VÍDEO: casal que depositou dinheiro achado na rua se encontra com dono. Veja como foi

Um post despretensioso no Facebook, que mostrou um ato de honestidade, gerou grande repercussão na rede social e fez duas famílias desconhecidas se aproximarem. Na manhã de sábado, dia 23 de abril, um casal encontrou no chão R$ 210, o cartão de um banco e o comprovante de retirada do dinheiro. Sem hesitar, na segunda-feira pela manhã, depositaram o valor encontrado de volta na conta do dono. A atitude, que para o casal deveria ser comum entre as pessoas, surpreendeu e foi bastante elogiada e compartilhada na rede social, especialmente, em um momento de crise econômica como o que o Brasil está enfrentando.

A situação inusitada aconteceu com o motorista José Joaquim de Freitas, 65 anos, e a dona de casa Rosane Lopes de Freitas, 52, quando voltavam do supermercado no Bairro Estância Velha, em Canoas.

– Eu olhei para o chão e vi aquelas notas de R$ 50 e um de R$ 10. Logo, ao lado, tinha um cartão e um comprovante de banco. Mostrei para o meu marido e ele disse pra eu pegar. Me abaixei toda envergonhada, porque não queria que outras pessoas pensassem que a gente ia ficar com o dinheiro. A intenção era ajudar quem tinha perdido – comenta Rosane.

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Eles recolheram tudo e levaram para casa, com a ideia de devolver. Ao chegar na residência, José tratou logo de contar para os filhos o que tinha acontecido.

– Na hora os guris disseram: "vamos olhar o nome certinho no cartão e procurar na internet". Mas eles olharam em tudo que é página e não encontraram o homem. Daí veio a ideia de depositar na conta que aparecia no comprovante – explica o motorista.

Busca no Facebook

Na segunda-feira pela manhã, o filho mais velho do casal, Josias de Freitas, 28 anos, foi depositar o dinheiro em uma lotérica no Shopping Canoas. Josias explicou a situação ao funcionário do caixa e pediu que ele ficasse com o cartão do banco, pois seria mais fácil para o dono encontrá-lo.

– Se eu fosse em uma agência da Caixa facilitaria para a pessoa que perdeu, mas eu tinha que trabalhar, não podia me atrasar. Na lotérica ia ser mais rápido, então, conferi o nome dele e fiz o depósito. O funcionário alertou que, àquela altura, o cartão já deveria ter sido cancelado, mas, ainda assim, preferi deixar lá – relembra.

Porém, mesmo depois de devolver o dinheiro, eles não desistiram de encontrar o dono. Foi, então, que Josias decidiu postar no Facebook o comprovante do depósito com o seguinte apelo:

"Bom dia pessoal, se alguém conhece o sr. Gerson Fernando de Moura, da cidade de Canoas. Avisar que meus pais acharam o seu dinheiro e seu cartão na rua, e acabei de depositar na sua conta o dinheiro e entreguei o seu cartão no banco, se a informação puder chegar até ele fico agradecido."

A conduta da família foi tão admirada e elogiada na rede social que o post do rapaz chegou a 60 mil compartilhamentos e 30 mil curtidas.

– Fiquei apavorado com a repercussão. Achei que a história ia acabar circulando entre as pessoas de Canoas, onde tudo aconteceu. Mas foram comentários de todos os lugares. Em apenas dois dias recebi mais de dois mil convites de amizade no Facebook – conta Josias.

Contato

O Diário Gaúcho conseguiu falar com Gerson Fernando de Moura, 46 anos, que trabalha como comprador em Porto Alegre. Ele relatou como foi aquela segunda-feira em que conseguiu recuperar o dinheiro perdido:

– Eu não tenho redes sociais, mas desde segunda-feira de manhã (25) comecei a receber diversas ligações de amigos e parentes perguntando se era eu a pessoa que havia perdido o cartão e o dinheiro. A dúvida de todos era a mesma: se realmente haviam depositado a quantia na minha conta. Eu logo imaginei que se tratava de uma família do bem e fiquei com vontade de conhecê-los.

