o sinal fechou e a colisão do Audi com o táxi. A partir daí, minha memória fica muito confusa por causa do trauma. Foi algo muito rápido. Não deu espaço para reação nenhuma.

E depois, você se recorda de alguma coisa?

Desse momento em diante, só lembro de ter acordado no chão, ter ouvido a Rafaela gemendo de muita dor, ter tentado me levantar, perdido a consciência, ter caído de volta no chão e ter acordado dentro do Samu. Depois, são flashes que tive da mãe da Rafaela dizendo que eles estavam ali, que estava tudo bem. Em seguida, lembro do irmão da Rafa, o Tiago, ter ficado comigo dentro da ambulância para eu ser conduzido para o (hospital) Cristo Redentor. Desse trajeto me recordo de ter pedido apenas para ligar para meu primo. Não queria avisar meus pais, deixar eles preocupados, não sabia o que realmente tinha acontecido. Não queria alarmar ninguém sem saber a extensão dos danos, até porque eles não moram em Porto Alegre, moram em Soledade. Minha mãe tem um problema de saúde, um tanto quanto grave... Não lembro da chegada no Cristo Redentor, só de acordar na maca já com os médicos me atendendo. Passei a madrugada lá e por volta do meio-dia fui liberado para voltar para casa.

Você sabia sobre o estado de saúde da Rafaela, como e onde ela estava?

Na verdade, enquanto estava no Cristo Redentor, essa era a minha maior preocupação, porque não fazia a menor ideia da condição dela. Não tinha informação alguma porque eu estava isolado, sendo atendido. O único momento em que tive informações foi quando um médico da família dela pode prestar atendimento a mim também, e aí consegui perguntar como ela estava. Ele falou que estava sendo cuidada, que não corria risco de vida, que tinha sofrido alguns traumas. Mas também não me deu muitas informações. Acho que a intenção dele foi me deixar tranquilo, ainda mais naquele momento.

Como está se sentindo? Quais as lesões que você teve?

Tive rompimento total dos ligamentos do ombro direito, fratura do osso que liga a mandíbula aos dentes, tive uma entorse no tornozelo esquerdo e, ao todo, tive de fazer 50 pontos, entre internos e externos, na boca e no supercílio. Amanhã (nesta quarta-feira) faremos mais uma bateria de exames, tomografia, raio-x, mas vou precisar de uma cirurgia para recompor o ombro e também para recompor a parte facial, bucal. Vou ter de fazer todo um acompanhamento dentário porque essa parte também foi bastante atingida com a fratura.

Como você analisa a situação do acidente?

Caso se comprove que, de fato, ele (o motorista do Audi) havia bebido, que é o que se desenha como lógico, creio que é muito claro que, no momento em que você tem um carro, tem de ter a noção de que pode ser tão ou mais perigoso quanto uma arma. No momento em que se dirige disputando um racha, embriagado, se envolve num acidente e se foge covardemente, sem prestar ajuda alguma, tu estás assumindo e aceitando que podes matar outras pessoas. Não quero me vingar dele, de maneira alguma. Muitas coisas ainda precisam ser provadas, demonstradas... Muitas provas e fatos vão aparecer. Só espero que esse caso sirva, não como vingança, mas como forma de prevenir que casos como esse se repitam. Não são fatos isolados. A gente vê que é uma cultura enraizada que temos na sociedade de que dirigir embriagado é algo aceitável e as pessoas não têm, de fato, uma noção de que isso pode atingir outras pessoas. Claro que estar aqui assim, com esses danos, a Rafaela no hospital, na UTI, ainda sem saber a real dimensão dos traumas, dentro desse contexto todo, a gente teve sorte. A gente poderia facilmente estar morto. Inclusive, logo após o acidente, caí desacordado e me disseram que a Rafaela me chamava e eu não respondia. Ela ficou desesperada porque achou que eu tinha falecido, morrido. Então... Acho que... Perdi o raciocínio.

Você chegou a ver o vídeo da colisão?

Na posição que a gente estava, vimos o acidente se desenhando. Mas não imaginei que ele estivesse naquela velocidade, nem que o choque do Audi com o táxi fosse tão forte. A sensação que fica é que, de fato, a gente escapou com sorte de tudo que aconteceu. Realmente acredito que os danos poderiam ter sido maiores. Acho que ter escapado com apenas algumas cirurgias que vou precisar fazer é algo muito pequeno. Espero que a Rafa também saia dessa de uma forma que todos os danos sejam resolvidos, facilmente solucionados. A sensação é que a gente teve sorte nesse contexto todo. Nada disso aconteceu sem que fosse, de certa forma, previsível. No momento em que tu está alcoolizado e que tu assume o risco de dirigir um carro, tu sabe quais são as chances de alguma coisa dar errado, nem tanto em relação a ti, mas a terceiros. São pessoas que estão completamente desconectadas e que não deveriam ser atingidas. Peço mais consciência a todos quando o assunto for trânsito e álcool. Estamos lidando com vidas de outras pessoas também.

E se o motorista fizesse contato e pedisse desculpas?

Acho que essa questão de perdão não apaga os fatos que aconteceram, as dores, os traumas que teremos de carregar daqui para frente, nem toda a recuperação que a gente vai ter para poder voltar a ter nossa vida trilhada como a gente esperava. Espero que todos os traumas físicos e psicológicos que eu e a Rafa sofremos, e vamos sofrer com certeza, sejam pequenos, não sejam algo que impeça nossa vida decorrer de uma forma normal. Mas não quero vingança, não é isso que eu busco. Espero que isso tudo possa ajudar a prevenir futuros incidentes como esse.

*Zero Hora


MAIS SOBRE

Últimas Notícias