São Leopoldo
Idosa que cuida de quase 70 animais é espancada em assalto e bichos aguardam adoção
Além de ser agredida, mulher teve dinheiro roubado. Ela segue internada enquanto entidades se mobilizam para doar animais
A idade avançada e a humildade da casa onde mora não evitaram que Marina Candida Pereira, de 79 anos, fosse espancada e tivesse R$ 100 roubados na tarde de domingo, em São Leopoldo. Depois da agressão, a idosa foi internada no Hospital Centenário, onde se recupera. Agora, os cerca de 70 animais que vivem sob seus cuidados aguardam adoção.
Marina mora sozinha em uma casa sem luxo no bairro Campestre. Por volta das 13h de domingo, um vizinho, alarmado pela fumaça que saía da residência da idosa, entrou na casa e viu a panela pegando fogo em cima do fogão. Encontrou Marina amarrada no quarto e com ferimentos no rosto. O vizinho chamou a Brigada Militar e o Samu, e Marina foi internada. A 1ª Delegacia de Polícia de São Leopoldo investiga o caso.
A neta Daiane Sperb Seganfredo, de 30 anos, foi ao encontro da avó assim que recebeu a informação de que Marina havia sido agredida. Encontrou, além do lar revirado pelo assalto, a idosa deitada na cama, com ferimentos graves no rosto e um pedaço de pano amarrado no braço, possivelmente usado para detê-la. O Samu já estava no local prestando socorros.
– Não acreditei quando vi. Poxa, uma senhora idosa, para que fazer tanta judiaria? – indignou-se a neta.
Balbuciando, Marina contou à neta que o assaltante era um homem com sotaque alemão, que pedia dinheiro e terminou lhe agredindo. Os R$ 100 eram tudo o que a idosa tinha em casa. Acompanhada da filha Noeli Sperb, mãe de Daiane, Marina segue no hospital, sem previsão de alta.
Os cerca de 70 animais cuidados pela idosa, agora, estão para adoção. Daiane diz que a avó não tem condições financeiras de continuar se dedicando aos gatos e cachorros que, em sua maioria, foram abandonados em frente à casa de Marina.
Dificuldades não a impediram de abrigar os animais
Há 15 anos a idosa tem o hábito de cuidar dos bichos que são largados na sua casa. A própria Secretaria de Proteção Animal de São Leopoldo confirma que a residência é vista pela população como desova de animais.
Vizinhos de Marina, o casal de protetores de animais Bruna Doberstein, de 31 anos, e Luciano Stabel, de 35 anos, prestaram auxílio na época em que ela chegava a manter quase 120 bichos, mesmo com as dificuldades financeiras de quem recebe um salário mínimo como aposentadoria.
Ainda assim, nos últimos meses Marina pagou a um senhor para fazer a limpeza dos canis. Também contraiu dívidas em lojas de produtos agropecuários para manter em dia a alimentação dos animais.
– Ela é um deles. A comida dela é deles. Ela se doa totalmente – diz Bruna.
A Secretaria de Proteção Animal informou que, embora não estejam desnutridos, boa parte dos bichos têm doenças relacionadas às condições do ambiente onde vivem. Na manhã desta terça-feira, dia 3, Bruna e outros protetores limpavam o terreno da casa de Marina e davam de comer aos animais com a ajuda de um funcionário da prefeitura.
– Ela (Marina) cuida deles dentro do possível. Sei que eles não estão bem aqui, mas sei do esforço dela para cuidar dos animais – reforçou a protetora.
Para Luciano, ainda que boa parte dos cães e gatos seja doada, a população ainda verá a casa de Marina como o lugar mais adequado para abandoná-los.
– Enquanto a Marina morar aí, vai haver abandono – opinou.
Ongs promovem feira de adoção no sábado
Mobilizadas para conseguir novos donos para os bichos de Marina, sete ongs envolvidas com a causa animal realizarão uma feira no próximo sábado, dia 7. De acordo com a neta Daiane, Marina ainda não sabe que os bichos serão tirados de sua casa. Quando a avó tomar conhecimento, Daiane pretende contratar um psicólogo para dar apoio à idosa.
– Vai ser bem difícil. É como se a missão dela na Terra fosse cuidar desses bichos – disse.
A feira ocorre no Rua Conceição, no Centro de São Leopoldo, das 9h às 16h. Informações sobre a feira podem ser obtidas pelo telefone (51) 9171-1475. Além de buscarem novos donos, os protetores pedem que a população ofereça ração e lares temporários para abrigar os bichos.