Morador do Bairro Guajuviras, em Canoas, Gerson ficou surpreso com a atitude da família do motorista e com a repercussão do caso nas redes sociais:

– As pessoas estão tão acostumadas com a desonestidade que quando acontece algo assim, uma ação honesta, todo mundo se sensibiliza. O que mais me impressionou é que recebi ligações de amigos de outros estados como São Paulo e Paraná.

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Encontro

Quase uma semana depois do episódio, era hora de José conhecer pessoalmente Gerson, e o Diário Gaúcho acompanhou esse encontro marcado pela gratidão. De longe, enquanto a reportagem se aproximava da casa de José com Gerson, a emoção do anfitrião já era visível. Os olhos do motorista brilhavam a cada passo que aproximava os dois.

Quando chegaram perto um do outro nenhuma palavra, apenas um abraço bem apertado. A recepção não podia ser melhor. Já dentro de casa, com mais intimidade, a explicação de um sobre como havia perdido o dinheiro e o cartão, e do outro de como tinha encontrado. A cada frase, uma larga risada. Os dois chegaram a descobrir que têm um amigo em comum. Já dona Rosane, muito tímida e cordial, servia um chá para esquentar os corpos daqueles que já haviam aquecido o coração com tamanha bondade. Durante a conversa, Gerson fala da necessidade de encontrar uma pessoa honesta em um país onde todos estão cansados de tanta impunidade e exemplos negativos.

– É importante mostrar para todos, principalmente para os jovens que estão crescendo só com notícias ruins, imagens e exemplos ruins, para eles perceberem também que existe o lado bom para ser seguido – reflete.

Seu José completa dizendo que sempre ensinou para os filhos que "o que é dos outros, é dos outros".

– Se meu filho vai no armazém e volta com as compras dizendo que faltou R$ 0,05 eu dou a moedinha pra ele e faço levar lá na mesma hora. Sempre digo que não posso mudar o mundo, mas alguma coisinha a gente faz para ajudar – comenta.

Segunda vez

Essa não foi a primeira vez que José de um show de generosidade e honestidade. No começo do ano, ele já havia encontrado uma carteira com documentos e dinheiro. Ele olhou para os lados e não avistou ninguém. Foi até a lotérica pagar uma conta, era para isso que havia saído de casa, e voltou pelo mesmo trajeto para ver se encontrava a pessoa. Decidiu, então, ficar parado no local onde havia achado a carteira. De longe, avistou um senhor empurrando sua bicicleta e olhando para o chão. José pegou a identidade da carteira, olhou a foto e confirmou que se tratava do dono.

– Eu mostrei o documento para ele e o senhor só dizia: "sou eu, é meu, é meu". Achei estranho, porque ele não conversava direito comigo, não respondia as minhas perguntas. Foi aí que eu percebi, pelos sinais, que ele era surdo – relembra.

O motorista entregou o documento para aquele senhor e ele, com cara de tristeza, falou: "e a minha carteira". Nessa hora, José diz que percebeu que se tratava da pessoa certa.

– Quando eu tirei do bolso e entreguei tudo na mão dele o homem não acreditou. Na carteira estava todo o seu salário do mês. Até hoje nos encontramos pelo bairro e ele sempre me faz um sinal de agradecimento – conta, emocionado.

Campanha

Em uma noite recheada de histórias boas, Gerson faz um apelo.

– Gostaria que outras pessoas também contassem seus casos e momentos de honestidade e integridade, para que a gente pudesse fazer uma corrente do bem nesse momento tão crítico do nosso país – propõe Gerson, que enfatiza:

– Quero a ajuda de todos para fazer uma campanha e instituir o dia 25 de abril (data que a família depositou na conta dele o dinheiro) como o Dia do Bom Cidadão.

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